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A EROSPOÉTICA DE HILDA HILST E ANNE SEXTON

Por:   •  11/12/2017  •  Projeto de pesquisa  •  3.117 Palavras (13 Páginas)  •  492 Visualizações

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A Erospoética de Anne Sexton


DELIMITAÇÃO DO TEMA

O século XX foi um período fecundo para a literatura de autoria feminina. Isso se deu por conta da liberdade no processo de criação que originou diversas obras que contestavam não só a forma e a estrutura estética, mas também o conteúdo abordado nos poemas. Assim, as obras de caráter social foram produzidas, e as vozes de grupos marginalizados na época como os homossexuais, as mulheres e os negros surgiam como arma na luta por espaços dentro da literatura.

        Nesse contexto surgiram escritoras como Anne Sexton (1928 - 1974), poetisa norte estadunidense que teve a maioria de suas obras produzidas nas décadas de 1960 e 1970, a qual se deteve em temas relacionados à morte, a loucura, o sexo e principalmente a condição social feminina; essas temáticas foram frequentemente abordadas em seus poemas. Apesar de a sua poesia ter um tom realista, foi no simbolismo que a mesma predominou. Dessa forma, o jogo de metáforas, a dor da existência, o interesse pela mente humana e a loucura fazem parte do estilo da autora que, se utiliza um vocabulário forte, firmando uma posição autônoma dentro dos poemas.

 Sexton começou a escrever por incentivo do psiquiatra e passou a ganhar destaque pela essência poética de suas obras. Ela escreveu 11 livros de poesia e um texto teatral em prosa, porém não há publicada nenhuma tradução de seus livros em língua portuguesa, apenas uma biografia da autora. Apesar de Sexton não ter formação acadêmica, trabalhou como professora em universidades ministrando cursos didáticos sobre a produção de poesias, e participou de uma banda de rock intitulada Her Kind, que musicava os poemas da autora, além disso, escrevia profissionalmente, ou seja, vivia de suas publicações ganhando diversos prêmios literários, inclusive o Pulitzer em 1967, com o livro Live or Die.

Neste sentido, o presente trabalho tem como objetivo analisar os poemas “Us (Nós), “Now (Agora), “Song for a Red Nightgown” (Canção para uma camisola vermelha) e “Knee Song” (Canção do Joelho) todos pertencentes do livro Love Poems (1969), com o intuito de perceber como a escritora descreve o amor erótico, ou seja, a ideia do amor como uma fusão dos corpos para que os seres se tornem apenas um. Nessa obra diferentemente dos seus outros livros, Sexton celebra o corpo, algo que antes era tido como uma prisão, e os sentidos, principalmente aqueles que não são considerados nobres, assim, ela não demonstra o amor em seus poemas apenas de uma forma “pura” como a sociedade esperava que as mulheres escrevessem, mas um que fosse mesclado com o desejo físico, ou seja, envolvendo o interesse pelos sentimentos e a personalidade do ser amado, adicionando o prazer do contato entre os corpos.

Ao assumir temas polêmicos como os supracitados, Anne Sexton foi alvo de críticas, mas também contribuiu para tornar a voz feminina mais forte dentro da literatura. Apesar de não ter se considerado feminista, a escritora abordou diversos temas que contribuíram para o pensamento do movimento. Com base na sua escrita, é possível perceber os diversos papéis assumidos pela poetisa e a maneira pela qual a experiência pessoal influencia seu olhar sobre as mulheres na sociedade contemporânea. Ao falar sobre sexo a autora ajuda a quebrar o paradigma da mulher como musa, como ser de adoração, ela mostra que as mulheres podem amar e sentir o próprio corpo, colaborando assim, para a desconstrução da repressão sexual que é comumente imposta ao sexo feminino.

 JUSTIFICATIVA          

Para as escritoras obterem destaque na poesia erótica foi mais complicado em comparação aos escritores, pois o sexo não é considerado um “assunto para mulheres”, porém sempre fez parte do universo feminino, onde algumas se destacaram ainda na antiguidade como é o caso da poetisa Safo. Também foram escritos alguns manuais de erotologia femininos como o de Astyanassa[1], que imaginou diversas maneiras de se fazer amor compondo um tratado de figuras e poses eróticas. Temos as Cantigas de Amigo, no período medieval, que apesar de serem atribuídas a autores, estão passando por um processo de resgate de autoria mostrando que algumas pertencem às mulheres. Há várias outras escritoras que se destacaram nesse tipo de escrita, que falaram abertamente sobre sexo e desafiaram os costumes assumindo um papel ativo, cortejando o amado.

Anne Sexton compõe esse grupo e pesar de ser um nome renomado da literatura norte-americana, ainda é pouco estudada no território brasileiro. Como não há livros dela publicados em língua portuguesa, dificulta a popularização da obra, portanto, é escasso o número de pesquisas sobre a escritora e os poucos trabalhos que existem são com foco na representação feminina ou no confessionalismo[2], assim, é inexistente uma pesquisa sobre o erotismo na poesia dessa autora. A escritora foi alvo de críticas ásperas por escrever sobre os domínios de Eros, porém foi um marco na tradição literária feminina, pois com seu estilo singular, celebrou o corpo, que frequentemente era visto como espaço de dominação masculina, e cortejou o amado, algo pouco comum já que esse seria um papel do homem. Sexton não utilizou uma escrita obscena, mas transgrediu todos os padrões tradicionais “femininos” unindo-o ao amor espiritual o amor carnal.

Mesmo com toda a repressão sexual que as mulheres sofreram na literatura, elas escreveram textos eróticos de qualidade, o que justifica o estudo sobre o erotismo na obra de Anne Sexton tendo sua relevância não apenas para o fortalecimento da tradição literária feminina, mas para enriquecer os estudos sobre gênero, pois é possível analisarmos o sentimento erótico, assim como o corpo a partir da visão feminina, com outras experiências e novas maneiras de vivenciar. Espera-se com essa pesquisa contribuir para os estudos sobre a poesia de Anne Sexton, que ainda é timidamente explorada, mas que é referência devido ao seu estilo de escrita confessional, seu forte teor erótico e um papel ativo e autônomo dentro dos poemas.

Se a literatura assim como as outras obras de arte pode interferir na ordem social, ter personagens criadas a partir de uma visão feminina contribui para o empoderamento das mulheres já que a exposição de personagens fortes, independentes e donas das próprias histórias, capazes de enfrentar desafios ou desejar sexualmente podem criar um espaço de permissão diminuindo o peso das convenções sociais.

PROBLEMA DE PESQUISA

De acordo com Zolin (2009), o texto literário tornou-se uma preocupação, devido à representação das personagens tradicionalmente construídas, pois elas disseminavam estereótipos que formavam o “ideal”, que em tudo as mulheres deveriam ser submissas, dependentes econômica e psicologicamente do homem, reduplicando o estereótipo patriarcal, dessa forma, as mulheres passam a ser engendradas como sendo conscientes de sua condição de inferioridade.  

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