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A Formação Indenitária Do Sujeito Silenciado Em Antes De Nascer O Mundo De Mia Couto

Por:   •  23/5/2024  •  Artigo  •  4.711 Palavras (19 Páginas)  •  20 Visualizações

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A formação identitária do sujeito silenciado em Antes de Nascer o Mundo de Mia Couto.

RESUMO

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Palavras – chave: Antes de Nascer o Mundo, Pós colonialismo, Identidade, Silenciamento.

INTRODUÇÃO

          Ao refletirmos sobre as relações de colonialismo estabelecidas entre os colonizadores/opressores e colonizados/oprimidos, nos remetemos à violência imposta aos colonizados e, principalmente, à introjeção da visão de mundo do opressor pelos dominados como universal e de forma naturalizada. Apesar da relação de colonização estebelecer-se mascarada por um caráter civilizatório, sabemos que se perpetuou como relação desigual entre os dois polos. Destarte, o colonialismo enquanto relação desigual perpetua-se também após o advento das independências, no período pós-colonial, em todas as colônias portuguesas.

          O termo pós-colonialismo nos sugere, numa perspectiva temporal, aquilo que vem depois do colonialismo. Podemos supor, a partir dessa concepção, que o colonialismo teve um fim enquanto relação de dominação. Sabemos, porém, que o fim do colonialismo não representou o fim das relações de poder discriminatórias desenvolvidas no seio das sociedades pós-coloniais. Como afirma Stuart Hall (2003, p. 56),

[...] o “pós-colonial” não sinaliza uma simples sucessão cronológica do tipo antes/depois. O movimento que vai da colonização aos tempos pós-coloniais não implica que os problemas do colonialismo foram resolvidos ou sucedidos por uma época livre de conflitos. Ao contrário, o “pós colonial” marca a passagem de uma configuração ou conjuntura histórica de poder para outra. [...] No passado, eram articuladas como relações desiguais de poder e exploração entre as sociedades colonizadoras e as colonizadas. Atualmente, essas relações são deslocadas e reencenadas como lutas entre forças sociais [...] no interior da sociedade descolonizada, ou entre ela e o sistema global como um todo.

          Referenciando-nos no excerto acima, é possível notar que o pós, apesar de ser um depois, vai além do colonialismo, já que as teorias pós-coloniais se fundamentam numa atividade de contestação e leitura crítica do legado colonial. Como forma de inserção da teoria, faremos uma análise da obra Antes de Nascer o Mundo, de Mia Couto, narrativa que transborda valores pós-coloniais e patriarcais. A obra, originalmente intitulada como Jerusalém narra a história do recém viúvo Silvestre Vitalício, que  movido pelas circunstâncias brutais que cercaram a morte de sua bela e infeliz esposa, Dordalma, toma para si a missão de fazer desaparecer da face da terra o homem, os animais, o mundo enfim, colocando em prática o mito bíblico ele se muda com os dois filhos e um empregado para um acampamento abandonado no meio da savana moçambicana.

          Para analisar a obra em questão, faremos um paralelo entre as teorias pós coloniais citadas anteriormente, haja vista o cenário contextual da narrativa, a guerra civil moçambicana, e a conduta de silenciamento dos personagens inseridos no texto, silenciados pela circunstancia do luto, pelas marcas do contexto social vivenciado e silenciados pelo hábito de não falar, de se expressar, ou de se impor. Para tanto, é essencial utilizar a teórica Spivak, como forma de referenciar uma análise deste silenciamento, Hall para dar luz aos fundamentos de formação identitária, Bahri, Almeida e Hollanda como referência analítica às questões inerentes ao silenciamento da mulher do contexto pós-colonial, além de alguns títulos inerentes a fortuna crítica dos autores citados, como referência ao silenciamento da infância.

O SILENCIAMENTO E A FORMAÇÃO IDENTITÁRIA

          Mia Couto, autor e biólogo moçambicano, possui uma extensa e diversificada produção literária, ganhador do prêmio Neustadt, tido como o Nobel Americano publicou a obra Antes de nascer o mundo em 2009, originalmente intitulada como Jerusalém, tem sua narrativa construída a partir da percepção do garoto Mwanito, que chegou às terras de Jerusalém aos três anos de idade, o garoto que se auto denominava “afinador de silêncios” conhecia somente cinco pessoas

A humanidade era eu, meu pai, meu irmão Ntunzi e Zacarias Kalash, nosso serviçal que, conforme verão, nem presença tinha. E mais nenhum ninguém. Ou quase nenhum. Para dizer a verdade, esqueci-me de dois semi habitantes: a jumenta Jezibela, tão humana que afogava os devaneios sexuais de meu velho pai. E também não referi o meu Tio Aproximado. Esse parente vale uma menção: porque ele não vivia conosco no acampamento. (p.12)

          O silêncio dos personagens da narrativa é estridente até para nós, leitores, que a principio temos acesso apenas a percepção de uma criança, que incentivada pelo pai exerce a função de “afinador de silêncios com perfeição: “Este é o silêncio mais bonito que escutei até hoje, Lhe agradeço, Mwanito.” (p.14). Tais hábitos levantam questionamentos válidos: porque o silêncio era valorizado pelo pai do garoto? Porque ele faz isso tão bem? E como se faz um “bom silêncio”? Que marcas são deixadas nessa criança a partir desse hábito? A narrativa deixa em aberto a resposta para todos esses questionamentos, mas fica evidente que a identidade desses personagens é fortemente marcada pelo silenciamento.

          Em um dos textos mais importantes dos estudos pós coloniais do século XX, Pode o subalterno falar? da professora e pesquisadora indiana Gayatri Chakravorty Spivak, a teórica problematiza a representação do sujeito do Terceiro Mundo no discurso ocidental, além de sugerir a descentralização desse sujeito, Spivak (2010) faz referência a tais problemáticas como violência epistêmica, exemplificando tal ato a partir da construção do sujeito colonial como o “Outro”. Cuja tática de neutralização deste sujeito, seja ele subalterno ou colonizado consiste em invizibilizá-lo, o deixando excluído de qualquer possibilidade de representação, silenciando-o.

          Contextualizando a obra aqui analisada a partir da teoria de Spivak, observamos alguns aspectos de essencial análise: Silvestre era a nítida figura de um homem bruto, isento de qualquer sentimentalismo evidente. Motivado por um forte trauma, foge do ambiente traumático e constitui um mundo paralelo sob forte desvio de sanidade, batiza todos os 5 moradores com outros nomes e se auto institui como autoridade, se tornando opressor, violento e impositor, até mesmo para com os filhos, privados de aprendizados básicos, como ler e escrever, e ter contato com coisas naturais, como a figura feminina, uma das percepções de Mwanito é a de que “quem viveu pregado a um só chão não sabe sonhar com outros lugares” (p.24). A partir disso, podemos considerar Silvestre como uma espécie de colonizador, e os demais moradores de Jerusalém os colonizados?

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