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A fragmentação do ser humano no mundo contemporâneo

Por:   •  4/7/2017  •  Trabalho acadêmico  •  3.672 Palavras (15 Páginas)  •  528 Visualizações

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Aluno: Guilherme Themistocles Azevedo Neto

Professora: Cláudia Amorim

Disciplina: Literatura Portuguesa VI

Título: A fragmentação do ser humano no mundo contemporâneo

Tipo do trabalho: Resenha Monográfica

Rio de Janeiro

2016

A fragmentação do ser humano no mundo contemporâneo

O conceito de fragmentação pode ser analisado de várias maneiras, entretanto iremos nos atentar ao contexto histórico do surgimento do espaço urbano e suas profundas transformações ao longo dos tempos para analisarmos como o homem reagiu a tais mudanças. Para isso, iremos contextualizar, primeiramente, Brasil e Portugal, unidos nesse processo da procura por uma identidade. De um lado, um país vindo de um processo de independência, buscando seu espaço e do outro um país parado na saudade de um tempo que não volta mais e perdido em um período de grandes transformações.

O século XIX é considerado como um período de transição, marcado por guerras, revoluções, mudanças profundas no campo artístico, social, econômico. Vários avanços tecnológicos e desenvolvimentos em vários campos de produção foram notados.  Um dos campos do saber mais envolvidos nessas mudanças foi a literatura, campo da reflexão acerca das transformações ocorridas e que vai refletir sobre essa modernidade, que vai provocar uma ebulição no homem a partir daquele momento, principalmente o homem citadino, fragmentado em si mesmo e perdido em suas convicções.

Na literatura, a cidade é tomada como lugar da felicidade no século XIX. Há uma mistura de fascínio aliada a uma melancolia, uma desconfiança de que o espaço urbano, local tão procurado pelo ser humano e fonte de desejos para um trabalho melhor, uma vida melhor, seja tudo uma ilusão, uma quebra de expectativa. Naquela época, havia na literatura uma distinção entre o homem citadino, considerado um corrompido, um viciado, um homem, e o homem bom, o homem romântico, natural, o homem abordado no Romantismo, estilo de época em voga na época.

A partir do século XIX o espaço público e, consequentemente, o espaço urbano ganham força, notoriedade com o surgimento do teatro, do café, bares, centros comerciais de uma vida pública, uma agitação que irá provocar o desassossego do homem contemporâneo, principalmente a partir do surgimento dos shoppings. É o contexto de civilização que surge a partir do século XIX, que vai ser a origem do que conhecemos e vivemos hoje no mundo contemporâneo.  Os poetas irão mostrar como o sujeito está perdido dentro de si mesmo, fragmentado nesse espaço urbano, temeroso do seu destino.

Nesse contexto, Portugal se sente perdido e isolado de si mesmo. Esse isolamento é apontado pelos poetas e críticos, temerosos de que o país não se enquadre em um novo contexto socioeconômico, marcado pela Revolução Industrial e pelo sistema capitalista de produção. No século XIX, havia a consciência no país, de que Portugal era a periferia da Europa. Os escritores da chamada Geração de 65 (Antero, Eça) defendiam um progresso no país. Portugal corre atrás dessa modernidade, mas não consegue alcançá-la porque perdeu sua identidade desde a época das Grandes Navegações, época essa de domínio e conquistas lusitanas. Eça de Queirós, escritor dessa geração, em “A Cidade e as Serras”, vai tentar resgatar esse Portugal autêntico através de uma visão do interior do país, contrastando com Paris, a cidade que respirava a modernidade.

Assim como Benjamin, Fernando Pessoa e outros autores, Eça aborda a ilusão do progresso na cidade e a desilusão do espaço urbano, durante a obra “A Cidade e as Serras”, seu último livro, publico em 1901. Nessa obra, através da figura de Jacinto, Eça contrasta o campo português e a modernidade de Paris, síntese da cidade moderna naquele período, com um desenvolvimento aliado a tecnologia crescente. Eça critica essa modernidade das máquinas, mostrando que a felicidade está dentro do indivíduo e não pela tecnologia da cidade grande. Eça acaba criticando tanto a cidade, vista como progresso e local da felicidade, e o campo visto como algo bucólico, saudosista por um Portugal vencedor dos tempos de Dom Sebastião. Eça defendia um equilíbrio entre o campo, das tradições portuguesas e a cidade, em que a tecnologia estava em voga.

A fragmentação do homem moderno com a modernidade, a tecnologia e o desenvolvimento desenfreado vai acarretar em uma produção artística inquietante por parte de escritores, poetas, pintores. Assim, a arte vai estar envolvida diretamente e vai ser o reflexo de uma sociedade perdida e de um ser humano perdido em um espaço urbano que não para de crescer a sua volta, principalmente nos grandes cidades urbanos como Paris e Londres. Nesse sentido, Walter Benjamin é um dos principais pensadores sobre o período e tenta compreender a Paris que começa a surgir, uma cidade que respira modernidade, com o surgimento do ônibus, trem, as galerias, que darão origem aos shoppings centers do contemporâneo. Uma cidade que não para de crescer, enquanto o ser humano tenta compreender o que está acontecendo e se compreender.

O contexto moderno da cidade passa a se modificar profundamente e, consequentemente, o homem que nela vive e que se sente perdido nessa situação. O homem passa a trabalhar mais e a viver sem parar nessa situação de crescimento econômico e de mudanças estruturais na cidade. O controle é cada vez maior em cima dos trabalhadores, com uma disciplina, vigilância cada vez maior em cima dos trabalhadores em especial e sobre a sociedade como um todo. Foucault, filósofo e crítico literário do século XX, na sua obra “Vigiar e Punir”, critica esse amplo controle social das instituições através das chamadas sociedades disciplinares, como escolas e fábricas que moldavam o ser humano a sua vontade, “disciplinando-os”, controlando seus comportamentos e fazendo-os trabalhar de maneira automatizada.

Atrelado a esse novo cenário urbano que vai se delineando, surge um novo perfil de sujeito moderno que é o flâneur, termo desenvolvido por Charles Baudelaire, que via o sujeito como alguém que anda pela cidade a fim de observá-la atentamente. Nada escapa ao olhar dele. Entretanto, o objetivo não é sentir tudo, como Álvaro de Campos, que queria sentir tudo, viver tudo. Era um insaciável. O flâneur não. Ele é um viajante, um turista mais envolvido com aquela cidade do que o turista tradicional, um observador do espaço urbano. Ele caminhava, observava e imaginava em um contexto tão dinâmico como é o contexto da cidade. Isso pode ser entendido até como uma crítica de Baudelaire a um período, em que o sujeito não consegue parar para observar nada, algo ainda mais explícito no mundo contemporâneo.

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