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ALGUNS ELEMENTOS QUE REFORÇAM A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Por:   •  23/10/2022  •  Artigo  •  2.057 Palavras (9 Páginas)  •  81 Visualizações

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ALGUNS ELEMENTOS QUE REFORÇAM A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Wilson Monteiro[1]

RESUMO

Este trabalho tem o objetivo de apresentar alguns elementos que reforçam a importância da literatura na formação do indivíduo e para a educação básica a partir da leitura e análise do ensaio “O direito à literatura” elaborado por Antônio Candido (CANDIDO, 1995). Para isso, primeiramente apresentamos um breve relato da obra em questão, em seguida, expomos alguns resultados de nossas reflexões sobre determinados elementos que selecionamos e que julgamos relevantes. Através dessas reflexões foi possível identificar as possíveis potencialidades pedagógicas da literatura no processo de ensino e de aprendizagem da linguagem.

Palavras-chave: Literatura; Educação básica; Língua Portuguesa.

Introdução

Este pequeno texto apresenta algumas reflexões sobre o ensaio “O direito à literatura” elaborado por Antônio Candido a pedido do curso de direito da Universidade Mackenzie em São Paulo. O tema do ensaio foi direitos humanos, perpassando pela questão da arte e da literatura como um direito fundamental para o processo de humanização. Um dos objetivos que pretendemos alcançar ao discorrer sobre “O direito à literatura” é buscar alguns elementos da obra que reforçam a importância da literatura no processo de ensino e de aprendizagem da linguagem.

O ensaio de Antonio Candido: um breve relato

Antonio Candido (1918-2017) estudou até o quinto período do curso de Direito na Faculdade de Direito do Largo São Francisco da Universidade de São Paulo (USP). Formou-se em Ciências Sociais na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da mesma universidade. Foi professor, ensaísta, escritor e um grande crítico literário, ganhando enorme destaque nos estudos literários do Brasil (FRAZÃO, 2019).

No início de seu ensaio “O direito à literatura”, Antonio Candido aponta que o progresso da humanidade oferece grande conforto nunca imaginado, porém, ao mesmo tempo, exclui grande parte das pessoas do seu desfrute, sendo essa maioria condenado à miséria. Junta-se a esse contexto, segundo o autor, a consciência generalizada de que essa discrepância é insuportável e pode ser atenuada ao levarmos em consideração todos os recursos à disposição da sociedade atual. Vale ressaltar que nesse cenário encontram-se aqueles que buscam concretizar tal objetivo, defendendo e ampliando as discussões referentes aos temas dos direitos humanos.

A partir dessas reflexões, Antonio Candido apresenta o seguinte postulado no qual parece ser a essência das questões dos direitos humanos “reconhecer que aquilo que consideramos indispensável para nós é também indispensável para o próximo” (CANDIDO, 1995, p. 174). Acrescenta-se, ainda, no ensaio, a discussão de dois conceitos do sociólogo Louis-Joseph Lebret (1897- 1966) que parece se relacionarem com o tema, a saber, (i) bens compressíveis e (ii) bens incompressíveis.

Bens compressíveis são aqueles que são dispensáveis, por exemplo, os enfeites, as roupas extras e os cosméticos. Já os bens incompressíveis são tudo aquilo os quais representam necessidades básicas do ser humano, por exemplo, a moradia, a saúde, a alimentação e o vestiário. Refletindo sobre essa distinção, Antonio Candido aponta que os critérios de incompressibilidade são construídos e essa construção está associada às questões históricas e sociais. O autor aproveita para destacar que as lutas pelos direitos humanos devem levar em consideração tais reflexões e que a arte e a literatura devem fazer parte dos bens incompressíveis. Nesse momento, ele lança o seguinte questionamento: a literatura seria um bem indispensável ao ser humano?

Para discutir tal provocação, Antonio Candido destaca que literatura são todas as criações escritas que apresentam um toque poético, ficcional ou dramático, sendo nitidamente uma “manifestação universal de todos os homens em todos os tempos” (CANDIDO, 1995, p. 176). Acrescenta, ainda, que faz parte da natureza do ser humano criar e beber dessas fontes, ou seja, todos nós necessitamos de momentos de fabulação. Dessa maneira, segundo o autor, considerando os elementos da literatura no sentido mais amplo, podemos perceber que ela parece satisfazer essas necessidades, tornando-se assim, um bem incompressível.

Outro ponto discutido no ensaio e que merece destaque é a importância tanto da literatura sancionada quanto da literatura proscrita. Essa afirmação se justifica, segundo o autor, a partir do momento em que os valores presentes nas obras literárias, tanto os aceitos quanto os rejeitados pela sociedade, criam uma atmosfera em que o leitor possa refletir dialeticamente determinados problemas. Diante dessa discussão, Antonio Candido apresenta três aspectos da literatura, a saber, (i) objeto construído, (ii) forma de expressão e (iii) forma de conhecimento. Ele destaca que normalmente dá-se atenção somente para o terceiro aspecto, ou seja, a literatura transmite determinadas formas de conhecimento. Porém, segundo o autor, a obra literária se constitui graças a atuação simultânea dos três aspectos, principalmente pela maneira como é construída.

Quando Antonio Candido retoma o primeiro aspecto ele chama a nossa atenção para a organização das palavras, como elas são dispostas para montar um discurso com determinada coerência. Isso, segundo o autor, conduz o leitor a ordenar seu próprio pensamento, seu próprio sentimento, consequentemente, estruturando a sua visão de mundo.

Em relação ao segundo aspecto, no ensaio em questão é destacado que a mensagem chega ao leitor devido a sua forma, porque as palavras estão estruturadas, construindo, assim, um determinado sentido. Vale destacar que a forma parece modificar o caos originário, ou seja, parece transformar o material inicial que o produtor selecionou em uma ordem, dessa maneira, cria condições necessárias para que o discurso atue no caos interior do receptor, ordenando-o, consequentemente, permitindo que a mensagem impressione o leitor. Além disso, no ensaio em questão é destacado que a forma, em algumas circunstâncias, parece ampliar a capacidade do leitor em perceber e sentir a mensagem que obra literária transmite.

Em relação ao conhecimento, Antonio Candido intitula conhecimento latente os elementos da obra literária que organizam as emoções e visão de mundo, de conhecimento intencional os elementos que o produtor estrutura de maneira proposital e que o receptor assimila conscientemente. Vale ressaltar que são nos níveis de conhecimento intencional que o produtor insere suas intenções, ideologia, crenças, posições éticas, políticas etc., assumindo um posicionamento perante um problema, por exemplo, preocupação com as questões dos direitos humanos.

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