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AS (RE) ENTRÂNCIAS EM AS CISMAS DO DESTINO

Por:   •  28/3/2019  •  Artigo  •  3.168 Palavras (13 Páginas)  •  185 Visualizações

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(RE) ENTRÂNCIAS EM AS CISMAS DO DESTINO

Frankilson Carvalho da Silva (CESC-UEMA)

Valdinete Vieira dos Santos (CESC-UEMA)

Resumo: Trata-se de um estudo das questões de cunho filosófico no poema As Cismas do Destino na obra Eu, de Augusto dos Anjos. Nele o poeta, transitando pelas várias reflexões filosóficas, ao deparar-se com a própria sombra, cria sentidos acerca do mundo sobre o próprio destino. O poema almeja uma significação do seu próprio eu, indivíduo que atacado pelas sensações do mundo começa a refletir e provocar nele mesmo as sensações que o mundo apresenta. Para contextualizar, o estudo associa-se a obra O Viajante e Sua Sombra de Nietzsche no qual as questões filosóficas são evidenciadas, monitoradas por uma sombra - poetisa, filósofa e observadora.

Palavras-chave: Reflexões filosóficas / (re) entrâncias / Eu-Sombra

Abstract: This is a study of the philosophical issues in the poem As Cismas do Destino in work Eu, of Augusto dos Anjos. In it the poet, passing through the various philosophical reflections, when faced with his own shadow, creating meanings about the world on their own destiny. The poem aims a meaning of its own self, the individual who attacked by the sensations of the world begins to reflect on itself and cause the sensation that the world presents. To contextualize the study is associated with the work O Viajante e Sua Sombra  of Nietzsche in which philosophical issues are observed, monitored by a shadow - poet, philosopher and observer.

Keywords: Philosophical Reflections / (re) indentation / I-Shadow

O poema As cimas do destino presente na obra Eu, única obra de Augusto dos Anjos, publicada pela primeira vez em 1912, poeta cuja definição de escola literária é imprecisa (CARPEUX, 1964; MOISÉS, 1993,1984, 1966; BOSI [s. d]), trata das questões filosóficas na qual o eu-lírico começa uma reflexão acerca dos acontecimentos que desencadeiam a vida humana. O rigor literário de Augusto dos Anjos provém da transição de período no âmbito tanto político, cultural, literário quanto filosófico ocorrido no final do século XIX e início do século XX, ou seja, do racionalismo ao materialismo e posteriormente o positivismo, este último movido pela ciência que buscava responder a muitas questões filosóficas. Esse período transitório reflete no poeta a dualidade imanente entre o filosófico e o científico, o que faz configurar em lirismo a sua angústia, o pessimismo, a negação de si mesmo e de Deus (ideias ornamentadas na maioria de seus poemas), porém, como uma condição humana subordinada pelo pensamento filosófico vigente daquele século.

O artigo busca estabelecer um paralelo, em termos de reflexão filosófica, entre a obra A Sombra e o Viajante de Nietzsche e o poema As cismas do destino, presente na obra EU, de Augusto dos Anjos. Um alemão e um brasileiro (paraibano); um filósofo e um poeta; pontos em comum? Uma escrita de caráter libertário abordando elementos como a sombra, a morte, o pensamento e as questões universais, trajetos teórico e filosófico que o acompanham no espaço temporal comum designado “noite” em que as interpretações do mundo despertam-se numa luta contra a moral da autorrenúncia.  A partir do poema de Augusto dos Anjos e da obra nietzschiana em que o elemento comum (presente nas reflexões filosóficas) é a sombra, tanto no poema de Augusto dos Anjos quanto na obra de Nietzsche, as (re) entrâncias serão apresentadas sobre os aspectos filosófico-literários, próprios de situações apresentadas nas obras dos autores. Segundo Moisés (1984:245) “o poeta das antíteses por lhe faltar uma crença religiosa, filosófica ou científica nietzscheanamente oscila entre a sedução do mundo apolíneo e a atração dionisíaca da realidade viva”, circundado pelos ares dimensionais de As Cismas do Destino. Essa possibilidade convergente desses autores traz a lume à característica transcendente da viajem/trilha compartilhando com o leitor as ações cotidianas do homem e o que a consequente morte traz tanto em As cismas do destino de Augusto dos Anjos quanto em O viajante e sua sombra de Friedrich Nietzsche, inexoráveis escritores.

As (re) entrâncias partem do perfil de um poeta filosofante onde sua poesia converge à filosofia de Nietzsche. No poema, a noite é que orna as ações provocando as reações horrendas no eu-lírico, observador sutil diante da realidade catastrófica. Em O Viajante e Sua Sombra também há um observador-viajante que desvenda o mundo interior do homem, apresentando suas angústias, as verdades inerentes (subsistentes) ao mundo exterior, questionando os erros e acertos da humanidade. O primeiro no espaço físico e concreto, a ponte, e no outro uma trilha subjetiva do pensamento e visão de mundo exterior e interior sempre “monitorado por uma sombra - poetisa, filósofa, observadora - sombra que é dele, sem o ser, que personifica a luz, sem o ser, que se desfaz nas penumbras para descansar e refletir” (NIETZSCHE, 2007:07). A sombra é personificada em Nietzsche como a companheira, a poetiza, a observadora e seguidora do observador-viajante. No poema As Cismas do Destino, a sombra é o reflexo do eu-lírico que se move no mesmo espaço/tempo preenchendo toda a extensão da ponte: “Lembro-me bem. A ponte era comprida, / E a minha sombra enorme enchia a ponte” [...] (Anjos, 2044, 43).

Como podemos observar nas passagens: “Imediatamente ao lado dos homens realmente poderosos se encontra geralmente, como ligada a eles, uma alma de luz. [...]” (NIETZSCHE, 2007, p. 122), ou seja, uma sombra que personificada ganha status de real. Nesta passagem de As cismas do destino, em que o poeta discorre: “Recife. Ponte Buarque de Macedo. / Eu, indo em direção à casa do Agra,  / Assombrado com a minha sombra magra, / Pensava no Destino, e tinha medo! [...]” (ANJOS, 2004, p. 43). Nesta passagem a sombra não vem a personificar-se, mas adjacente às reflexões do poeta sobre a realidade que o circunda.

O lirismo poético neste poema As cismas do destino permeia inquietantes reflexões acerca da explicação da vida e/ou morte onde o eu-lírico contempla a paisagem noturna e ao mesmo tempo é temido pelo seu destino obscuro que aos poucos vai se revelando num cenário temporal apavorante que o cerca. Diante do que ver expira toda sua esperança à realidade cotidiana vai sendo exposta em consonância a construção das reflexões que permeiam toda a construção das realidades presentes. No poema o poeta tem interesse pela expressão do espaço em que as misérias sociais, fisiológicas, patológicas e genéticas apresentam-se inacessíveis aos olhos da sociedade, uma decorrência de sua própria visão filosófica. Prefere filosofar sobre o refúgio, a reentrância dos acontecimentos, o ambiente não tocável, a noite, os lugares insólitos ao homem comum, ou seja, sobre os ambientes impalpáveis.

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