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Análise do poemo "O sol em Pernambuco"

Por:   •  6/12/2018  •  Trabalho acadêmico  •  2.457 Palavras (10 Páginas)  •  366 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

DISCIPLINA: Tópicos da Literatura Brasileira do Século XX–Ano 2014/Semestre 2

PROFESSOR: Waltencir Alves de Oliveira

WILLIAM JOSÉ HASS ZANONI

ANÁLISE DO POEMA

“O SOL EM PERNAMBUCO”

Trabalho apresentado ao apresentado ao curso de Letras do Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná.

.

Curitiba, PR

2014

  1. Apresentação

        O poema “O Sol em Pernambuco” foi publicado em 1966 no livro A Educação pela Pedra. Este livro é um primor em termos de construção, pois seus poemas organizam-se de maneira sistemática de modo que uma leitura do todo da obra é exponencialmente mais rica do que uma leitura de um poema singular. Podemos exemplificar isso usando as palavras de Marta Peixoto:

Dentre as 48 peças do volume, encontram-se oito pares de composições emparelhadas: poemas ligados por títulos análogos e por alguns versos em comum. A primeira edição organiza os poemas por uma dupla subdivisão, também com base no número 2: 4 seções, cada qual com 12 poemas, rotulados A, B, a, b. ( As seções rotuladas A ou a incluem apenas poemas com temas nordestinos; os poemas B e b possuem temas variados. As maiúsculas indicam os poemas mais longos, e as minúsculas, os mais curtos)[1]

Nesse sentido, percebemos que partir de início de uma análise do poema em si pode empobrecer a leitura dele. Por isso, iremos primeiramente apresentar elementos gerais da obra Educação pela Pedra para somente depois analisar o poema “O Sol em Pernambuco”.

        Em A Educação pela Pedra, há a “recrudescência da agressividade numa poesia que toma como modelo a presença sólida da pedra, sua presença, sua autossuficiência e seu golpe, palavras que se atirem como se atiram pedras”[2].  Para Antônio Carlos Secchin[3], o título da obra traz à tona três tendências do Cabral de Melo, concentradas num só sintagma:

a) o veio pedagógico de sua poesia – educação – como proposta de modelos éticos/estéticos de apropriação do real;

b) a ênfase no nome concreto – pedra;

c) o desejo de que as “lições” do real emanem de processos localizáveis nas próprias coisas, e não dos investimentos apriorísticos da subjetividade.

Sendo assim, os poemas dessa obra apresentam um tom fortemente didático, apresentando um modelo de educação através da pedra, que ensina por meio da recrudescência da agressividade.

        De acordo com Secchin[4], nas seções ou partes minúsculas, os poemas têm 16 versos; nas maiúsculas, 24. Além disso, afirma que em “a” e “A”, os temas são pernambucanos; em “B” e “b”, variados. Com relação a rima em “A” e “a”, assevera que elas comparecem toantes nos versos pares, tendo esquema bastante diversificado  nas partes finais.

        Feita essa primeira aproximação de cunho formal, passamos agora a uma análise substantiva da obra. Para Escorel[5], na obra cabralina, estão presentes expressões oníricas e de suas vinculações à imago[6] materna, uma dialética heraclitiana entre o mineral, seco e sólido, que não se deteriora nem flutua, e a matéria viva e evanescente, que flui e apodrece. Para esse mesmo autor, há na obra cabralina uma dialética

entre o sol que, na sua ambivalência, transmite calor e vida, mas, também, levado ao seu grau mais extremo, purifica e esteriliza como o fogo, e a água impura e estagnada, que gera a inquietação mórbida do sonho e transmite ao ser humano, que a sente fluir, não apenas fora mas dentro de si próprio, o sentimento de sua inconsistência e transitoriedade.

Dadas essas oposições, temos como principais elementos representativos delas a pedra (obviamente), a água e o sol (fogo e luz).

        Para C.G. Jung[7], a “pedra simboliza a existência pura e simples na sua realidade mais distante das emoções, sentimentos, fantasias e do pensamento discursivo do eu-consciente”. Além disso, para Von Franz[8], “a pedra simboliza o que constitui talvez a experiência humana mais simples e mais profunda: a experiência que o homem pode ter de algo eterno naqueles momentos em se sente imortal e inalterável”. Sendo assim, Escorel conclui que

a pedra representa, de um lado, todo o ideal (cabralino) de contenção emocional, de perfeição geométrica, de lucidez intelectual, de ordem e paz; mas é, também, símbolo de ascese e esterilização afetiva, mecanismo de defesa contra tudo o que de irracional, de mórbido e de caótico ameaça emergir do seu abismo interior.[9]

        Em relação a água, Modesto Carone Netto[10] afirma que a presença simultânea de água e pedra nos poemas de João Cabral acaba, em certos momentos, passando à primeira qualidades da segunda. Para Carone,

esse processo de contaminação aponta para a polaridade que se trava entre os dois elementos, pois um só adquire pelo sentido diante do outro: o seco só se entende por oposição ao úmido.[11]

        Por fim, o sol é outra das metáforas obsessivas em Cabral. De acordo com Lauro Escorel, o símbolo do sol merece ser destacado aqui pela sugestividade do mito solar. De acordo com esse autor,

o sol, 'pai visível do mundo', identificado com o intelecto, começa a ser venerado com símbolo de lucidez e esterilização emocional, a partir do momento em que o espírito do poeta se desprende do mundo onírico e busca no ensolarado meio-dia do deserto a inteligência pura, luzindo no máximo do seu esplendor consciente.[12]

Sendo assim, o sol é um guia intelectual, o símbolo de um inteligência maior e pura, é a representação da contenção emocional do poeta. No entanto, Jung[13] observa que “o sol, devido à sua natureza dual, tanto pode criar como destruir, servindo, por isso mesmo, para representar a força impulsora de nossa alma, a libido, cuja essência consiste em produzir o útil e o nocivo, o bom e o mau”.

        Além dos três elementos apresentados até agora, é mister falar das espirais presentes na Educação pela Pedra. De acordo com Jung, a espiral representa “o processo psíquico mediante o qual a consciência, na sua ânsia de restaurar uma ordem previamente existente ou de dar expressão e forma a algo de novo e único, realiza um movimento progressivo ascendente retornando repetidamente, embora em nível mais alto, ao mesmo ponto”[14]. Para Escorel, “em cada círculo, o poeta toma e retoma a exploração de cada imagem, definindo o seu grau de expressividade em função do seu estado anímico.

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