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Cegos para rostos

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Por:   •  10/9/2013  •  Resenha  •  608 Palavras (3 Páginas)  •  589 Visualizações

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Cegos para rostos

Quando Alice se despediu do ovo antropomórfico Humpty Dumpty em Alice Através do Espelho, ele lamentou: "Não vou reconhecê-la se nos virmos de novo. Seu rosto é igual a qualquer outro. Tem dois olhos, um nariz no meio, uma boca abaixo. Agora, se você tivesse os dois olhos no mesmo lado do nariz, ou a boca em cima de tudo, isso sim ajudaria". Sem saber, Lewis Carroll descrevia a prosopagnosia - uma agnosia visual associativa que impede reconhecer rostos.

O prosopagnóstico não tem dificuldade para identificar um objeto. Sabe o que é uma boca, um nariz, os olhos e os queixos. Isto é, jamais trocará a mulher por um chapéu - mas pode confundi-la com uma desconhecida qualquer.

Reconhecer um rosto envolve uma atividade cerebral específica, que vai além do que ocorre com objetos. Ela envolve 3 áreas - o sulco temporal superior, a área occipital facial e a área fusiforme facial. Quando a atividade nessas áreas é prejudicada, o prosopagnóstico não consegue identificar nem mesmo os parentes mais próximos. Para não perder a mulher em um supermercado, ela precisa vestir algo bem chamativo. Se os filhos tiverem idade muito próxima, vai diferenciar um do outro pelo jeito de andar ou pela voz. Em casos mais graves, não saca nem quem é a pessoa no espelho. Foi o que aconteceu com um assistente de museu de história natural, segundo relatou em 1979 o neurologista Andrew Kertesz: viu seu reflexo e achou que fosse um macaco.

Ao prosopagnóstico resta apenas identificar a pessoa por uma verruga, pelo formato do corpo, por acessórios, por cicatrizes ou pela postura. "Tais estratégias, conscientes e inconscientes, tornam-se tão automáticas que prosopagnósticos moderados podem nem sequer saber o quão ruim é o seu reconhecimento facial", afirma Sacks, que só percebeu ter prosopagnosia aos 35 anos, quando um irmão que morava na Austrália disse também não reconhecer rostos.

Essa dificuldade leva a situações embaraçosas. "Festas, inclusive as minhas, são um desafio. Já fui acusado de ser ‘desligado’, o que é sem dúvida verdade. Mas acho que uma parte significativa do que chamam de minha ‘timidez’, ‘reclusão’, ‘inépcia social’, ‘excentricidade’ ou até ‘síndrome de Asperger’ é consequência e interpretação equivocada da minha dificuldade de reconher rostos."

Uma grande diferença em relação a outras agnosias visuais é que, embora alguns pacientes se tornem propagnósticos depois de um acidente, a maioria é assim de nascença. E isso é impressionantemente comum. Segundo um estudo feito em 2006 pelo neurologista alemão Ingo Kennerknecht com 689 estudantes na Universidade de Münster, 2,5% eram incapazes de reconhecer rostos. Mas poucos prosopagnósticos chegam a visitar um neurologista. Tal como quem não vê cores desde o nascimento em geral não busca ajuda de oftalmologistas, eles são simplesmente assim, e pronto.

Mas a pergunta mais fascinante não é por que eles não reconhecem rostos, e sim por que nós o fazemos. Essa é uma vantagem evolutiva dos primatas - humanos incluídos. Enquanto a maioria dos mamíferos reconhece os animais à sua volta pelo olfato, nosso cérebro usa áreas de reconhecimento facial superdesenvolvidas. Com isso, pudemos identificar amigos e inimigos à distância durante

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