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Do Crepúsculo à Aurora da Humanidade: Análise das causas, efeitos e cura da cegueira branca

Por:   •  12/7/2018  •  Artigo  •  1.325 Palavras (6 Páginas)  •  340 Visualizações

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Do Crepúsculo à Aurora da Humanidade

Análise das causas, efeitos e cura da cegueira branca

Carlos Ronaldo Corrêa[1]

Resumo

Este artigo tem como objetivo analisar o livro “Ensaios sobre a Cegueira” do renomado escritor português José  Saramago, observando a crítica do autor à sociedade a partir do tema  cegueira branca, assim como a sua retratação de um ser humano em  estado de selvageria que permeia as relações durante  grandes crises, bem como lançar luz no que se refere a  capacidade que os laços afetivos têm de sanar os conflitos e permitir a sobrevivência,  através de alianças, amor e cuidado recíproco.

Palavras-chave: Ensaio sobre a cegueira – natureza humana – crises – cegueira branca – laços afetivos

Introdução

A obra Ensaio sobre a Cegueira é uma das mais famosas obras da literatura lusitana e aborda temas da sociedade comuns a todas as nações e épocas utilizando a cegueira branca como alegoria. Quando uma misteriosa epidemia de cegueira atinge uma população, os cidadãos reagem de formas diversas, porém destrutivas, na maioria das vezes. Isso no traz a uma crítica sobre os valores humanos que nossa sociedade realmente alimenta e suas reações violentas que são utilizadas para garantir sobrevivência sem deixar de nos mostrar o outro lado, o da união e cooperação entre grupos com laços benignos.

Crítica do autor à sociedade

José Saramago utiliza a alegoria da cegueira branca em seu livro para retratar uma sociedade em que os indivíduos, mesmo olhando, não enxergam uns aos outros, e fazem de seus interesses próprios  as desculpas para a negação dos demais ao se confrontarem. Isso fica claro no atendimento do primeiro cego, ainda no início da trama, no consultório do médico quando a preferência pelo atendimento mais urgente gera a revolta de uma mãe de um dos pacientes  e ainda obtém o apoio dos outros que aguardavam no consultório, com a explicação de que esperavam a mais tempo (SARAMAGO, 1995, p. 21).

Nesse texto, podemos perceber claramente que muitas pessoas se insensibilizam com as necessidades dos demais, utilizando das suas próprias e de seus anseios, além de pressa, entre outros motivos, para a justificativa para tal coisa.

A cegueira branca retrata a cegueira moral, uma cegueira que nossa sociedade condena em palavras, mas impõe em cobranças de status, produção, velocidade, aparência, e que muitas pessoas não conseguem administrar o equilíbrio entre o bem da sociedade e o bem individual, tomando atitudes que prejudicam aos outros e/ou fechando os olhos ao se deparar com quem precisa.

“o cego implorava, Por favor, alguém que me leve a casa. A mulher que falava de nervos foi de opinião que se devia chamar a ambulância” (idem, p. 18), se eximindo de qualquer compromisso com quem necessite de auxilio.

A cegueira branca, ao contrário de ausência de luz, como Norval Baitello Junior em seu livro “La era de la Iconofagia” nos chama à consciência, nos indica que há excessos. Esses excessos são o bombardeio de imagens a que somos expostos, a enxurrada de informações, na maioria das vezes inúteis ou desnecessárias, que vão formando um indivíduo cada vez mais vulnerável aos caprichos do consumismo e ostentação para preencher suas necessidades sociais, além da cauterização dos sentimentos quanto á violência cotidiana e dramas sociais reais por intermédio dos telejornais que se especializaram em uma programação que exalta o brutal, cria necessidades com ampla exposição de anúncios, outdoors e inserções de publicidade, transformando os indivíduos em seres cada vez menos humanos nas relações.  O crescente apelo à imagens nos leva ao excesso de luzes, supervalorização do mundo visível e acaba por retirar do Homem as ações construtivas para a sociedade.

Homem: animal selvagem

A narrativa de Saramago é rica em descrições dos horrores a que os contaminados foram submetidos em meio a crise que a doença causou ao se alastrar do primeiro cego, passando aos governantes e agentes do Estado, tomando toda a sociedade.

Essa cegueira traz a perda dos princípios e valores que o Homem elaborou ao longo da História. Sem enxergar uns aos outros, os Homens  desumanizaram  a si e aos demais. Voltaram ao estado de barbárie, matando, subjugando, humilhando e se aproveitando uns dos outros; os mais fortes ou com mais ferramentas usurpavam e eliminavam os mais fracos. “a partir de hoje seremos nós a governar a comida, ficam todos avisados” (SARAMAGO, 1995, p.139) Foi o que disse o cego armado ao se apropriar da comida de todos os demais e passar a cobrar para a distribuição a quem pudesse pagar, até mesmo com sexo.

Dessa forma, o enxergar ao outro é ver mais que um ser ou objeto, é compreender a sua essência, ou ao menos buscar tal coisa. Quem enxerga o outro, quem entende o mundo, não o destrói, não o macula.

A capacidade de amar e cuidar em meio ao caos

A obra do escritor lusitano não poderia ser mais completa ao complementar todos seus escritos com os atos, pensamentos e ensinamentos da forte e amável esposa do oftalmologista, que é capaz de enxergar não só o mundo físico que a cerca e aos demais, mas também a essência das coisas, a alma das pessoas, seus sentimentos e necessidades.  A esposa do médico recebe importância maior que qualquer outra pessoa no livro pelas qualidades e pelo afeto que nutre pelos demais. Sua empatia à dor do outro, seus anseios, enquanto o mundo desmorona À volta de cada um, transforma a tragédia em uma lição de força, esperança e amor ao próximo. Nem mesmo a traição e a degradação moral a que foram submetidos destrói seu bem maior: o amor ao próximo.

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