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Ensaio Sobre Vidas Secas De Graciliano Ramos

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Por:   •  14/9/2014  •  1.029 Palavras (5 Páginas)  •  1.832 Visualizações

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No romance “Vidas Secas” de Graciliano Ramos encontramos a narração em terceira pessoa, mas se observarmos com mais atenção poderemos verificar que esta terceira pessoa na verdade tem muitas primeiras pessoas. É como se o narrador se colocasse no lugar dos personagens. Ele dramatiza todo o romance, se despersonaliza, ou seja, coloca os outros falando. O narrador modula as interpretações os pensamentos e até o silêncio de cada personagem.

Podemos encontrar em vários momentos os discursos indiretos livres. O narrador revela o interior dos personagens através de monólogos interiores. O foco narrativo ganha destaque ao converter em palavras os anseios e pensamentos das personagens.

A seca que é tratada neste livro por Graciliano Ramos vai muito além de um fenômeno ambiental e geográfico. Graciliano propõe em sua narrativa uma seca de vida, de dignidade, identidade, linguagem, afetividade, uma seca cultural e existencial perante a sociedade. O autor consegue desde o título mostrar a desumanização que a seca promove nos personagens, a expressão verbal é tão estéril quanto o solo castigado da região. A miséria causada pela seca soma-se a miséria imposta pela influência social, representada pela exploração dos ricos proprietários da região.

Pela proposta do autor os capítulos podem ser lidos fora da sequência, pois são separados, não estão conectados, são independentes e essa possibilidade se deve a sua estrutura que se assemelha mais a de um conto.

Existe a falta de linearidade do tempo no texto e há nítida valorização do tempo psicológico, em detrimento do cronológico. A opção do narrador de ocultar os marcadores temporais tem como principal objetivo o distanciamento das personagens da ordenação civilizada do tempo. A ausência de uma marcação cronológica serve de elemento estrutural como uma forma de evidenciar a exclusão dos personagens e a valorização do tempo psicológico na narrativa faz com que as angústias dos personagens fiquem mais próximas do leitor, que as percebe com muito mais intensidade.

Graciliano Ramos transmite a aridez do ambiente e seus efeitos sobre as pessoas que ali estão ao se expressar por meio do uso econômico de adjetivos. A narrativa ambientada no sertão mostra uma região marcada pelas chuvas escassas e irregulares. Essa falta de chuva somada a uma política de descaso do governo com os investimentos sociais transforma a paisagem num ambiente inóspito e hostil.

Mas por outro lado observando sobre um outro ponto de vista há uma certa beleza neste ambiente hostil que pode ser vista já no primeiro capítulo onde a caatinga é refletorizada, praticamente encenada, ao lermos, nossa imaginação vai criando todas as cenas da discrição da paisagem presente nos primeiros parágrafos do primeiro capítulo.

“Vidas Secas” é considerado por muitos como o principal texto de Graciliano Ramos por retratar o sacrifício que é a luta da sobrevivência daqueles que sofrem com a seca do nordeste e pela forma como essa história é contada. A alma de cada personagem é dominada pela estiagem que corrói a terra levando à fome e à necessidade de migrar para um lugar melhor. Os personagens não passam de marionetes de um sistema econômico do qual não conseguem escapulir e que os massacra sob diversos aspectos: Da falta de dinheiro ao da carência total de perspectivas. Sem educação a família da qual o livro conta a história não tem sequer recursos verbais para discutir qualquer tipo de ofensa ou humilhação pela qual passa.

Na obra “Vida Seca” tem-se uma estrutura familiar elementar contínua de geração em geração dentro de um contexto miserável, no qual os retirantes vivem no limite da sobrevivência. O texto de Graciliano apresenta brilhantemente que a condição de retirantes nordestinos está também relacionada à vida de nômade de povos antigos que buscavam sempre a mudança de ambiente quando o ambiente não era favorável. E a condição de provação daquela família os angustiava e os frustrava tão profundamente que o leitor se entristece no decorrer da história sentindo a dor de cada um deles.

A contextualização de Vidas Secas no quadro da literatura de 30 apresenta as cores do regionalismo e faz um retrato real, cruel e brutal das relações nitidamente feudais imperantes no nordeste do Brasil na época, servindo para mostrar de forma violenta os traços do realismo. Graciliano penetra no pensamento, na carne e na alma de cada um dos membros da família de Fabiano objetivando mostrar de forma brutal a discriminação, a cultura e a realidade do nordestino.

O leitor que é um bom observador vai enxergar que com exceção do primeiro e o último capítulo da obra, as supressões ou modificações de ordem não acarretariam modificações do conteúdo, e mais, o primeiro e o último capítulos mostram um efeito cíclico, ou seja, a vida desafortunada não termina nunca é um destino inevitável e o círculo é o símbolo da obra de arte, da perfeição.

O livro salienta bem o enredo que é a seca, a tragédia nordestina da seca; onde o ser humano se degrada ao nível de bicho, chegando ao ponto de se confundir com ele. Os personagens são verdadeiros símbolos do analfabeto, explorado, sujo, castigado pelo sol e que tem assim, sua vida regida pelos caprichos da natureza, pelo ciclo das chuvas e secas que desenham o seu destino.

O capítulo que mais se destaca nesta obra é o capítulo “Baleia”. Se a baleia enquanto cetáceo domina o mar, a Baleia do livro, adoentada, é vencida ela seca, sendo sacrificada por Fabiano, numa das principais cenas do livro, levada para a tela com extrema sensibilidade na versão cinematográfica de Nelson Pereira dos Santos, em 1963. E Fabiano fracassa na tarefa de matar Baleia ele apenas fere o animal, que vem a morrer no dia seguinte. O talento de Graciliano está em estruturar a narrativa de modo que, perante pessoas sem sonhos, apenas Baleia tem o poder de imaginar. Pouco antes de morrer, ela vê a si mesma num campo repleto de preás, onde poderia saciar a sua fome. Por isto o capítulo da Baleia é clássico, ele mostra claramente todo o drama e todas as paixões que são muito fortes em toda a trama.

Finalmente o que se pode entender desta obra tão triste e carregada de sentimento, sofrimento e drama de paixões é que o real aparece ficcionado, fingindo, o real que se realiza passionalmente, emocionalmente pelos personagens.

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