Estudos de José Saramago - O Evangelho Segundo Jesus Cristo

1. Em O Evangelho Segundo Jesus Cristo, José Saramago, por meio da ficção, reescreve episódios da história sagrada a serviço de uma tese. Em sua opinião, qual é esta tese e que estratégias o autor usa para desenvolvê-la?

Em minha opinião a tese escolhida por José Saramago para desenvolver a trama de O Evangelho Segundo Jesus Cristo baseia-se na ressignificação da imagem das divindades bíblicas. Fazendo uma releitura da história contada pelos textos sagrados, há o intento de desmitificar o que é contado. Assim, nos deparamos com uma obra em que personagens cultural e historicamente tidos como “divindades” são colocados em uma visão humanizada. Há, também, um intento de transpor a visão amplamente conhecida de Deus e de Diabo, invertendo seus papeis. Para isso, a estratégia utilizada pelo autor é fazer uma reescrita da história sagrada a partir da visão de seus atores como meros mortais, passíveis de cometerem erros e serem assolados por desejos.

1. Ainda em O Evangelho Segundo Jesus Cristo, Saramago compõe personagens com características distintas das representações correntes nos textos religiosos. Escolha uma personagem que se encaixa nesta descrição e explique de que forma, a seu ver, as mudanças do caráter dessa personagem interferem no desenrolar narrativo, de modo a distanciar o texto ficcional do texto sagrado.

Ao trazer uma narrativa cujo objetivo é humanizar as figuras bíblicas, José Saramago desmitifica a divindade de alguns personagens, os colocando no plano de um ser humano comum. Esse é o caso da figura de Jesus Cristo, que vem retratada em O Evangelho Segundo Jesus Cristo como um ser que possui desejos e vontades humanos, ou seja, de um mortal. Contudo, o autor faz tal releitura da história sagrada contada pela Bíblica de modo a preencher lacunas, ao questionar algumas contradições existentes nos textos bíblicos, suplementando-os e questionando-os.

Nesse sentido, podemos exemplificar tal ponto com a passagem em que Jesus encontra o Pastor. Jesus é colocado, então, como um homem indeciso quanto as suas escolhas e capaz de cometer erros e equívocos. Há a retirada do caráter de perfeição que assola a figura bíblica de Jesus Cristo, de modo que, a partir da visão de Saramago, podemos pensa-lo não mais como um homem que veio para a terra predestinado a servir à humanidade e certo de todas suas escolhas.

1. Como ficou demonstrado a partir das matérias veiculadas na imprensa abordadas em aula, a decisão do veto à candidatura do Evangelho Segundo Jesus Cristo teve motivações políticas. No seu ponto de vista, quais riscos a reescrita da história sagrada saramaguiana operada em O Evangelho Segundo Jesus Cristo oferece à sociedade que justifiquem/expliquem o veto de Sousa Lara?

É de consenso geral que a publicação de O Evangelho Segundo Jesus Cristo provocou intensas críticas na sociedade portuguesa. Considerado ofensivo por diversos setores, principalmente os atrelados à comunidade católica, tal obra foi vítima de perseguição religiosa dentro e fora do território português. Nesse sentido, o governo português, sofrendo pressões religiosas, a partir da figura de Sousa Lara, Subsecretário de Cultura de Portugal, realizou o veto do livro de uma lista de romances aptos a receber o Prêmio Aristeion, alegando que a obra era um “atentado à moral cristã”.

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