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FERDINAND SAUSSURE: A teorização da linguística moderna

Por:   •  17/9/2018  •  Resenha  •  1.863 Palavras (8 Páginas)  •  604 Visualizações

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FERDINAND SAUSSURE: a teorização da linguística moderna

No quarto capítulo do livro “As grandes teorias da linguística: da gramática comparada à pragmática”, Marie Anne Paveu e Georges Elias Sarfati fazem um apanhado geral da teorização da linguística moderna proposta por Ferdinand Saussure nos cursos de linguística geral ministrados por ele. Bally e Séchehaye, alunos de Saussure nesses cursos, reuniram as notas por eles tomadas na oportunidade e publicaram, após a morte de Saussure, o Curso de Linguística Geral (CLG), que fundamentou a linguística como ciência.

Paveu e Sarfati esclarecem que Saussure não apresentou exclusivamente novidades em seus cursos. Muitos dos temas abordados por ele já vinham sendo pesquisados na segunda metade do século XIX. O que Saussure inaugura em seus cursos, porém, é a maneira distinta de levar em consideração os fatos da linguagem a partir do denominado “corte epistemológico”. Além disso, o trabalho de Saussure constitui-se em uma ruptura com a linguística comparatista que se preocupava com a maneira a partir da qual as línguas evoluem e não com o seu funcionamento. Para isso, ele propõe uma abordagem descritiva e sistemática da língua e não uma abordagem histórica como vinha sendo feito. Quando publicado (1916), o CLG teve enorme representação, pois inaugurou a linguística moderna e ainda hoje é bastante significativo, já que trata-se da base dos estudos linguísticos.

Os conceitos que Saussure propôs foram utilizados de diversas formas, desde a fonologia ao estruturalismo, motivo pelo qual Saussure foi denominado “pai do estruturalismo”. Pauveu e Sarfati ressaltam aqui que esse fato não foi rigoroso no plano científico, mas que, ainda assim, é um fato histórico importante no que diz respeito à história da linguística.

Pauveu e Sarfati esclarecem ainda que, sim, houveram inúmeros questionamentos a respeito do que foi publicado no CLG em relação ao que foi verdadeiramente proposto nos cursos ministrados por Saussure, visto que muito do que foi organizado por Bally e Séchehaye pode ter tido um viés interpretativo e não abordar com fidelidade aquilo que Saussure propunha. Outros estudos foram propostos depois do CLG, escritos a partir de notas de outros estudantes que participaram dos cursos. Pauveu e Sarfati levarão em conta esses estudos e, dessa forma, o que é por eles abordado nesse capítulo tem como base o próprio CLG, mas também o Troisième Cours de linguistique générale, organizado por Komatsu e Harris baseado nas notas de Émile Constantin, outro aluno do curso, e Écrits de linguistique générale, organizado por Engler e Bouquet e que contém textos e estudos do próprio Saussure.

Até aqui, Pauveu e Sarfati situam o leitor no contexto histórico em que o CLG se constituiu. Evidenciam os questionamentos propostos sobre a fidelidade do Curso, mas explicitam sua posição no que se refere à importância da obra baseando-se na posição de Normand a esse respeito: “usar com toda liberdade essa herança histórica sem se deixar impressionar pelo argumento, tendencialmente terrorista, dos “originais” (2000, p.16).

Após esclarecerem sua posição com relação à relevância do CLG, Pauveu e Sarfati passam a apresentar os conceitos e concepções propostos por Saussure. Primeiramente mencionam as tarefas e o objeto da linguística estabelecidos por Saussure. As tarefas da linguística por ele mencionadas são três: realizar a descrição e a história de todas as línguas, procurar as forças em jogo em todas as línguas e deduzir suas leis gerais e delimitar-se e definir-se a si própria (Saussure,1995, p.13).

 Para estabelecer o objeto da linguística, no CLG, Saussure esclarece primeiramente o que não é seu objeto, pois este resulta da construção de um ponto de vista e este ponto de vista é que cria o objeto (pág 65), ou seja, os fatos da linguagem não estão de fora da prática humana, são seu resultado, fazem parte dela, já que a linguagem é uma competência humana.  Fazendo essa distinção, estabelece-se que a linguística tem como objeto a língua e não a linguagem. A linguagem não é objeto da linguística por ser uma capacidade humana muito ampla e geral, enquanto que a língua é especifica, permite ser classificada. O próprio Saussure ressalta que: “A língua, ao contrário [da linguagem], é um todo por si e um princípio de classificação” (1995, P.17).  “O todo por si” referido por Saussure diz respeito ao sistema de signos, caracterizado pela sua autonomia e ordem própria.  

Outro corte importante adotado por Saussure é aquele que delimita a linguística, classificando-a em linguística externa e a linguística interna. A linguística externa é a que se refere a laços que a língua pode ter com o que está fora dela e a linguística interna é o sistema da língua que tem autonomia e sua própria ordem.

Após esclarecer sobre a diferença entre a língua e a linguagem, Saussure estabelece outra distinção fundamental: língua e fala. No decorrer do texto, Pauveu e Sarfati apresentam, inclusive, um quadro comparativo de Gadet (1996, p.77) onde aparecem características e diferenças essenciais entre os dois conceitos: a língua é social, essencial, psíquica e possui um modelo coletivo. Já a fala é individual, psicofísica, pode ser vista como um acessório mais ou menos acidental e não é coletiva. Eles destacam ainda que com o corte epistemológico que Saussure fez separando língua e fala, se tornou usual uma impressão que Saussure desconsiderava completamente a fala, o que não é verdade. Ele a reconhece, mas estabelece a linguística da fala como secundária.

Em relação à língua oral e escrita, Pauveu e Sarfati apresentam uma citação do CLG: “Língua e escrita são dois sistemas distintos de signos; a única razão de ser do segundo é representar o primeiro; o objeto linguístico não se define pela combinação da palavra escrita e da palavra falada; esta última, por si só, constitui tal objeto.” (1995, p.34). Saussure deixa claro que é necessário parar de dar atenção somente à palavra escrita e estudar também os sons da língua, instaurando, assim, a fonologia, que segundo ele não pertence a tempo algum, distinguindo-a da fonética que é, para ele, uma “ciência histórica”.

É na primeira parte do Curso de Linguística Geral que Saussure fala sobre a sua teoria do signo. De acordo com Paveau e Sarfati, Saussure afirma que a língua não é o reflexo da realidade nem do pensamento.

Para muitos, a língua é uma lista de termos que nomeia tantos outros termos, um vínculo que une uma coisa a uma palavra. Saussure discorda disso. Para ele o simples fato de que as mesmas realidades possuem nomes diferentes em diversas línguas, comprova a não coincidência entre o mundo e a língua.

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