Formação da literatura brasileira

Formação da literatura brasileira

“Formação da literatura brasileira ocorre desde o início da civilização”, escreve, usando um conceito de literatura brasileira radicalmente diferente daquele usado por Antonio Candido. O que torna a literatura brasileira de fato brasileira, um caso particular da literatura geral, é a expressão de uma realidade local que não depende de nenhuma forma de autonomia política, de organização social da literatura ou ainda  outro conceito de Candido, do empenho do escritor, da vontade de escrever literatura brasileira: “Se o Brasil era uma colônia política e mesmo cultural, não se deve esquecer que o espírito brasileiro, a brasilidade, já se vinha constituindo, consolidando e libertando havia muito antes da fase de 1750 a 1836 (período tratado por Candido). E  essa brasilidade, ao se manifestar, segundo seu argumento, já na literatura barroca, é o suficiente para configurar o marco inicial da literatura brasileira. Mas não é só isso. Haveria uma continuidade entre a brasilidade barroca e os árcades que teria sido incorretamente desconsiderada por Candido, pois não seria possível que houvesse qualquer forma de nativismo no Arcadismo sem que houvesse uma elaboração muito anterior.

E mesmo internamente o Barroco seria incompreendido. Candido dá valor à procura árcade por modelos estrangeiros, não portugueses, como um importante passo na formação da literatura. Segundo Coutinho, dar aos árcades esse privilégio é ignorar o fato de que o próprio Barroco já era uma busca por modelos estrangeiros, a adoção de um estilo espanhol que era rejeitado em Portugal e adotado aqui com sentimento anti-português. O que não quer dizer que não houvesse, no período formativo de Candido, acontecido um grande movimento que ele foi capaz de intuir. Mas esse movimento foi apenas o alcance de uma autonomia e não sua formação ou seu momento inicial.

Seja independente ou não, o verdadeiro ponto de Candido é quando a literatura se estabeleceu no Brasil dentro de um conceito de literatura que foi definido previamente.

Para concluir esse ponto, os três críticos que marcaram mais claramente sua opinião sobre a ausência do Barroco no plano geral da obra são unânimes em ver nesse período certos aspectos de “brasilidade” ou “nacionalidade infusa” cujos reflexos podem ser vistos mais tarde no desenvolvimento da literatura. Para Temístocles Linhares, isso é sinal de que o “sistema” literário já existia antes, mas ao menos aceita a noção de sistema. Para Afrânio Coutinho, há muitas impregnações externas, a literárias, que invalidam a forma de trabalho de Antonio Candido e o impedem de dar ao Barroco seu justo valor na história da cultura brasileira. Eduardo Portella, com seu sistema de gradativa incorporação de elementos brasileiros como caractere definidor, apoia um conceito de literatura brasileira aproximadamente compatível ao de Afrânio Coutinho.

Antonio Candido é visto por vários autores como sucessor do trabalho historiográfico História da literatura brasileira de Sílvio Romero, e Formação como uma espécie de sucessor à História da Literatura Brasileira. Luís Martins diz que apenas a esta obra “Formação da literatura brasileira” pode ser comparada em termos de importância para a crítica. Wilson Chagas nota que Romero é o historiador com quem Candido mais se assemelha e Temístocles aponta Formação como uma obra “fadada a representar um marco na história da literatura brasileira, no mesmo pé de igualdade de um Sílvio Romero ou um José Veríssimo” (LINHARES, 1960). Wilson Chagas chega a sugerir uma consciência explícita por parte de Antonio Candido de sua participação no processo histórico que inclui Sílvio Romero e os outros historiadores da literatura.

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