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O Casamento

Por:   •  2/4/2015  •  Ensaio  •  2.096 Palavras (9 Páginas)  •  193 Visualizações

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O CASAMENTO

                                                                                                     July 11th, 1988

          E

la estava pronta, seu olhar perdido no passado distante, o rosto uma máscara indecifrável, refletido no vidro da janela que a separava do mundo lá fora. Fora um longo caminho até chegar ali, e nada tinha valido realmente à pena.    Ou teria ?  Só sabia que agora não importava. A decisão estava tomada. O cenário luxuoso havia sido montado com obsessivo detalhismo e esmero.    Era o seu dia.    Enfim, chegara o seu grande dia.

A grinalda repousava entre a caixa de chocolate e o cartão, sobre a espaçosa e luxuosa cama, forrada com macios lençóis italiano de algodão egípcio de mil fios.

Parecia que o tempo havia se esquecido de passar, suspenso, como a prenunciar uma tempestade. Um leve toque na porta fez Isabelle estremecer. Entretanto, sua voz soou clara e firme, quando apenas disse, sem se voltar – Entre.

A jovem criada deslizou para dentro do amplo quarto, murmurando um – com licença, senhora – e  aproximando-se, anunciou a chegada da limousine, para a bela figura de mulher que não se virara, mas que via, em parte,  refletida no imenso espelho. Estava deslumbrante e fria como sempre, pensou, enquanto desviava seu olhar para o véu bordado com cristais Swarovski, dentro da caixa aberta, em cuja tampa se lia,  Maison Chanel  em  letras  douradas  encimadas  pelo  Double C  da famosa marca.  Voltou a olhar a silhueta altiva, imaginando o que faltaria na vida dessa mulher, que tinha o mundo a seus pés. Distraída, não estava preparada quando, enfim, a patroa voltou-se e a fitou sorridente com seus dentes perfeitos e olhos verde oliva, pedindo que avisasse que já iria descer. Brenda corou e saiu apressadamente para dar o recado, enquanto percebia que talvez jamais se acostumasse a conviver com Isabelle Behring.

          A Saint Patrick Cathedral, com suas torres em estilo neo gótico estava mais deslumbrante do que nunca.  Em um cúmulo de primor e esmero, o ambiente, com seus mármores, vitrais, mosaicos e bancos de carvalho e cedro era realçado pela decoração. Desde a nave até o altar-mor arranjos com flores nobres: tulipas, gypsphilas, onitrogaluns e         orguídeas cymbidium espalhavam-se enlaçadas por tecidos diáfanos, enquanto velas artesanais em diversos tamanhos ladeavam o tapete persa por onde os noivos iriam passar, em uma concepção exclusiva da King´s Ceremonial Design.  

Uma exímia pianista tocava o terceiro movimento da Suíte bergamasque, em Ré bemol maior, Clair de Lune composta por Debussy, música preferida de Isabelle, criando uma atmosfera suave e requintada, emudecendo os convidados em uma expectativa que teria seu clímax a qualquer momento.

          Os convidados, personagens do cenário político e artístico nacional e internacional, haviam  chegado em carros luxuosos e imediatamente iluminados pelos  flashes dos paparazzi, vestindo roupas e usando jóias assinadas pelos mais famosos estilistas e designer, causando  um frenesi geral,  que superava qualquer outro evento ocorrido nos últimos tempos.

Melissa preferia que não estivesse tão frio no dia de seu último trabalho para a revista – o frio sempre a deixava com o raciocino mais lento. Embora estivesse mais determinada do que nunca em mudar o rumo de sua carreira, queria fazer um trabalho que realmente simbolizasse o fim de uma etapa de sua vida. E seu sexto sentido dizia que aquele casamento seria especial, não sabia bem por quê.  

Com dois  copos de café nas mãos, abriu passagem através da multidão de curiosos que se aglomeravam, contida pelos policiais e  barreiras metálicas, ao longo do meio fio da 5th Avenue.

 Entregou  o copo  à sua colega, encarregada das fotos externas, que, tirando uma garrafinha de conhaque do bolso, batizou, como ela mesma definia, seu café quente.

– Cadê Alex já se posicionou lá dentro? Perguntou, mesmo sabendo a resposta; ele sempre estava no lugar certo na hora certa; claro que,  quase sempre, ajudado  pelo o que seu charme podia proporcionar.  Judy afirmou com a cabeça, enquanto sorvia o café quente batizado, sem perder de vista o que acontecia ao redor. Praticamente todos os cerca de dois mil convidados e jornalistas já haviam chegado. Mas nunca se sabe. As duas estavam com o mesmo pressentimento. Talvez por isto, foram as únicas a registrarem a chegada solitária e discreta de Penelope a fiel e, dizem, apaixonada, assessora de Sir Andrew Garvyn, que parou à entrada, observando os fotógrafos correrem para o Mercedes que parara na porta e de onde saltara o noivo. Judy conseguiu captar com sua objectiva, em um átimo de segundo, a imagem desolada de  Penelope, antes que se voltasse e entrasse  na Catedral.  

        Enquanto Sir Andrew Garvyn acenava para os fotógrafos, cinegrafistas e a multidão, perfeitamente à vontade com a repercussão do seu casamento, Melissa conseguiu furar o bloqueio dos seguranças, se aproximar o suficiente para perguntar  – Sir Garvyn, com apenas uma palavra, me diga o que significa esse momento para o senhor ?  

A resposta a aturdiu de tal forma, que quase caiu ao ser afastada pelos seguranças.

Depois disso foi uma sucessão de acontecimentos jamais imaginados...

CAMPUS

                                                                    march 08th,1965

M

. Sophie acordou sem saber onde estava e que dia era, fruto de um período de correrias e muito estresse, como todo final de período – e  parecia que os anos agora se resumiam em sucessivos finais de períodos.    Segundos depois, a realidade atravessou seu cérebro como um raio : dia de aula de literatura !

Mesmo sem olhar, sabia que sua colega dormia profundamente, e que a culparia pelo resto da semana pelo atraso de hoje. Pulou da cama e correu em direção ao banheiro, parando a tempo apenas de dar uns tapinhas nos pés de Catherine, em um código mútuo que significava: Estamos f... Você tem o tempo exato de eu tomar banho para cumprir todo o seu processo de acordar. Esse processo normalmente consistia em quatro etapas: 1ª – Dizer, enquanto coloca o travesseiro sobre a cabeça: “ Não vou a lugar nenhuma, não quero fazer nada, pode ir embora e me deixe dormir !  Na  2ª  chamada: “Oh, céus, me deixe dormir só mais quinze minutos! Na 3ª, praguejar, sentando na cama, ainda de olhos fechados e ficar... até que seja sacudida, e enfim e por último, se arrastar até o banheiro.  Mas em dias como o de hoje, não havia tempo para isso.  Era preciso correr contra o tempo.

...

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