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O INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS DEPARTAMENTO DE LETRAS

Por:   •  7/2/2022  •  Ensaio  •  1.825 Palavras (8 Páginas)  •  103 Visualizações

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                                          UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO [pic 1][pic 2]

        INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS         

                                                                     DEPARTAMENTO DE LETRAS

A partir da ideia de liberdade e pensamento, temas fundamentais na obra do filósofo Bento de Espinosa, a presente reflexão tem como mote um dos trabalhos mais instigantes para o campo da psicanálise de Freud. Conforme sabemos, Freud, já em seus primeiros trabalhos publicados, previa a necessidade de que fosse feita uma investigação conceitual sobre as ocorrências psíquicas da mente humana culminada na doença dos nervos, conforme menciona em seu texto intitulado Observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia relatado em autobiografia, texto de 1911. Assim, trago para essa apresentação o personagem Daniel Paul Schreber, e sua obra Memórias de um doente dos nervos, como assento, para as questões que serão pungentes na literatura e na psicanálise, e que passarão, à distância, num flerte tímido, da ideia de liberdade e servidão, vistas já no século XVII, por Espinosa.

Inicialmente, é necessário fazermos uma reflexão sobre um tema que é central nos escritos desse pensador: que é a Liberdade, que aqui se reduz ao mais claro possível, pensando, apenas dois tópicos: liberdade e servidão; e liberdade e pensamento. Espinosa surpreende e centraliza em seus escritos sua desarticulação com a teologia tradicional, ao romper com ela para fazer sua produção sobre a ideia de liberdade. Nesse sentido, se faz necessário uma divisão, para que seja possível perceber sua maneira de colocar esse conceito. Vemos então que: de um lado Espinosa pensa Deus, de outro, ele pensa o homem e, diferentemente da teologia tradicional, que pensa em um Deus transcendente, Espinosa pensa em um Deus imanente, identificando este à natureza. Poderíamos concluir com isso, que Deus e Natureza para Espinosa são um só. Nesse ponto, há uma substituição do Deus criador (pensando na teologia tradicional), para um Deus produtivo, e que produz tudo quanto há, ou seja, há um Deus que produz tudo o que existe e que por isso está em constante atividade. Isso nos permite dizer, que estando Deus ligado à atividade, essa atividade estaria associada a uma causa. E esta, então, seria uma causa ativa. Assim, Deus, para Espinosa, seria livre, pois sendo aquele, uma causa ativa, ele não seria impedido de fazer a sua produção, já que Deus, ou a Natureza, no momento de sua produtividade não teria a sua liberdade coagida pelo constrangimento. 

Diferentemente disso, é possível encontrar nos homens, seja nos homens entre eles ou entre as coisas, forças que são externas a eles e que os impedem de serem livres. Por isso, é preciso verificar se haveria a possibilidade de os homens agirem sem que as forças externas a, eles, os colocassem em estado de constrangimento. Nesse momento, quando Espinosa pensa, o homem, ele pensa na possibilidade, então, de o homem não ser livre em sua atividade produtiva, pois uma vez condicionado às causas externas ele estaria impedido, pelas marcas dessas ações, de ser livre. Convém observar, aqui, a articulação feita por Espinosa, de que todos os seres que existem na natureza, seriam dotados de ação e de paixão: sendo o homem, portanto, um ser apaixonado, ao ser comovido pelas ações externas, ele é constituído por forças distintas a ele, e assim, se faz prisioneiro das impressões vindas de fora. O que justifica essa ideia é a necessidade de forças externas ao indivíduo para constituí-lo, visto que não há como ele ser constituído por ele mesmo, nesse momento. Assim, uma vez que a liberdade não se liga às causas que não sejam ativas, o homem não pode ser livre, pois estaria impedido pelos acontecimentos externos, de efetuar a sua Natureza e, portanto, estaria prisioneiro da servidão. Nessa perspectiva, a investigação de Espinosa ocorre no sentido de verificar se o homem poderia ser, em algum momento, livre na sua efetuação de natureza, uma vez que o encontro do indivíduo com outros homens e dele com as coisas, o impossibilitaria - por meio do constrangimento - de ser livre, para fazer a sua produção, a partir de si mesmo.  

Para que se possa compreender melhor a possibilidade de o homem poder ser livre, a partir da sua destituição das forças que vem de fora, Espinosa traz algumas possibilidades em sua epistemologia, que serão apresentadas nos três momentos a seguir: 

Resumidamente: num primeiro momento, Espinosa nos traz uma noção sobre o gênero da experiência vaga, ou, o gênero da consciência. Este seria um resultado dos encontros dos corpos com a natureza, ou seja, o indivíduo humano não cessa de se encontrar com outros corpos e com outras coisas na natureza. Esses encontros são responsáveis por gerar marcas, e essas marcas são um efeito da experiência entre os corpos. Assim, a consciência, para Espinosa, é um produto das marcas, de modo que, o homem, ao depender das causas externas para se constituir, não poderia ser uma causa ativa. Portanto, nesse primeiro momento o homem da consciência está condicionado a ser o homem da servidão, já que ele não consegue ultrapassar a sua consciência, por estar sujeito às causas externas, e, portanto, determinado pelas ações que vêm de fora. Nesse caso, a servidão é total.

Em um segundo momento, a razão, ou noção comum, no segundo gênero, explica a relação que o homem faz com a natureza, em sua prática com a atividade, ou seja, é quando o indivíduo começa a entender a natureza por meio de agenciamentos externos a ele. Tal ação seria precisamente o conhecimento, enquanto capacidade humana de identificar o que está do lado de fora. Assim, além de ser um efeito do que vem de fora, o indivíduo começa também a perceber o que é externo a ele. Aqui, apesar de possuir o conhecimento, não há produtividade, uma vez que o que há é a compreensão daquilo que já existe. O homem consegue, nessa trilha, ultrapassar a sua consciência para conhecer a realidade.

Por fim, no terceiro gênero do conhecimento vemos o que Espinosa chama de ciência da intuição, que diferentemente do segundo gênero, que percebe apenas o que está do lado de fora, o homem do terceiro gênero possui a capacidade de invenção, isto é, há uma habilidade com a produção e com o rigor, quando estes são direcionados ao rearranjo da realidade externa ao indivíduo humano. Por isso, enquanto a razão, no segundo gênero busca conhecer uma verdade epistemológica, e, a moral, o terceiro gênero tem como interesse buscar novas formas para a constituição da vida. O homem aqui, ao efetuar a sua natureza pode ser inventor, e a sua produção científica intuitiva está ligada à arte, que busca o conhecer o que é novo a partir de si consigo mesmo. Desse modo, há uma tentativa de produzir novas formas de (vi)ver a vida, e essa potência enquanto vontade está ligada à questão da liberdade e à questão do pensamento. 

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