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O Intertexto do Mito de Adão e Eva em Hamlet

Por:   •  12/12/2018  •  Artigo  •  4.213 Palavras (17 Páginas)  •  229 Visualizações

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2 SINOPSE DO MITO

O mito de Adão e Eva encontrado no livro de Gênesis conta a história da criação do Universo, do homem e sobre a origem do pecado na humanidade.

Javé Deus criou o homem usando a argila do solo, lhe soprou nas narinas o sopro da vida e assim o homem ganhou vida. Em seguida, Deus plantou um Jardim em Éden e nele fez brotar todas as espécies de árvores de ver e boas de comer, além disso, colocou a árvore da vida no meio do jardim, e também a árvore do conhecimento do bem e do mal.

Deus colocou o homem para cuidar do jardim, mas Javé ordenou ao homem: “Você pode comer de todas as árvores do jardim, mas não pode comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, com certeza você morrerá”. Deus viu que não era bom que o homem ficasse sozinho, pois ele precisava de uma companheira que lhe fosse semelhante, então Javé fez Adão ciar em sono profundo, retirou-lhe uma costela e assim fez uma mulher, seu nome é Eva.

De todos os animais que Deus havia criado, a serpente era o mais astuto, e com sua astúcia conseguiu seduzir Eva, fazendo com que ela comesse do fruto proibido e, em seguida, convencesse seu companheiro a comer também. Depois, ambos perceberam que estavam nus e sentiram vergonha, se cobriram com tangas e se esconderam da presença de Deus. Porém, Javé Deus percebeu e irou-se contra Adão, Eva e a Serpente.

Como castigo, Deus disse à serpente: “você se arrastará e comerá pó por toda a eternidade”, para a mulher, Deus fez com que ela sofresse com as dores do parto, e para o homem fez com que se alimentasse do suor de seu rosto até que

volte para a terra, pois dela foi tirado.

3 CONCEPÇÕES ANALÍTICAS DO MITO DE ADÃO E EVA

O livro de Gênesis presente nas Escrituras Sagradas apresenta uma história comumente conhecida em vários lugares do mundo, onde a SERPENTE É DESCRITA COMO O MAU QUE TENTOU Eva a comer do fruto proibido e oferecer ao seu companheiro Adão, gerando assim o que podemos chamar de “A queda do

homem”, que simboliza a transição da inocência que dá lugar ao pecado. Em outras 1

versões podemos encontrar concepções diferentes, onde Eva carrega outro tipo de culpa, ligada à sua sexualidade, representando o bem, ou até mesmo a figura de um Deus.

O mito de Adão e Eva está presente em diversas culturas, porém, com concepções diferentes. (CAMPBELL, 1995), diz que isso se deve aos Arquétipos de Jung, um conceito que se refere às imagens primitivas inseridas no inconsciente coletivo desde os primórdios do ser humano. A figura de Adão e Eva representam a própria condição humana em si, são arquétipos existentes em cada um de nós, passivos de ser seduzidos por diversos fatores (dinheiro, sexo, bens materiais, etc.) e também capazes de seduzir o outro, seja para o bem ou para o mal. Independente das crenças ou etnias o arquétipo estará presente, mesmo que em diferentes concepções.

Sabemos que o relato Javista é lido pela reflexão teológica cristã como a narrativa que conta a entrada do mal no mundo, esse fato, denominado pecado original teria tido início com a fragilidade da mulher, ao se deixar seduzir pela serpente.

Ricoeur (1967), discorre sobre o mito adâmico afirmando que a serpente como símbolo representa algo, e não o define. A serpente representa no próprio coração do mito adâmico, a outra face do mal, que os outros mitos tentavam narrar, o mal anterior, o mal que atrai e seduz o homem. A serpente também significa que o homem não começa o mal, encontra-o. (RICOEUR, 1967, p.291).

Como podemos ver, Ricoeur também expõe uma concepção comum entre os cristãos no que se refere à serpente, como símbolo do mal na humanidade. A serpente tentadora e sobrenatural também está presente na Torá como metáfora do mal e da crueldade humana, ela também permeia os versos de inúmeros outros autores, ora ligada ao mal, ora representando a sexualidade exagerada. (ALMEIDA et al, 2009, p.196).

Uma outra concepção pode ser encontrada em “Bacana” de Manuel Bandeira, que vê nas “serpentinas” multicores dos salões de carnaval, não o pecado cristão ou a tentação do mal, mas o delírio dionisíaco e a sexualidade pagã, travestida em “Cobras de lívidos desejos” (BANDEIRA, 1996, p.157).

Essas são apenas algumas das concepções que podemos encontrar, com simbolismos pagãos, sexuais ou malignos, porém, também encontramos aspectos

positivos, como por exemplo, a serpente simbolizando um Deus. 12

Segundo Almeida e Pires (2013), Chamada cobra, cascavel, diabo do gênesis, ouroboros, dragão emplumado, víbora. A serpente aparece de várias formas, encarnando significados diversos na mitologia de inúmeros povos. A serpente pode ser vista como um círculo comendo a própria cauda, que simboliza a imagem da vida, um ciclo da vida em que uma geração morre e a outra nasce, a serpente também carrega em si o sentido de fascinação e terror da vida, simultaneamente.

Na figura da serpente, também encontramos a ação primária da vida, sobretudo comer. Campbell (1995), nos lembra que o sentido da vida consiste em comer outras criaturas, sendo esta a condição mais primitiva da vida que é representada na serpente. O autor ainda diz que na índia, até mesmo a mais venenosa das serpentes, a naja, é um animal sagrado, e que a mitológica Serpente- Rei é quem está ao lado do Buda. Representando o poder da vida, alinhado com o tempo e a morte, não obstante eternamente viva.

Nas tradições indígenas a serpente também é reverenciada, e vista como uma forma de fazer amigos, através de danças típicas de sua cultura. A interação do homem com a natureza está representada nessa relação com a serpente (CAMPBELL, 1995). Existe ainda, segundo o autor, sinetes sumerianos que remontam à 3500 a.C., que contam uma versão diferente da que estamos acostumados, nesta versão a serpente é o primeiro Deus do Jardim do Éden, e Jeová que caminha por ali, é apenas um visitante. Nos sinetes é possível ver a serpente, a árvore e a deusa, que está oferecendo o fruto da vida ao visitante masculino.

Uma outra concepção, referente à uma tradição judaica, diz que a serpente bíblica era um animal astucioso que caminhava sobre as duas pernas, falava e comia os mesmos alimentos que o homem. Ela teve ciúmes de Adão por ser prestigiado pelos anjos, e ao ver o primeiro casal tendo relação sexual, lhe despertou um desejo por Eva. Ao ser influenciada por Satã, a serpente induziu Eva a comer a maçã e a seduziu, como castigo, a serpente teve suas mãos e pernas cortadas, e teve de se arrastar sobre o seu ventre. Ao ter relação sexual com Eva, ela injetou seu veneno nela e em todos os seus descendentes, veneno este que só foi removido do povo de Israel quando estavam no Monte Sinai ao receberem a Torá (UNTERMAN, 1992, p.236) Podemos observar até este ponto as diferentes 13

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