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OS DOIS TIPOS DE ADULTÉRIOS NO CONTO: MISSA DO GALO DE MACHADO DE ASSIS

Por:   •  30/6/2016  •  Artigo  •  1.999 Palavras (8 Páginas)  •  575 Visualizações

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OS DOIS TIPOS DE ADULTÉRIOS NO CONTO: MISSA DO GALO DE MACHADO DE ASSIS[1]

Sione Cunha Cardoso[2]

O objetivo desse estudo é apresentar os dois tipos de adultérios presentes no conto Missa do Galo, evidenciando a ambiguidade presente no comportamento dos personagens, principalmente de Dona Conceição “a santa”. Esse conto foi publicado pelo escritor no livro Páginas Recolhidas, em 1889. Trata-se de uma conversa entre uma senhora e um jovem rapaz numa noite de véspera de natal.

Sobre o escritor, Joaquim Maria Machado de Assis um dos mais importantes da literatura brasileira, foi cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839. Cultivou quase todos os gêneros literários, em 1897 junto com outros escritores fundaram Academia Brasileira de Letras, foi eleito presidente da instituição, cargo que ocupou até sua morte.

Enquanto escola literária, Machado pertenceu ao Realismo-Naturalismo, ambas caminhavam paralelamente, o Realismo veio se contrapor ao Romantismo, em seu livro Coutinho (1978) evidencia as características principais do Realismo, procura apresentar a verdade, retrata fielmente os personagens, estes concretos, tendo uma relação com a psicologia, por levantar questões do desenvolvimento da alma humana, encara a vida objetivamente, fornece uma interpretação da vida, retrata a vida contemporânea nos cortiços, cidades, nos negócios, na política, nas relações conjugais e assim por diante. Utiliza-se de uma linguagem simples e próxima da realidade.

Os naturalistas levam o Realismo ao extremo, na qual acrescentam os métodos  científicos, fazendo uma abordagem da visão materialista do homem, da vida e da sociedade. Procuram retratar o homem natural, e descrever todos os seus aspectos até os mais primitivos. Dessa forma ambos dão importância à sociedade contemporânea, e seus fatos do dia a dia, longe de qualquer sentimentalismo.

Em relação ao conto, segundo Salomão (2010) no Brasil, século XIX, a categoria literária conto atingiu seu auge, o lugar mais alto com Machado de Assis, em termos de valor literário. Com grandiosa habilidade nessa categoria, Machado deixou um vasto legado de produções, as quais foram primeiramente publicadas em jornais e revistas. Sendo uma das fortes características do autor analisar psicologicamente a alma humana, em seus contos.

O conto Missa do Galo se passa na véspera do Natal, Nogueira um jovem rapaz que veio estudar no Rio de Janeiro, hospeda-se na casa do seu Meneses que já foi casado com uma prima dele e agora casado com Dona Conceição. Meneses tinha uma amante na qual saiu para visita-la, na desculpa que iria ao teatro. O jovem Nogueira iria com um vizinho à missa do galo e combinou acordá-lo à meia-noite. Decide esperar já pronto, na sala. Está lendo um romance, Os três mosqueteiros, quando ouve um rumor e passos. É Conceição. Começam a conversar, fala de assuntos variados, o tempo vai passando; a conversa prolonga-se, emendam os assuntos, riem, aproximam-se e falam baixo para não acordarem Dona Inácia. Surge o vizinho grita na rua que é hora da missa do galo. Nogueira vai à missa. No outro dia, Conceição está como sempre foi, como se nada tivesse acontecido na noite passada. No Ano Novo, ele vai para Mangaratiba. Ao retornar, em março, para o Rio de Janeiro, o escrivão havia morrido. Nunca mais encontrou Conceição, sabendo depois que ela havia se casado com o escrevente do marido.

O respectivo conto é narrado em primeira pessoa por Nogueira, que retoma algumas lembranças de uma noite que viverá na sala da casa do senhor Meneses na sua juventude, que até o momento ele se questiona sobre a conversa que teve com Dona Conceição, pois apesar de conversarem sobre a missa e livros ,todas as ações e palavras da personagem estava repleta de segundas intenções, a ingenuidade do jovem não o deixa entender o que ela queria realmente, assim o conto inicia-se com o seguinte questionamento: “Nunca pude entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos anos, contava eu 17, ela 30”.

Ao ler este conto de Machado, o dialogo entre Nogueira e Dona Conceição, uma conversa toda cheia de suspenses por parte dela, nos faz pensar que estamos lendo algo atual, pois tal conto é composto de vários temas que se fazem presente ainda hoje em nossa sociedade, como o adultério tanto por parte do senhor Menezes, quanto por sua esposa Dona Conceição e seu jogo de sedução.

Há dois tipos de adultérios presentes no conto, mas ambos ficam subentendidos, pois o senhor Meneses mantém um caso extraconjugal com uma mulher separada, coisa muito mal vista na época, todos de sua casa sabiam, mas perante a sociedade mantinham as aparências como se fosse um casal feliz. Sua esposa aceitava tudo, era submissa ao marido, se sentia muito sozinha e solitária motivo ao qual levou aparecer na sala.

         Nessa noite de natal o senhor Meneses em mais uma de suas saídas noturnas ao encontro de sua amante, a desculpa que usava era que iria ao teatro, o jovem rapaz sem saber de nada se propõe a acompanha-lo, mas nunca tinha a resposta, e não entendia a reação dos moradores da casa, Meneses sai calado e voltava só na manhã seguinte. Logo no início do conto podemos constatar isso:

Nunca tinha ido ao teatro, e mais de uma vez, ouvindo dizer ao Meneses que ia ao teatro, pedi‑lhe que me levasse consigo. Nessas ocasiões, a sogra fazia uma careta, e as escravas riam à socapa; ele não respondia, vestia‑se, saía e só tornava na manhã seguinte. Mais tarde é que eu soube que o teatro era um eufemismo em ação. (MACHADO, 2011, p.12)

O dono da casa fazia questão de manter bem camuflado aos olhos dos outros, seu caso, só depois de algum tempo que Nogueira ficou sabendo o que significava a sua ida ao “teatro” semanalmente. Menezes trazia amores com uma senhora separada do marido, coisa que sua mulher sabia, a princípio sofreu, mas depois acabou acostumando-se com a situação que já lhe parecia direito dele, por isso é chamada de boa Conceição a “santa”.

Depois da saída de Meneses, todos se recolheram em seus aposentos, deixando a casa no mais completamente silêncio, mas Nogueira com intuito de não perder a hora da missa na corte, arrumou-se e decidiu esperar o vizinho na sala da frente, para quando fosse à hora exata, sairia com cuidado pelo corredor para não acordar ninguém. Para passar o tempo resolveu ler o romance, Os três mosqueteiros, enquanto a casa dormia.

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