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PODER E RESISTÊNCIA NA PÓS-MODERNIDADE: ANÁLISE DISCURSIVA DO VEÍCULO DE COMUNICAÇÃO “VOZ DAS COMUNIDADES”

Por:   •  28/12/2018  •  Projeto de pesquisa  •  4.758 Palavras (20 Páginas)  •  181 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: LINGUÍSTICA E PRÁTICAS SOCIAIS

LINHA DE PESQUISA: DISCURSO E SOCIEDADE

DOUGLAS DE OLIVEIRA DOMINGOS

PODER E RESISTÊNCIA NA PÓS-MODERNIDADE: ANÁLISE DISCURSIVA DO VEÍCULO DE COMUNICAÇÃO “VOZ DAS COMUNIDADES”

JOÃO PESSOA

OUTUBRO / 2017

DOUGLAS DE OLIVEIRA DOMINGOS

PODER E RESISTÊNCIA NA PÓS-MODERNIDADE: ANÁLISE DISCURSIVA DO VEÍCULO DE COMUNICAÇÃO “VOZ DAS COMUNIDADES”

Pré-projeto apresentado ao Programa de Pós-graduação em Linguística do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, como requisito avaliativo para o processo de seleção do Mestrado.

Orientadora: Profª. Drª. Maria Regina Baracuhy Leite

JOÃO PESSOA

OUTUBRO / 2017

1 INTRODUÇÃO

Em junho de 2014, a Rede Globo, o jornal Estado de São Paulo, e outros meios de comunicação massivos brasileiros veicularam a comoção gerada a partir da morte de Dona Dalva, uma mulher de 72 anos de idade que voltava para casa com seu neto, de apenas 10 anos, pelas ruas do Complexo do Alemão. Era o dia do aniversário da idosa e ela foi fatalmente ferida durante um tiroteio entre policiais e bandidos. O fato ganhou grande repercussão na população através das redes digitais. Rene Silva, morador do Complexo do Alemão e criador do jornal “Voz das Comunidades”, narrou a notícia e suas atualizações pelo Twitter junto com a hasthtag #naomerecomorrerassassinado. Em pouco tempo, o assunto estava dentre os mais comentados da rede. Com isso, o jovem provava mais uma vez a hipótese da veloz propagação de discursos por sujeitos independentes das grandes corporações, graças ao advento da cibercultura (LEMOS, 2010, p. 18). Nesse sentido, os conteúdos transmitidos pelo “Voz das Comunidades” e as condições de produção que possibilitaram sua existência constituem um arquivo de enunciados que aportam discursos de resistência e, portanto, são passíveis da nossa análise sob a ótica de Michel Foucault.

        O “Voz das Comunidades” se desmembra em um jornal físico bimestral (disponibilizado também online), em um portal eletrônico, em um canal no Youtube e em páginas no Facebook, Twitter e Instagram. Possui mais de 100 mil seguidores no Facebook e quase 400 mil no Twitter. A Organização Não Governamental, que foi criada em 2005, quando Rene Silva tinha 11 anos de idade, inicialmente se resumia apenas à produção e distribuição de jornais físicos para o Complexo do Alemão. Hoje em dia, é formada por voluntários moradores de outras favelas cariocas, possui páginas nas redes digitais e se destina principalmente ao público de comunidades do Rio de Janeiro. Os conteúdos veiculados pelo “Voz das Comunidades” caracterizam-se por retratar o cotidiano das favelas, em suas nuances positivas e negativas, apresentando assim uma imagem que se contrapõe aos estigmas fabricados pelos conglomerados midiáticos.

        O Brasil é historicamente marcado por desigualdades sociais. Durante a Primeira República, o Rio de Janeiro figurou como a capital brasileira. E, para que a cidade simbolizasse o poder econômico e o prestígio que lhe cabia institucionalmente, o então presidente Rodrigues Alves (1902-06) pôs em prática um processo “civilizatório” conhecido como Regeneração, que demolia os subúrbios do centro da cidade (SCHWARCZ e STARLING, 2015, p. 327). Dessa forma, começaram a surgir as periferias, que pouco a pouco se organizavam nos morros cariocas e formavam as comunidades que conhecemos como favelas. Assim como enfatiza o filósofo Michel Foucault (2008, p. 56), todos esses procedimentos institucionais que permitem ao Estado o exercício do poder estão legitimados pelos saberes construídos historicamente e válidos em determinada época. A partir de uma análise arqueológica da loucura, da sexualidade e da política, Foucault percebeu que há uma transformação (des)contínua na operação das relações de poder e que estas se embasam na evolução dos saberes.

        Em uma sociedade perpassada em todas as suas estruturas pelo capital econômico, grande parte da população sofre com a marginalização e a ausência de oportunidades de vida, que surgem como consequência. Em sua aula inaugural no Collége de France, pronunciada em 02 de dezembro de 1979, Foucault expôs alguns mecanismos de exclusão – interdição, segregação da loucura e vontade de verdade – usados para amordaçar os sujeitos sociais em uma engrenagem impulsionada pela ordem do discurso (FOUCAULT, 1999, p. 9). Apesar de esses recursos serem utilizados mais perceptivelmente pelo Estado e por grandes corporações, para Foucault, o fluxo do poder não se caracteriza como unidirecional e repressivo, exercido apenas pelas camadas superiores de uma sociedade.

De acordo com Roberto Machado (1979, p. 14), “os poderes não estão localizados em nenhum ponto específico da estrutura social. Funcionam como uma rede de dispositivos ou mecanismos a que nada ou ninguém escapa, a que não existe exterior possível, limites ou fronteiras”. Nesse sentido, não há o poder, mas sim relações de poder, estabelecidas a partir de práticas sociais, de acontecimentos discursivos constatados através de enunciados inscritos na materialidade linguística. Essas relações se constituem também na resistência, afinal, conforme argumenta Foucault, a História não avançaria se não houvesse lutas e revoluções. E, assim como os poderes institucionais, “não existe propriamente o lugar de resistência, mas pontos móveis e transitórios que também se distribuem por toda a estrutura social” (MACHADO, 1979, p. 14).

        Os movimentos de contracultura, que ganharam as ruas de vários países do mundo no final dos anos 60, e suas manifestações discursivas são exemplos passíveis de análises dos fluxos de poder. O jogo de resistência e manipulação política que provocou paralisações trabalhistas e protestos estudantis em 1968, na França, impulsionou o filósofo Michel Pêcheux a elaborar categorias teóricas para analisar a situação e intervir efetiva e socialmente sobre ela – ou ao menos, sobre o senso crítico da população. Surge, então, a Análise do Discurso – recurso metodológico utilizado neste trabalho –, um campo científico de entremeios que se apoia na Linguística, História e Psicanálise para descrever as relações de poder entre sujeitos sociais com base em elementos históricos e ideológicos.

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