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Resenha da Obra Vidas Secas - Relação entre livro e filme.

Por:   •  16/10/2019  •  Resenha  •  1.343 Palavras (6 Páginas)  •  410 Visualizações

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RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 1989.

A obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos, é um romance regionalista da segunda geração modernista, que narra a trajetória de uma família de retirantes do sertão nordestino que ao serem afetados pela seca, necessitam buscar por condições de sobrevivência. Os principais personagens são: Fabiano, Sinhá Vitória, o menino mais novo, o menino mais velho e a cachorra Baleia.

Fabiano, ao consolidar-se como vaqueiro de uma fazenda abandonada, desfruta de um período curto de estabilidade, o qual aos poucos se torna frustrante para a família, que volta para a rotina migratória de sobrevivência.

O livro é dividido em 13 capítulos, escritos de forma isolada e sem uma conexão em si, pois cada capítulo narra fatos específicos dos personagens.  Devido o foco narrativo partir das ideias e sentimentos e personagens, bem como do meio geográfico em que vivem, Graciliano Ramos, através da literatura, consegue fazer com que o leitor possa imaginar de maneira realista as condições vividas por Fabiano e sua família, havendo um destaque para os aspectos psicológicos, pois segundo Randal Johnson (2003) o discurso de Vidas Secas é altamente subjetivo, no sentido de que a maioria do material verbal é articulado do ponto de vista das personagens.

Uma característica da obra diz respeito à linguagem, há um estilo conciso e seco, uma linguagem gestual e o uso de onomatopeias e monossílabos. O uso de todos esses elementos colaboram para afirmar as características dos personagens, que muitas vezes são vistos como bichos, também por não se comunicarem de forma frequente. Por ser uma narrativa feita em terceira pessoa com onisciência, o leitor tem contato direto com os fatos narrados, bem como com os sentimentos dos personagens, havendo a junção do discurso do narrador e a fala e o pensamento do personagem. O narrador também tem liberdade para falar da cachorra baleia e sabe quais são seus pensamentos, o que caracteriza um discurso indireto.

Se no livro os capítulos estão organizados de forma mais aleatória, na adaptação cinematográfica feita por Nelson Pereira dos Santos, em 1963, os capítulos seguem uma ordem mais lógica. Nelson produziu o filme de acordo com a ideologia estética proposta pelo movimento cultural do Cinema Novo, que explicitava a realidade vivida pelos indivíduos dos países subdesenvolvidos.  O cinema brasileiro desse período tentou levar ao público nacional uma outra alternativa, diferente da cultura de massa do monopolizador cinema hollywoodiano. Essa recusa do cinema industrial colonizador fundou o chamado Cinema Novo, que primou pela atualidade e criação em vez da técnica e da burocracia (.

No livro, Fabiano é preso no terceiro capítulo, porém no filme, os capítulos do livro denominados “contas, cadeia e festa” acontecem simultaneamente. Importante ressaltar que ao ser preso, as imagens do filme aparecem distorcidas em alguns momentos, uma estratégia para mostrar o sofrimento de Fabiano. Apesar dos capítulos estarem separados no livro, o primeiro e o último capítulo se encontram. “Este encontro do fim com o começo, como já foi observado, forma um anel de ferro, em cujo círculo sem saída se fecha a vida esmagada da pobre família de retirantes agregados-retirantes, mostrando a poderosa visão social de Graciliano Ramos [...]” (CANDIDO, 1992, p. 107). Tanto o primeiro capítulo denominado “mudança” e o último “fuga” demonstram que a família está em um ciclo sem fim, estando sempre em busca de algo, sendo que a mudança não caracteriza algo bom, e a fuga é mais uma vez, o destino da família.

O filme busca centrar nas ações principais da obra, diferente do que acontece no livro, onde há muitas descrições, principalmente dos personagens, porém é mantido no filme o destaque ao ambiente, mostrando um espaço dominado pela seca. O fato das imagens do filme serem em preto e branco e a intensa luminosidade, constroem o clima opressivo e seco onde a família vivia, como forma de demonstrar um espaço social repleto de desigualdades cujos integrantes lutam dia após dia contra a falta de água, alimento e de trabalho.

Além dos recursos visuais, os recursos sonoros do filme contribuem para a ideia de sofrimento que será retratada a história, assim como ressalta Johnson: “No decorrer do filme, o som do carro de boi torna-se uma espécie de sinédoque auditiva que encapsula o Nordeste, por meio de sua denotação (o carro de boi evoca o atraso técnico da região) e de sua conotação: o som, que é muito desagradável, constitui por si só uma estrutura agressiva. Simultaneamente, a roda opera como metáfora, lembrando, em sua circularidade, os períodos cíclicos de seca na região”. (2003, pg. 42). Isso significa dizer que os sons produzidos pelo filme são importantes para darem maior significado ao ambiente que em que a família estava vivendo, caracterizando os sofrimentos, a miséria, os questionamentos e as incoerências sociais presentes no espaço precário da seca.

O livro e filme Vidas Secas são marcados por uma combinação e confusão entre seres humanos e animais. Os personagens humanos se mostram de maneira rude, vítimas do sofrimento causado pela seca. Durante diversas passagens do livro e do filme, a comparação entre os retirantes e animais, em especial Fabiano, é explícita. No capítulo “Fabiano” há uma conversa entre o personagem e o narrador, na qual Fabiano diz a si mesmo que é um homem, mas em seguida se corrige dizendo que é um bicho, como se sentisse vergonha de se considerar um homem. Outra passagem que demonstra a condição de bicho associada à Fabiano é: Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais. Os seus pés duros quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia. (RAMOS, 1992, p. 19).

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