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Surdez Pesquisadores que procuram diferenças

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Por:   •  8/12/2014  •  Relatório de pesquisa  •  1.890 Palavras (8 Páginas)  •  292 Visualizações

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A SURDEZ

Um olhar sobre as diferenças

1. Os Estudos Surdos em Educação: problematizando a normalidade

Introdução ao primeiro olhar: o que muda na educação dos surdos quando se diz que alguma coisa muda?

Tem-se acentuado, nas últimas três décadas, um conjunto novo de discursos e de práticas educacionais que, entram outras questões, permite desnudar os efeitos devastadores do fracasso escolar massivo, produto da hegemonia de uma ideologia clinica dominante na educação dos surdos.

As ideias dominantes, nos últimos cem anos, são um claro testemunho do sentido comum segundo o qual os surdos correspondem, se encaixam e se adaptam com naturalidade a um modelo de medicalização da surdez, numa versão que amplifica e exagera os mecanismos da pedagogia corretiva, instaurada nos princípios do século XX e vigente até os nossos dias.

A mudança registrada nos últimos anos não é, e nem deve ser, compreendida como uma mudança metodológica dentro do mesmo paradigma da escolarização. O que estão mudando são as concepções sobre o sujeito surdo, as descrições em torno da sula língua, as definições sobre as politica educacionais, a análise das relações de saberes e poderes entre adultos surdos e adultos ouvintes, etc.

Ainda hoje, se percebe a necessidade de uma transformação ao nível das representações que conformam os poderes e os saberes clínicos e terapêuticos. Uma transformação que supõe uma análise aprofundada sobre algumas metanarrativas constituídas como grandes “verdades” ancoradas na educação dos surdos.

O fato de que a educação dos surdos não se atualize em sua discussão educativa pode revelar a presença de um sentido comum que estabelece uma cadeia de significados obrigatórios, como a seguinte: surdos – deficientes auditivos – outros deficientes – educação especial – reeducação – normalização – integração. Isto é, a pedagogia para surdos se constrói, implícita ou explicitamente, a partir das oposições normalidade/anormalidade, saúde/patologia, ouvinte/surdo, maioria/minoria, oralidade/gestualidade, etc.

Por estas razões, uma nova perspectiva não deveria contentar-se simplesmente com a denúncia do fracasso na sua raiz quantitativa e na sua dimensão escolar, nem trabalhar somente sobre os mecanismos possíveis para remediá-lo dentro de uma mesma lógica discursiva.

Introdução ao segundo olhar: as representações sobre a surdez podem mudar?

A temática da surdez, na atualidade, se configura como território de representações que não podem ser facilmente delimitadas ou distribuídas em “modelos sobre a surdez”. O mapeamento dessas diferentes representações requereria algo mais do que uma cronologia sequencial e descritiva das concepções.

Por que uma análise desse tipo pode ser importante?

Em primeiro lugar, porque, desse modo, se deixa de pensar numa perspectiva segundo a qual é possível afirmar que existem representações corretas ou incorretas sobre a surdez, e, mais ainda, que elas podem ser, simplesmente, limitadas a categorias de verdade ou falsidade.

Por outro lado, essas representações não estão, nem necessária e nem naturalmente, separadas nas práticas discursivas e nos dispositivos pedagógicos. Ou seja, a sua separação resulta artificial quando se trata de objetivar um determinado espaço educacional.

Wrigley (1996) nos propõe pensar a surdez não como uma questão de audiologia, mas a um nível epistemológico. Essa definição não exclui o seu próprio contraste, quer dizer, a existência de representações nas quais a surdez possa ser entendida como privação sensorial, como um mundo, uma vida marcados por uma ausência.

O movimento de tensão e ruptura entre a educação de surdos e a educação especial

Em outros trabalhos (SKLIAR, 1997c), define a educação especial como um subproduto da educação, cujos componentes ideológicos, políticos, teóricos, etc. são, no geral, de natureza discriminatória, descontínua e anacrônicas, conduzindo a uma prática permanente de exclusão e inclusão.

A necessidade de construir um território mais significativo, para a educação dos surdos, e de não limitar nossas expectativas a uma “melhoria” dos paradigmas dominantes na educação especial, nos conduz a um conjunto de inquietações acerca de como narramos aos outros, de como os outros se narram a si mesmos, e de como essa narrações são, finalmente, colocadas de um modo estático nas politicas e nas praticas pedagógicas.

Reflexões sobre o ouvintismo como ideologia dominante: logocentrismo, etnocentrismo e medicalização da surdez e dos surdos

O que é, mais explicitamente, o ouvintismo?

Trata-se de um conjunto de representações dos ouvintes, a parti do qual o surdo está obrigado a olhar-se e a narrar-se como se fosse ouvinte. Além disso, é nesse olhar-se, e nesse narrar-se que acontecem as percepções do ser deficiente, do não ser ouvinte; percepções que legitimam as práticas terapêuticas habituais. Nas palavras de Wrigley:

Para aquele que ouve, a surdez representa uma perda da comunicação, a exclusão a partir do seu mundo. Em termos cosmológicos, é uma marca de desaprovação. Ela é alteridade, uma estigma para se ter pena e, por isso, exilada ás margens do conhecimento social (...). Seu “silencio” representa banimento ou, na melhor da hipóteses solidão e isolamento. (1995, p. 16).

Como toda ideologia dominante, o ouvintismo gerou os efeitos que desejava, pois contou com o consentimento e a cumplicidade da medicina, dos profissionais da área de saúde, dos pais e familiares dos surdos, dos professores e, inclusive, daqueles próprios surdos que representavam e representam, hoje, o ideais de progresso da ciência e da tecnologia – o surdo que fala, o surdo que escuta.

Reflexão obre o fracasso educacional dos surdos

A falta de compreensão e de produção dos significados da língua oral, o analfabetismo massivo, a mínima proporção de surdos eu têm acesso a estudos de Ensino Superior, a falta de qualificação profissional para o trabalho, etc., foram e sã motivos para três tipos de justificação impróprias sobre o fracas na educação dos surdos. Em primeiro lugar, está a atribuição aos surdos do fracasso – fracasso, então, da surdez, dos dons biológicos naturais. Em segundo lugar, estão a culpabilização aos professores ouvintes por esse fracasso.

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