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Ternu Manuel Bandeira

Por:   •  26/10/2016  •  Trabalho acadêmico  •  1.296 Palavras (6 Páginas)  •  336 Visualizações

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Universidade de São Paulo

Literatura Brasileira I

Professor: Alcides Villaça

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Da ternura ao erotismo

Bianca Santos

Número USP: 9332146

São Paulo 2016

Manuel Bandeira é um poeta brasileiro nascido em Recife no ano de 1886. Denominando-se como “poeta menor” sua poesia tem como característica o lirismo, a musicalidade e a simplicidade; trazendo também imagens recorrentes como a infância e sua velha companheira: a tuberculose. Afirmando não querer mais nada que restrinja as palavras, a linguagem poética, e tendo um estilo próprio, desvinculado com a métrica, quase no caminho da prosa, contribuiu fortemente para o modernismo. No ano de 1930 saiu Libertinagem, considerado até hoje seu livro mais importante, e vinte e dois anos depois, em 1952, veio Opus 10.

Em Libertinagem encontra-se o poema “O impossível carinho”, entre outros mais famosos, como, por exemplo, “Vou-me embora pra Pasárgada”. Em Opus 10, o poema faz paródia de um texto bíblico encontrado no Antigo Testamento: “Cântico dos cânticos”. São esses os poemas analisados nesse ensaio.

Como promete o título desse ensaio, começaremos primeiro pela ternura encontrada em “O impossível carinho”. É importante observar a carga altamente lírica do poema, uma vez que tudo se passa dentro do sujeito. Hegel consegue ilustrar bem essa questão ao afirmar que a lírica não é a ilustração do acontecimento real, e sim, o modo de apreensão e o sentimento do sujeito[1]. E é justamente isso que encontramos no poema. Não há uma ilustração de situação, nenhuma explicação sobre o porquê da pessoa pela qual o eu-lírico sente ternura estar com o coração despedaçado; embora não seja difícil imaginar o motivo. O eu-lírico diz, também, querer saber e poder devolver as mais puras alegrias da infância para curar o coração do outro.

Vemos aí uma marca forte da estilo de Bandeira: a importância que dá a infância. A infância do próprio poeta serviu como inspiração e como seu primeiro cenário. Pode-se imaginar que sua infância tenha sido feliz e que o mesmo acredite que essa é uma fase da vida onde as alegrias são mais autênticas e onde corações despedaçados não existam.

Voltando, então, ao lirismo do poema pode-se dizer que, ainda que o poeta esteja falando do outro, do coração alheio, é dele próprio toda a angústia expressada.

Existe um ponto interessante aqui. Bandeira, como o poeta lírico que é, utiliza o outro para expressar o “eu” e o “eu” expresso no outro. Por exemplo, em uma primeira leitura, uma leitura mais inocente, pode-se acreditar que o eu-lírico e o outro sejam próximos e que ele quer devolver-lhe toda a alegria que o outro lhe dá. No entanto, uma segunda leitura, cria um efeito de distanciamento, uma vez que pode tratar-se de um amor unilateral e quem está com o coração despedaçado seja, também, o sujeito. O “eu” está expresso no outro e o outro no “eu” porque ambos estamos na mesma situação, ainda que, provavelmente, por causas distintas.

 Com essa percepção todo o poema muda de sentido, até mesmo o título. Talvez o impossível carinho se deva ao fato de que o eu-lírico não pode aproximar-se da pessoa em questão. Vê o sofrimento da pessoa de longe ao mesmo tempo em sofre junto, pois deseja aproximar-se com a sabedoria e poder de devolver-lhe as puras alegrias da infância. Essa alegria que a pessoa lhe faz sentir pode ser pelo simples fato de existir. Tanto que o eu-lírico não quer falar-lhe sobre o desejo que sente e sim de sua ternura, como se o desejo fosse algo corriqueiro, mas a ternura fosse algo raro. Talvez quase tão puro quanto as alegrias da infância.

O ato de ternura, então, torna-se impossível em dois níveis distintos. O primeiro é porque não é possível devolver as alegrias da infância e o segundo é porque, ainda que o eu lírico soubesse como realizar tal tarefa, não pudesse realiza-la.

“Cântico dos cânticos”, entretanto, vai por outro caminho. O foco é a musicalidade em uma duplicidade de vozes. Para Hegel, a poesia lírica volta-se para a música a fim de que a palavra se torne melodia efetiva e canto[2]. É importante lembrar que tal poema foi inspirado por um livro de mesmo nome. A opinião tradicional afirma que Salomão, filho do Rei Davi, seja o autor e que ele o teria dedicado a Rainha de Sabá. O tema do livro são as poesias de amor, em duas vozes, com versos curtos e ritmados.

Assim como nas poesias do livro, o poema desprende-se de um único sujeito e diferentes personagens têm voz, sendo, então, caracterizados por sua linguagem. Também, como no livro, a cena é apresentada através de um diálogo rico em imagens.

“Cântico dos cânticos” pode ser visto justamente como um dueto musical, com vozes se complementando e completamente opostas. Entretanto, como não pode deixar de ser notado, apesar dessas vozes serem opostas, elas se completam tão bem que acaba gerando o efeito da rima. O que aumenta ainda mais a sensação da música. A primeira voz, a feminina, parece ser mais poética, mais leve e delicada nas expressões, algo como a caracterização do seu sexo. Enquanto a segunda voz, a masculina, é expressa pela virilidade e uma certa agressividade.

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