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VARIAÇÃO DE /t/ EM POSIÇÃO PREVOCÁLICA NO FALAR PARAENSE

Por:   •  12/1/2017  •  Artigo  •  3.237 Palavras (13 Páginas)  •  213 Visualizações

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VARIAÇÃO DE /t/ EM POSIÇÃO PREVOCÁLICA NO FALAR PARAENSE

                                                                Marilucia Oliveira (UFPA)

Tainah Ferreira (UFPA)

Resumo: este trabalho tem por objetivo descrever a variação de /t/, mais especificamente sua palatalização,  em posição prevocálica, discutindo, com base nos dados de frequência quais os contextos  que são mais ou menos favoráveis à aplicação da regra. A palatalização de /t/ ocorre, comumente, diante das vogais altas no falar paraense. Mas foram analisados todos os contextos vocálicos, já que, em alguns falares, pode ocorrer assimilação regressiva. Foram encontradas as variáveis [t] (alveolar) e [t(africada) nas cidades pesquisadas. No presente trabalho, procuramos descrever a variação de /t/, considerando aspectos internos e externos. Além da descrição mencionada, confeccionamos carta linguística, a fim de indicar o percurso dessa variação nas cidades paraenses. Na pesquisa, foram selecionadas dez regiões do Estado do Pará: Abaetetuba, Altamira, Belém, Bragança, Breves, Cametá, Conceição do Araguaia, Itaituba, Marabá e Santarém. São essas as localidades utilizadas no projeto ALiSPA, atlas de onde são oriundos os dados aqui analisados.

1 INTRODUÇÃO

Uma forte característica no falar dos paraenses é a palatalização da consoante alveolar /t/, que passa a ser produzida como /t/. Isso marca de forma significativa nosso dialeto.

Ao longo da pesquisa, utilizamos para a contagem dos dados, o programa de análise de regra variável Varbrul que forneceu as porcentagens usadas neste trabalho. Assim, pudemos descrever as regularidades que determinam as realizações de /t/ e /t/ nas dez cidades mencionadas. É importante ressaltar que existem outras variações do segmento alveolar aqui tratado, mas tivemos raras ocorrências das mesmas. Procuramos, por meio deste estudo, contribuir para a descrição do português falado no Pará e no Brasil e estabelecer comparações que possam enriquecer as pesquisas nessa área de estudo.

2 METODOLOGIA

Para a realização deste trabalho, levo-se em consideração a análise geossociolinguística. A partir de agora, descrevem-se os procedimentos adotados para sua execução. Inicialmente, realizou-se a escuta dos dados sonoros contidos no CD-ROM do ALiSPA que é um programa desenvolvido para armazenar os dados lingüísticos em um banco, coletados por meio de pesquisa de campo e distribuídos entre quatro informantes do sexo masculino e feminino de duas faixas etárias: 19-33 e 40-70. Nele há a possibilidade de escuta e edição desses itens, bem como o acesso a informações referentes às características históricas das regiões estudadas. Em seguida, fez-se a transcrição fonética dos itens que apresentam a variável em estudo. Depois, foram instituídos os grupos de fatores internos e externos que poderiam influenciar direta ou indiretamente a realização variável de /t/. Feito isso, contabilizou-se os dados, apontando-se os percentuais de ocorrências e as possíveis hipóteses a confirmadas nos redimensionamentos dos grupos de fatores. Feitos os redimensionamentos, descrevemos os resultados denominados finais. Além disso, organizou-se os dados para confecção de  cartograma, a fim de se demonstrar a distribuição espacial da variação de /t/ no falar paraense.  

O presente trabalho tem como base teórico-metodológica a Sociolinguística Variacionista que admite a variação linguística e procura descrever e sistematizar as mudanças que ocorrem numa dada língua. Foram utilizados, a partir do banco de palavras do Projeto do Atlas Linguístico do Pará (ALiPA), somente dados do QFF e o do QSL. Após a instituição dos grupos de fatores, foi feita a codificação dos dados. Para cada fator linguístico e social foi atribuído um código. Segue, abaixo, o Quadro 01, que exemplifica o processo de codificação:

Quadro 01 – Exemplo de codificação no Programa Varbrul

Vocábulo

Codificação

Prateleira - 

2al&^b}<3

Foram estabelecidos oito grupos de fatores para verificar seu efeito sobre as variável em estudo, quais sejam: contexto precedente, contexto seguinte à vogal alta, qualidade do segmento seguinte, tonicidade, classes de palavras, sexo, idade e grupo geográfico. As variáveis dependentes constituem a não-palatalização (1) ou a palatalização (2) de /t/. Esses grupos são comumente avaliados em trabalhos de natureza sociolinguística quando se estuda a palatalização de consoantes coronais, no entanto, cabe ressaltar que, aqui, são instituídos como forma de se testar hipótese. Suspeita-se que muitos desses grupos, na verdade, não exercem influência sobre o fenômeno, mas que tem sua frequência ou peso relativo inflacionado por outros fatores que realmente tem efeito sobre essa variação.

 

3. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

        Nessa seção apresentam-se os resultados da pesquisa realizada. Serão apresentados, primeiramente, os resultados preliminares. Sua apresentação é importante, a fim de que se compreendam os procedimentos que motivaram a manutenção ou retirada de alguns grupos de fatores da análise final. Isso é necessário, já que, quando do estabelecimento dos grupos de fatores, constituíram-se grupos que se caracterizaram como hipóteses. É o manuseio e análise gradativa dos dados que dirão se devem ou não permanecer na análise, a fim de que se garanta uma investigação rigorosa e detalhada.  

  1. Resultados Preliminares

Os primeiros resultados obtidos foram baseados em contabilização dos dados antes de serem submetidos ao programa Varbrul. Neles constavam tanto os contextos que sofreram a palatalização como aqueles em que não houve a aplicação da regra, para demonstrar que, no Estado do Pará, a regra é válida para contextos em que /t/ esteja diante de vogais altas, ou seja, trata-se de uma assimilação progressiva que pertence ao domínio da sílaba e não da palavra como ocorre em alguns falares baianos (Cf. Mota, 1995).

O banco de dados do ALISPA é composto de 159 vocábulos. Ao todo foram analisados 1.214 dados. Foram selecionados aqueles que apresentaram /t/ em contexto prevocálico; o que totalizou 32 vocábulos. Em apenas dez desses dados /t/ apresentou realização variável, como se pode observar no quadro 02:

Quadro 02: Relação de vocábulos que compuseram o corpus  

VOCÁBULOS

1. Noite

17. Tesoura

2. Planta

18. Torneira

3. Terreno

19. Presente

4. Prefeito

20. A gente

5. Santo Antônio

21. Perguntar

6. Dente

22. Muito

7. Peito

23. Mentira

8. Afta

              24. Tarde

9. Vômito

25. Botar

10. Tio

26. Manteiga

11. Alto

27. Montar

12. Bonito

28. Aftosa

13. Inocente

29. Elefante

14. Certo

30. Borboleta

15. Prateleira

31. Rato

16. Televisão

32. Teia

...

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