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Depoimento de uma professora sobre inclusão e sua experiênciа

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Por:   •  31/5/2014  •  Trabalho acadêmico  •  3.473 Palavras (14 Páginas)  •  422 Visualizações

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DEPOIMENTO DE UMA PROFESSORA SOBRE INCLUSÃO E SUA EXPERIÊNCIA;

Este relato inicia-se numa tarde do final do mês de julho de 2005, quando, sem pedir licença, sem avisar e nem se importar, Matheus entrou em minha vida. Justo na minha vidinha tranqüila de professora de literatura infantil na Escola Municipal Alcindo de França Pacheco, na cidade de Guarapuava, no estado do Paraná.

Vale dizer que tudo aconteceu porque a professora da 1ª série afastou-se por licença médica e a diretora da escola incumbiu-me de assumir a turma por aproximadamente quinze dias. Na oportunidade fez questão de lembrar que era uma turma considerada muito boa e que minha tarefa se resumiria em dar continuidade ao trabalho da professora licenciada, sem deixar diminuir o rendimento que a turma já vinha apresentando. Assustada diante de tal responsabilidade me senti desafiada e aceitei a substituição temporária.

Meus Primeiros Dias de Aula. O primeiro dia transcorreu sem maiores problemas, a não ser por um menininho que sentava na primeira carteira da fila e que se limitou a me olhar fixamente durante a tarde toda, sem esboçar nenhum tipo de emoção ou reação. Já o conhecia, era o Matheus, que tinha Síndrome de Down.

Já tinha lido e estudado sobre inclusão na minha graduação em Pedagogia. Confiante nos conhecimentos que a universidade havia me oferecido a respeito, fui verificar, em seu caderno, o registro da aula do dia e os conteúdos trabalhados pela outra professora. Qual foi a minha surpresa ao perceber que o seu caderno estava praticamente em branco e, da minha aula, não havia nem sinal de qualquer esboço de registro.

Preocupada perguntei o que fazer diante dessa situação desconfortável e como resposta ouvi que era só dar uma folha e lápis de cor, que ele adorava passar a tarde desenhando. Saí em silêncio, surpresa com o que ouvira.

No outro dia, um choque ainda maior. Por puro ócio, Matheus destruiu sua fralda descartável e espalhou pela sala, para chamar a minha atenção sobre sua presença no ambiente. Cheguei em casa e chorei. Chorei diante da impotência e do orgulho atingido, justo eu que sempre fui tão dedicada ao meu trabalho, passar por uma experiência tão negativa de ter um aluno que não aprendia o que eu ensinava. Enchi-me de coragem para outro dia de trabalho que foi marcado por nova decepção: o Matheus começou a correr pela sala, se jogar no chão e a riscar as atividades dos colegas, e eu ali, tentando demonstrar a ele que precisava aprender do meu jeito. Então os alunos me repreenderam dizendo que tinha que deixar o Matheusinho brincar, pois ele era doente e por isso podia fazer o que quisesse.

A Procura de Mudanças. Transtornada resolvi fazer alguma coisa por ele mas, principalmente, por mim, afinal o que minhas colegas iriam dizer da minha falta de "domínio de classe"?. Em casa, busquei no meu antigo material da universidade algo que tratasse de inclusão e fiquei horas debruçada sobre ele para tentar entender o que eu tinha de fazer. Como já era final de semana, decidi procurar atividades para que o Matheus se ocupasse e com isso "eu" pudesse trabalhar sossegada, afinal estava na sala para ensinar e não para perder tempo com alguém "que não queria aprender".

Nos dias que se seguiram, após entregar as atividades ao Matheus, percebi sua curiosidade diante dos exercícios que estavam na folha. Rapidamente pegava um lápis e tentava fazer, porém a dificuldade que ele tinha em movimentar os dedos, até para segurar o lápis, faziam com que desistisse logo de início. Frente a isso, comecei a observá-lo e qual não foi minha vergonha ao entender que não era o Matheus quem tinha que aprender o que eu propunha, mas eu é que precisava entendê-lo e adequar as atividades ao seu nível de aprendizagem.

Na sexta-feira, meu último dia na turma, fui avisada de que ficaria mais um mês, pois a licença da outra professora havia sido prolongada. Decidi investir. Então providenciei uma caixa de massa de modelar e todo dia deixava que Matheus escolhesse uma cor de massinha para brincar. Para tornar os conteúdos mais fáceis e atrativos, eu trazia músicas e brincadeiras como auxiliares no processo de ensino - aprendizagem. Todos gostavam, inclusive o Matheus, que num rompante, num desses momentos gritou uma das palavras contida na música. Todos pararam de cantar e ficaram perplexos, afinal ele não falava com ninguém, somente balbuciava.

Estudos, Pesquisas e Mateus. Acontece que a licença da professora estendeu-se quase até o final do ano letivo e eu assumi a turma definitivamente. No intuito de facilitar a aprendizagem de Matheus, montei um material de pesquisa sobre Síndrome de Down e ali fui apresentada a autores que desconhecia e que sem dúvida têm sido meus companheiros nessa caminhada. Dentre eles Mantoan (2001), que descreve, com maestria, os passos da inclusão na escola, as ações mais comuns e as reais necessidades e Schwartzman, que desperta o educador na percepção de que: Entre outras deficiências que acarretam repercussão sobre o desenvolvimento neurológico da criança com Síndrome de Down, podemos determinar dificuldades na tomada de decisões e iniciação de uma ação; na elaboração do pensamento abstrato; no cálculo; na seleção e eliminação de determinadas fontes informativas; no bloqueio das funções perceptivas [...]; nas funções motoras e alterações da emoção e do afeto (1999, p. 247). E, ainda, segundo Werneck (1995, p. 164): "[...] os portadores de Síndrome de Down têm capacidade de aprender, dependendo da estimulação recebida e da maturação de cada um. O desenvolvimento afetivo e emocional da criança também adquire papel importante[...]".

Conhecendo um pouco das dificuldades de Matheus, comecei a buscar atividades que o desafiavam e chamavam sua atenção e que dessa maneira fosse melhorando os resultados. Eu estava feliz e o Matheus mais ainda, pois quando realizava as atividades sentia-se orgulhoso e mostrava para os colegas quando as terminava. Diante disso, construí uma postura de vibrar com ele, cada vez que completava com êxito seus trabalhos.

Sobre a valorização das atividades, Pereira apud Aranha (2005) destaca que: Quando as atividades são valorizadas pelo professor e pelos colegas, o aluno passa a querer realizar mais e mais trabalhos, tanto na escola, quanto fora dela. Essa escola passa a ser considerada local de apoio, de motivações, de estímulo ao crescimento, de desenvolvimento e busca do saber.

Todos Crescendo Juntos. Inclusão Escolar? Outra atitude que tomei foi de mostrar que o Matheus não era um coitadinho e que não precisava da piedade dos colegas. Ele era igual a todos os outros alunos e, de Matheusinho, passou a ser chamado de Matheus, construindo uma identidade e, com

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