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A ANÁLISE MUSICAL

Por:   •  13/11/2021  •  Trabalho acadêmico  •  2.113 Palavras (9 Páginas)  •  90 Visualizações

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ANÁLISE MUSICAL

Reflita, criticamente, estabelecendo uma analogia (comparação) com o entendimento multideterminado da Orientação Profissional, tecendo possíveis diálogos/aproximações do trecho "Vem vamos embora, que esperar não é saber; Quem sabe faz a hora, não espera acontecer..." com as nossas discussões efetuadas em aula, atinentes à temática transversal da escolha, entendida como um atravessamento contínuo, dinâmico e multifacetado.

O ser humano é um ser gregário e só existe, ou subsiste em função de seus relacionamentos sociais e, como tal, é constituído nas e pelas relações sociais. Para ilustrar tal afirmação, menciona-se a história publicada pela Universidade Federal de Santa Catarina (IFSC) da antropóloga Margaret Mead que, anos atrás respondeu a uma estudante sobre o que ela considerava ser o primeiro sinal de civilização em uma cultura. Esperava-se que Mead falasse sobre potes de barro, ferramentas para caça, pedras de amolar ou artefatos religiosos, todavia, sua resposta foi que a primeira evidência de civilização foi um fêmur quebrado de 15.000 anos encontrado em um sítio arqueológico. O fêmur é o mais longo osso humano, que liga o quadril ao joelho e leva cerca de seis semanas para cicatrizar. Alguém teria cuidado daquele fêmur quebrado, que não sobreviveria sem ajuda, por que, como ir atrás de água e alimento com a perna fraturada, durante tanto tempo? Assim, diz ela, o primeiro sinal civilizatório é o cuidado com o outro. Vê-se, pois, como o processo grupal, social, foi essencial para a sobrevivência humana e para o caminhar da humanidade, que surgiu neste instante: o do cuidar, amparar o outro. E, ilustrando as diferenças individuais desde o início da humanidade, um filme antológico também usa um fêmur, mas, com destinação diversa e, com uma trilha sonora espetacular (Assim falou Zaratustra, de Richard Strauss, em 2001, Uma Odisseia no Espaço, dirigido por Stanley Kubric, em 1968) https://www.youtube.com/watch?v=EGrKMF5OgfE ), mostra a dicotomia que acompanha o homem desde seus primórdios.

 O homem, além de seu aparato fisiológico, de sua evolução biológica enquanto espécie,  é produto histórico e social, logo, mutável. Como ser social que  é, o homem é produto e produtor de sua história, causa e consequência das suas interações relacionais, fazendo-se através da mediação social, através do outro.

Construindo-se dentro de seu contexto social, que é amplo e complexo, o homem deve ser encarado como multifacetado e multideterminado, como um sujeito biológico, histórico, social, cultural e político em constante movimento, acompanhando a sociedade, que é dinâmica, em incessante mudança e transformação. Todavia, apesar dessa relação dialética e indissolúvel que se estabelece entre o homem e a sociedade, ele consegue preservar sua singularidade, pois internaliza suas experiências existenciais de maneira única e singular.

 O mundo circundante influencia e ajuda a ser o que somos, mas, a maneira como se recebe e metaboliza tal influência é única, pessoal e intransferível, ou seja, o homem é fruto de uma amálgama de características singulares e pessoais, com nome, sobrenome, código genético e “registro” social diferente de todos os outros bilhões de seres humanos do planeta. A diferença é o que o individualiza e singulariza, num processo dialético contínuo e permanente de inclusão e exclusão, como resultado de um processo de configuração, em que indivíduo e sociedade mantêm uma relação constitutiva, na qual um constitui o outro.

A subjetividade é significada socialmente, numa construção individual e social, numa unidade entre o simbólico e o emocional, numa união entre significante e significado, produzindo uma subjetividade única, por isso, se escolhe. O ato de escolher é uma das expressões únicas, singulares, sociais e históricas do indivíduo, revelador de sua subjetividade, como ensina Aguiar (2006), que cita Vygotski (1991) que afirma que “o que mais caracteriza o domínio da própria conduta humana é a escolha, e essa é a essência do ato volitivo.” (p.14, grifos nossos).

 O processo de escolha é um processo de aprendizagem, mediado pelo histórico, social, cultural, político, ideológico e pela subjetividade, que orientam a escolha. Não se pode perder de vista as diferentes qualidades de escolha e, no processo de orientação profissional, deve-se tentar compreendê-las, perquirindo-se, por exemplo, como fala Aguiar (2006, p. 14) sobre

“saber o conhecimento que o sujeito tem, o conhecimento que pensa que tem, o conhecimento que não tem, aquele que acredita que não tem, o que escolhe e o que deixa de escolher e, é claro, apreender as condições vividas pelo sujeito”.

E, nessa tentativa de compreensão, deve-se  analisar os porquês, de por que  o sujeito faz o que faz, escolhe o que escolhe, deve-se saber da importância das “tendências afetivo-volitivas” para a compreensão das ações humanas, como ensina Vygotski , na mesma obra imediatamente acima citada (p.15).

Pode-se afirmar que o processo de escolha é complexo, multideterminado e emocionado, não se podendo esquecer do elemento necessidades (engendradas no e pelo movimento histórico, político e social), que também são constituídas subjetiva e historicamente. As necessidades nascem das carências, das faltas que se tem, eis que somos seres eternamente faltosos, e são significadas socialmente, o que as tornam motivos para ação, impulsionando e orientando o sujeito em suas escolhas, que são decorrentes das vivências, dos processos de significação permeadas pelas emoções. Toda escolha é emocionada, não existe escolha que não tenha em seu percurso a emoção, porque é isso que nos torna humanos: somos seres dualmente constituídos, numa permanente busca de equilíbrio entre o objetivo e o subjetivo, entre o afetivo e o cognitivo, entre a razão e a emoção. O ser humano é um ser racional e emocional, e suas escolhas são reflexos do que ele é, são  a parte visível de sua essência, que é invisível.

Saint- Exupéry diz que o essencial é invisível aos olhos, e isso é verdade na maior parte do tempo, mas, o essencial transborda do ser através de suas escolhas, que traduzem muito do que ele é. Quando ele escolhe o que falar, o que fazer, como falar e como fazer, por que falar e por que fazer, quando calar, quando não fazer, como viver e, inclusive, algumas vezes, quando e como morrer, ele está visibilizando sua subjetividade naquele momento.

A escolha de ouvir/cantar uma canção, por exemplo, diz bastante do sujeito. O compositor da música Pra não dizer que não falei das flores é Geraldo Vandré, um paraibano radicado no Rio de Janeiro à época da criação dessa música (1968), e hoje vive em São Paulo. Essa música é considerada o hino da resistência civil e estudantil à ditadura militar brasileira (1964-1985). Ela protagonizou um momento emblemático da história dos festivais de música popular brasileira da década de 60, pois, embora tenha tirado o segundo lugar no Festival Internacional da Canção, em 1968, perdendo para Sabiá, de Tom Jobim e Chico Buarque, o público vaiou a primeira colocada e a cantou em uníssono, colocando a canção no pódio de hino de resistência à ditadura militar. Dizem alguns estudiosos, que ela foi o estopim para o Ato Institucional nº 5 (AI-5), em 1968, que recrudesceu a censura, a violência e a perseguição do governo militar aos movimentos políticos liberais e/ou de esquerda. Geraldo Vandré teve sua música censurada, proibida de ser executada e teve que se exilar no Chile, Peru e, depois, em países europeus (Brasil, 1999).

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