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A Catena fina que cega a história da cidade

Por:   •  19/6/2018  •  Artigo  •  6.789 Palavras (28 Páginas)  •  251 Visualizações

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QUE QUADRO PINTARAM PARA A ‘LOUCURA’ EM BARBACENA? – a catena fina que cega a história da cidade

Cassio de Barros Barreto[1]

Resumo

O artigo em questão aborda sob o ponto de vista cultural, filosófico e psicossocial a saúde pública, tendo como caso a história da loucura em Barbacena. Cidade que abrigava o famigerado Hospital Colônia, palco de atrocidades contra a vida humana, denominada culturalmente como "cidades dos loucos". Os "trens de doido" desembarcavam pessoas indesejáveis a sociedade, com destino, o colônia. No entanto, a reforma psiquiátrica aqui estudada busca refletir a respeito de uma nova ótica para saúde mental. Os desdobramentos históricos, científicos, políticos, sociais e culturais presentes neste artigo mostram como a loucura é um assunto recorrente na literatura, porém ainda muito mal compreendida por grande parte da sociedade ao longo dos séculos.

Palavras Chave: Loucura. História da loucura. Política em saúde mental. Instituições psiquiátricas. Reforma psiquiátrica. Festival da Loucura. Hospital. Colônia. Grande Internação. Barbacena.

Abstract

The article approaches philosophical and psychosocial public health, taking as case the history of the madness in Barbacena. City that housed the notorious "Hospital Colônia" stage of atrocities against human life, termed it culturally as "cities of the mad". The "crazy trains" landed undesirable beings in society, bound for the "Colônia". However, the psychiatric reform studied here seeks to reflect on a new approach to mental health. The historical, scientific, political, social, and cultural developments in this article show how madness is a recurring subject in literature, but still very poorly understood by much of society over the centuries.

Keywords: Madness. History of Madness. Mental Health Policy. Psychiatric Institution. Psychiatric Reform. Festival of madness. Hospital Colônia. Large hospitalization. Barbacena.

Introdução

O presente artigo – Que quadro pintaram para a história da ‘loucura’ em Barbacena? – a catena fina que cega a história da cidade – se trata de um relato de experiência, a partir do qual procuramos descrever através de um olhar filosófico e psicossocial, inserido no campo da saúde pública e cultural da história da loucura em Barbacena, como sua história tem sido contada, sobretudo pelo outro. Isto é, por aqueles que contam a nossa história, desde o período conhecido como a Grande Internação Psiquiátrica até o presente.

Parte deste texto foi extraída de uma palestra proferida no Seminário Técnico-Científico e Cultural do 5º Festival da Loucura de Barbacena ocorrido em julho de 2010, no qual trouxemos alguns apontamentos gerais sobre o aspecto mencionado, sendo que aqui nos estenderemos um pouco mais e amiúde, formulando por meio de comparações sobre a história da loucura em geral e como ela continua a ocupar um lugar “especial” em nossa cultura desde o período medieval até os dias de hoje.

Especial porque incômoda e permeada por lacunas deixadas ainda abertas e mal resolvidas na história geral da loucura no Brasil, e em particular, na história de Barbacena. Uma história contada muito mais como peça de “denúncia” ou de “arte”, sempre com tons de documento de ódio e vaidade, quase sempre descomprometido com a totalidade dos fatos e seus desdobramentos históricos, científicos, sociais, culturais e políticos de antes, durante e depois, assim como com suas consequências.  Pois a loucura sempre esteve às avessas na História e nos discursos alheios, e subtraída dos seus direitos mínimos, como por exemplo, o de ir e vir, desde o período Medieval, passando pela era Moderna e a Renascença, chegando aos dias de hoje. Sendo sempre o outro que a retorna como seu mandatário e depositário, para nosso assombro, hoje nos anos dois mil, novamente como no período pós-medieval, como uma Reforma chamada Psiquiátrica, logra resolver a questão. E a cidade e os cidadãos, sobretudo, o dito louco, que de fato a vivenciam e vivenciaram anteriormente, sofreram, e ainda hoje sofrem suas consequências é quem a colhe como já recolheram fel da história. História esta, que quando contada pelo outro, na maioria das vezes, aliena ainda mais a história em geral, e em particular a história de nossa cidade.

Porém, há que se lembrar de que a cidade pertence a um Estado, e o estado pertence a uma nação, nação esta que também deve se comprometer com a tragédia de seus 60.000 cidadãos mortos somente num de seus hospitais, neste caso, o Hospital Colônia de Barbacena. Sugerimos nesse caso que o próximo festival da loucura a ocorrer, tenha ao menos dois objetivos: resgatar a identidade dos 60 mil mortos no Hospital Colônia de Barbacena e sua memória num grande Festival Nacional sobre a História da Loucura em Barbacena e Seminário Nacional e Internacional sobre a História da Loucura no Brasil, para resgatar também a memória de todos aqueles que sofreram em todos os hospitais e manicômios do Brasil. Começando por aqui, lavando a nossa alma, mas também devolvendo a Barbacena seu outro patamar (a liberdade antes que tardia), com o mínimo de dignidade. Pois aqui também é terra de letrados, juristas, senadores, poetas, artistas, todos de grande envergadura. Mas acreditamos que serão os cidadãos que darão o primeiro passo em direção a lavar a alma daquelas pessoas para cá enviadas e que aqui morreram, assim como a honra de todos os brasileiros que fizeram parte desta triste momento de nossa história, e lembrar que Barbacena não é terra de doido. E se aqui ocorreu a pior parte desta barbárie sobre a loucura, que aqui nasça este resgate. Voltemos ao escopo do trabalho.

Por nosso lado, falaremos inicialmente de Barbacena como cidadãos que habitamos a cidade, herdamos o seu legado, e daqui para o mundo, despontamos sentidos e afetos que compõe a triste história do famigerado do Hospital Colônia de Barbacena.

Criado pelo Estado de Minas Gerais após a falência do Hotel e spa de luxo e atendia a elite carioca através do ramal da linha férrea Pedro II no século anterior ao ano de 1903, ano em que seria inaugurado o famigerado Hospital Colônia, chegaremos a este ponto através um recorte geral sobre a história da loucura, a se refazer desde a Idade Média (nos asilos e hospitais); passando pelo período Moderno (com seus Manicômios); através da Renascença (nos porões dos navios das chamadas ‟nau dos loucos”); chegando à Contemporaneidade (com seus muros, grades e hospitais gerais). E de volta a Barbacena, através da história da grande internação em seu malfadado Hospital Colônia, onde pessoas foram despejadas aqui, em sua maioria como indigentes através dos “trens de doidos” (ocorrida durante quase todo o século XX). E que ainda hoje deixa reverberar marcas indeléveis na memória e afetos das pessoas que aqui vivem, na arquitetura da cidade, e sobretudo nos remanescentes deste acontecimento catastrófico. Horrores e calafrios, desde então manchando a imagem de Barbacena e de seus cidadãos reverberam no cenário nacional e mundial, uma história que impregna até o fundo de nossas almas as repugnâncias vividas por aquelas pessoas abandonadas por quase todas as pessoas dessa nação (políticos, dirigentes, trabalhadores e cidadãos responsáveis).

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