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A GESTAÇÃO E A CONSTITUIÇÃO DA MATERNIDADE

Por:   •  8/9/2021  •  Artigo  •  7.372 Palavras (30 Páginas)  •  119 Visualizações

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GESTAÇÃO E A CONSTITUIÇÃO DA MATERNIDADE

Cesar Augusto Piccinini*

Aline Grill Gomes#

Tatiana De Nardi¶

Rita Sobreira Lopes*

RESUMO. Na gravidez ocorrem mudanças biológicas, somáticas, psicológicas e sociais que influenciam a dinâmica psíquica individual e as demais relações sociais da gestante, e maneira como ela vive estas mudanças repercute intensamente na constituição da maternidade e na relação mãe-bebê. Assim sendo, o objetivo deste estudo foi investigar os sentimentos das gestantes sobre a maternidade, com destaque para a relação entre o período gestacional e a constituição da maternidade. Participaram do estudo 39 gestantes primíparas, entre 19 e 37 anos, no terceiro trimestre de gestação. A análise de conteúdo qualitativa das entrevistas mostrou que as gestantes passaram por importantes transformações corporais, pessoais e interpessoais durante a gestação e vivenciaram intensos sentimentos em relação ao tornar-se mãe. Os achados sugerem que na gestação o processo de constituição da maternidade está em intenso desenvolvimento, assim como o próprio exercício ativo do papel materno.

Palavras-chave: gestação, maternidade, relação mãe-bebê.

PREGNANCY AND MOTHERHOOD

ABSTRACT. Biological, somatic, psychological and social changes take place in pregnancy which influence the pregnant woman’s psychic dynamics and social relationships. The manner a woman experiences these changes impacts intensely on the constitution of motherhood and mother-infant relationships. Current study investigates pregnant women's feelings concerning motherhood, with special emphasis on the relationship between the pregnancy period and the constitution of motherhood. Thirty-nine primipari pregnant women, aged 19 to 37, in the third trimester of pregnancy, took part in the study. Qualitative content analysis on the interviews showed that pregnant women reported considerable body, personal and interpersonal transformations during pregnancy and experienced intense feelings related to the fact of becoming mothers. Results suggest that in pregnancy the process of constitution of motherhood is in sharp development coupled to the active exercise of the maternal role itself.

Key words: Pregnancy, motherhood, mother-infant relationships.

GESTACIÓN Y LA CONSTITUCIÓN DE LA MATERNIDAD

RESUMEN. En el embarazo ocurren cambios biológicos, somáticos, psicológicos y sociales que influyen en la dinámica psíquica individual y en las otras relaciones sociales de la gestante y la manera como ella vive esos cambios repercute intensamente en la constitución de la maternidad y en la relación madre-bebé. Así, el objetivo de esta investigación fue examinar los sentimientos de las mujeres embarazadas sobre la maternidad, con especial atención a la relación entre el período del embarazo y la constitución de la maternidad. Participaron del estudio 39 primíparas embarazadas, entre 19 y 37 años, en el tercer trimestre de gestación. El análisis de contenido cualitativo de las entrevistas mostró que las mujeres embarazadas pasaron por importantes transformaciones corporales, personales e interpersonales durante la gestación y experimentaron intensos sentimientos con respecto a volverse madre. Los resultados sugieren que en la gestación, el proceso de la constitución de la maternidad está en intenso desarrollo, bien como el propio ejercicio activo del rol materno. Palabras-clave: gestación, maternidad, relación madre-bebé.

* Doutor(a). Pesquisador(a) do CNPq e docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Unviersidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS.

# Psicóloga. Psicoterapeuta Psicanalítica. Doutora em Psicologia do Desenvolvimento.

¶ Bolsista de iniciação científica do CNPq. Acadêmica do Curso de Psicologia da UFRGS.

O processo de constituição da maternidade iniciase muito antes da concepção, a partir das primeiras relações e identificações da mulher, passando pela atividade lúdica infantil, a adolescência, o desejo de ter um filho e a gravidez propriamente dita. Contribuem também para este processo aspectos transgeracionais e culturais, associados ao que se espera de uma menina e de uma mulher, tanto dentro da família como numa determinada sociedade (Aragão, 2006; Brazelton & Cramer, 1992; Klaus & Kennel, 1992; Missonnier & Solis-Ponton, 2004; Szejer & Stewart, 1997; Stern, 1997).

Vários autores compreendem a gestação como um momento de preparação psicológica para a maternidade, no qual se está constituindo a maternidade (Bibring, Dwyer, Huntington & Valenstein, 1961; Brazelton & Cramer, 1992; Leifer,

1977; Raphael-Leff, 1997; Smith, 1999; Szejer & Stewart, 1997). A visão de Stainton (1985) vem de encontro desta concepção, uma vez que critica a utilização do termo “nova mãe” somente no período pós-natal. O autor acredita que a relação entre pais e filhos começa desde a vida intra-uterina, configurando, desde já, os papéis paterno e materno.

A gravidez é um momento de importantes reestruturações na vida da mulher e nos papéis que esta exerce. Durante esse período ela tem que passar da condição de só filha para a de também mãe e reviver experiências anteriores, além de ter de reajustar seu relacionamento conjugal, sua situação socioeconômica (Maldonado, 1997) e suas atividades profissionais. Todas estas mudanças são mais impactantes nas gestantes primíparas (Bibring et al., 1961; Klaus & Kennel, 1992; Maldonado, 1997), apesar de as multíparas também as viverem com intensidade (Klaus & Kennel, 1992; Maldonado, 1997).

São vividas, neste período, mudanças de diversas ordens - biológicas, somáticas, psicológicas e sociais (Bibring et al., 1961; Bibring & Valenstein, 1976), representando uma experiência única e intensa (Brazelton & Cramer, 1992; Klaus & Kennel, 1992; Raphael-Leff, 1997, 2000; Soifer, 1980), que influencia tanto a dinâmica psíquica individual como as demais relações sociais da mulher (Rubin, 1975). Neste processo, conteúdos inconscientes podem tornar-se conscientes ou aparecer disfarçados sob a forma de sonhos e sintomas. Assim, há possibilidade de que conflitos psíquicos sejam elaborados, e neste caso a identidade da mulher passa

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