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A Juventude e Socialização Política Atualizando o Debate

Por:   •  26/1/2021  •  Resenha  •  1.516 Palavras (7 Páginas)  •  92 Visualizações

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Fichamento: Juventude e Socialização Política Atualizando o Debate

Referência:

  • O fato de que os jovens, até atingirem sua maioridade, estão alijados de direitos políticos plenos na maioria das sociedades modernas, contribui para que a reflexão sobre Política e juventude tenha sido significativa apenas no tocante a como os jovens se preparam para a atividade política na idade adulta. (essa preparação para a atividade política consiste no conceito de socialização política)
  • Especialistas e leigos assustam-se com o declínio dos ‘valores políticos’ entre os jovens, observando atitudes de apatia, indiferença e descrédito em relação à política institucionalizada que poriam em cheque o futuro das democracias, e atestariam o afastamento do cidadão comum das decisões sobre o destino das sociedades. (crise na compreensão tradicional de política; falta de identificação por parte da população em geral e também dos jovens)
  • A socialização política objetiva formar adultos políticos com determinados perfis subjetivos. Perspectiva identitária: Essa atividade demanda determinadas capacidades ou atributos de personalidade considerados como pré-condições psicológicas para o exercício da política. O trabalho de Döbert, Habermas e Nunner-Winkler (1987), por exemplo, postula a aquisição de determinadas capacidades como a do diálogo racional, do descentramento cognitivo, da independência do juízo para o exercício e a participação nas decisões políticas. (concepção tradicional de socialização que produziu valores –ou a ausência deles- na atuação no campo político).
  • A socialização política pressupõe a delimitação entre o domínio público e privado. A preparação para adentrar questões coletivas (públicas) é realizada em âmbito privado (o que constitui uma contradição prática).
  • Dentro desse modelo, o jovem é aquilo que ainda não é, representando um ser pré-político. A participação política dos jovens está condicionada a um processo de credenciamento.
  • A modo como se compreende o processo de socialização política define as estruturas dos sistemas políticos, sua manutenção e mudanças. Assim, exigir capacidades voltadas ao pensamento racional e neutro tem produzido os seguintes efeitos:

“ cada nova geração emerge na cena política como uma tabula rasa, do ponto de vista político, sobre quem o sistema
político deve deixar suas marcas” (p. 232). Parece que, desse modo, assegura-se mais a estabilidade do sistema do que suas possibilidades de mudança, e sobretudo, maximizam-se os efeitos da transmissão geracional por se tratar de crianças, cuja condição de dependência e vulnerabilidade as conduz a idealizar as figuras de autoridade (Easton, 1968).”

  • De acordo com a concepção tradicional de socialização política, as atitudes politicas desejáveis dependem da interação da criança com a família e com a escola. (Tais experiências, por ocorrerem nesse momento de
    vulnerabilidade psicológica, teriam um impacto mais profundo, e, portanto, torna-se-iam fundamentais para determinar as atitudes do futuro adulto) -> de que tipo de vulnerabilidade psicológica estamos falando? Teoria do sujeito psicológico.
  • A noção de socialização empregada nesses trabalhos desenvolveu-se na tradição sociológica funcionalista (Parsons, 1964) em que, por meio do processo de internalização (Berger & Luckmann, 1961), os indivíduos aprendem as condutas prescritas e demandadas pelo sistema social, os chamados papéis sociais, gerados na gestão entre as motivações individuais e as normas prescritas pelas posições sociais.
  • Quais os impactos subjetivos e culturais desse tipo de socialização?
  • Ponto de vista cultural: o individualismo, o consumismo e a globalização, dentre outros aspectos, apresentam riscos para as democracias modernas, no sentido de enfraquecerem seu ‘capital social’, considerado como o ‘equipamento subjetivo sentimental e atitudinal’ dos indivíduos que se julga fundamental para a vida democrática
  • O conceito de capital social diz respeito ao mecanismo, que em tempos de descrédito da política, pode estabelecer mediações entre o cotidiano das interações sociais e o campo da política, aquilatando o nível de confiança e de solidariedade nas relações sociais e a participação nas associações (o descrédito que recai sobre as instituições democráticas x as potencialidades das associações juvenis tidas como informais).
  • Machado (1979) argumenta que os estudos de socialização política sobre-enfatizam a estabilidade política e a reprodução social, desconsiderando possibilidades de formação de uma contracultura política. Nesse sentido, parece problemático enfocar a juventude apenas como etapa moratória da cidadania, tendo em vista sua adequação ao sistema político vigente, pois se descartam as possibilidades de considerar as contraforças e contraposicões que ela pode mobilizar.
  • O sentido de comparação, pressuposto na visão de desenvolvimento psicológico, aponta um ponto de chegada que é utilizado invariavelmente para medir as diferenças resultantes entre o ponto de chegada e qualquer outro ponto da trajetória, mantendo inquestionável a direção do processo: ou seja, jovens e crianças são sempre comparados aos adultos no sentido de se avaliar negativamente suas diferenças em relação aos últimos. Consequentemente, aqueles traços, valores, virtudes e comportamentos relevantes ao processo político instituído deveriam ser adquiridos e internalizados, e não quaisquer outros (o que contribui para a estagnação e dificuldade de articular mudanças significativas e estruturais).
  • Ponto de vista subjetivo: Identidade e diferença apresentam-se como um par de oposições que caracterizam os processos de subjetivação humana e de construção da alteridade. Portanto, a identidade precisa da diferença. (a socialização de jovens voltada para uma constante comparação ao adulto de modo a esse ser um ideal a se alcançar, visa gradualmente suspender as diferenças dos jovens para igualá-los ao adulto. Esse direcionamento ao igual é o cerne de um processo de subjetivação fictício, precário).
  • A subjetividade ‘limpa’ e ‘lisa’ do adulto racional ejeta no outro da criança e do jovem o que pode ser fonte de turbulência, conflito, aspereza e engano: sejam outras formas de pensar, sentir ou construir a realidade, sejam outras maneiras de dialogar que não estejam apoiadas na argumentação racional. O desideratum seria que o processo político pudesse se tornar também ‘limpo’ e ‘liso’, levado adiante sob forma do diálogo, e finalizado quando o ‘melhor argumento vence’, quando o consenso, então, pode se estabelecer.
  • Nessa visão idealizada do processo político, crianças e jovens encarnam os atores não qualificados que trazem vicissitudes imprevisíveis ao processo político: como chegar, por exemplo, ao consenso quando os atores partem de distintas concepções de mundo, e se utilizam de códigos de comunicação variados e múltiplos? As contradições do processo político parecem se exacerbar, ou se explicitar, quando subjetividades distintas daquela expressa pelo modelo do adulto racional são cogitadas de participar do processo. (contradição constitutiva do âmbito político x linearidade e consenso idealizados).
  • A política não seria uma atividade resultado do credenciamento em que alguns podem participar e outros não, mas o processo que se constitui quando subjetividades diferentes/estranhas umas às outras, ou ainda inimigas, têm que se escutar e produzir acordos precários para a convivência.
  •  A reticência em dar voz aos jovens, como também às crianças, encontra ressonância na dificuldade de se enfrentar o desafio de, ao mesmo tempo em que se preservam valores e normas societárias, poder dar lugar ao que ainda não é conhecido, ao que é larvar no processo societário, sempre acompanhado de incertezas, angústias e turbulências. (Características que, interessantemente, são comumente atribuídas ao jovem).
  • Nesse sentido, a subjetivação política de jovens permaneceu esvaziada e despotencializada, delimitada ao exercício vicário de replicação do que já existe. O ‘novo’, o ‘imprevisível’ que poderia acometer a relação intergeracional e dar lugar aos embates na relação entre diferentes permaneceu, na maior parte das vezes, recusado ou negado.
  • Pode-se, com alguma razão supor que a tão alardeada descrença, ou o suposto afastamento da política por parte dos jovens reverbera justamente essa precarização dos acordos entre as gerações, sentidos mais agudamente nos espaços ditos privados, mas que afetam o espaço público e o destino comum. (relações intergeracionais marcadas pela tutela e inviabilização).
  • Nesse sentido, a ‘crise geracional’ pode estar favorecendo o momento político de redefinir novas condições de igualdade nas relações entre adultos e jovens, assim como verificar se tais condições de igualdade geram outros lugares sociais possíveis para os jovens (Rancière, 2007). Por exemplo, qual a cidadania cabível a jovens e
    crianças? Quais seriam as respostas (responsabilidades) de uma cidadania jovem?
  • Os jovens subjetivam-se politicamente além da escola e da família, e por meio de práticas não antecipadas, como suas experiências na cidade (Castro, 2004), culturais e artísticas (Holloway, 2005; Norris, 2002;
    Paes, 2006; Pleyers, 2005). Além disso, o produto da socialização política — o adulto afeito e interessado em participar de longe, e, ocasionalmente, do processo político — parece estar cada dia mais envolto na nebulosa da desconfiança da política, no nojo dos políticos e no fervor do seu bem-estar pessoal.
  • As ações dos jovens no cenário urbano reivindicam outras formas de participação social e política por meio do estabelecimento de coletivos cuja marca parece ser a mobilização das paixões e dos afetos (Ion & Ravon, 1998)
  • Mouffe (2005) coloca que as teorias políticas correntes, ao enfatizarem o cálculo racional de interesses ou a deliberação baseada em critérios racionais, esqueceram que os afetos são uma das mais poderosas forças que movem os sujeitos no campo da política. São eles, eu acrescentaria, que concorrem para que os indivíduos busquem e negociem identificações coletivas que fornecem as bases para as ações
    compartilhadas. ( as lutas juvenis rebatem esse jogo político abstrato aqui caracterizado).
  • Para finalizar, gostaria de trazer a afirmação de Eagleton (2000) que, ao discutir a questão do político no contemporâneo, diz que “a melhor preparação para a ação política é a ação política” (p. 76) (socialização política x participação política).

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