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A Questão da Identidade na População em Situação de Rua

Por:   •  2/10/2020  •  Trabalho acadêmico  •  1.217 Palavras (5 Páginas)  •  115 Visualizações

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A questão da Identidade na População em Situação de Rua

 

Quem são? Possuem família? De onde vieram? Como se alimentam e onde se abrigam? O que os levou a residirem nas ruas?  Essas perguntas devem ser feitas a cada indivíduo que encontrarmos nas ruas das cidades de todo o mundo, mas infelizmente, mas é notória a situação de invisibilidade e de indiferença pela qual passam essas pessoas que, por motivos diversos, encontram-se marginalizados na sociedade. Muitos asseveram que foi por escolha, entretanto dados extraídos de pesquisas em Psicologia Social, como por exemplo a realizada pela Prefeitura de São Paulo em 2015, contradizem essa ideia que permeia o imaginário popular. Desta forma, não cabem generalizações para grupos tão diversos e, portanto, com realidades, histórias e subjetividades idiossincráticas, ainda que identificadas enquanto coletivo, comunidade, pessoas em situação de rua.    

 

Baseado no Decreto nº 7053/2009, a população em situação de rua pode ser definida como um grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, e que utiliza logradouros públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como as unidades de acolhimento para pernoite temporário ou como moradia provisória. Viver na rua representa o rompimento total com a vida o sujeito, a perda de seus referenciais socio-históricos, de sua identidade. O sujeito, isolado, destituído de contato com a realidade que o circunda promove um novo contexto no qual o aqui e o agora é que valem.

 

Encontra-se uma grande diversidade dentro desta comunidade, indivíduos e grupos com características distintas como: famílias, locais de origem, histórias diferentes, motivos que os levaram à rua, o tempo de sua permanência, deficiências e doenças diversas, das relações e vínculos interpessoais, trajetórias de vida, trabalho e condições socioculturais, além do caráter temporário e nômade. A luta é pela sobrevivência, literalmente. Nessa “selva” que é a rua a população imersa nesta situação tenta, diariamente, proteger-se da situação de risco que aflige os indivíduos em situação de vulnerabilidade social em que se encontram. Estes têm seus direitos fundamentais usurpados, sua dignidade ferida pela indiferença e da falta de perspectiva de futuro, uma vez que só pensam no momento presente, no hoje: alimentar-se hoje, dormir hoje... mais um dia, como as pessoas em processo de reabilitação diriam: só por hoje.

Tendo em vista as diversidades encontradas nesta comunidade e, objetivando a não integração de tais ocorrências, torna-se necessário discutir a existência de populações de rua, com diferentes perfis (GUIMARÃES, 2010). Tal heterogeneidade pode ser observada desde as particularidades individuais até as especificidades de perfis pertinentes à escolha da utilização ou não dos albergues, o trânsito entre cidades ou fixação em uma região, a procura por trabalho ou outras fontes de renda, a situação de dependência ou não sob o uso de diferentes drogas, o histórico familiar de pertencer ou não a uma geração seguinte de moradores de rua, entre outros aspectos. Encontram-se no último nível de exclusão social, sem vínculos, sem raízes, sem identidade. Muitos se esqueceram de seus nomes, outros já tem em si alterada a noção temporal pelos fatos que vivenciaram e os levaram à vida nas ruas: agressão familiar, envolvimento no tráfico, gravidez precoce em uma família em vulnerabilidade social entre outros.  Nessa realidade diversa, não há como generalizar e, tampouco, fazer afirmações categóricas quanto à classificação das pessoas em situação de rua. Uma sucessão de rupturas de laços os leva às ruas e, ao romper esses laços, a reinserção à família e a criação de novos vínculos é muito difícil para esse sujeito tão fragilizado e desumanizado. Encontrando-se em total desamparo, busca no ostracismo uma forma de mitigar sua dor, acalentada pelo torpor que encontra nas drogas, no álcool e, muitas vezes, no não embotamento de sua revolta, externalizada em reações e atuações agressivas nos parcos contatos travados.  

 De acordo com Mattos e Ferreira (2004), apesar do conhecimento da existência de interações estabelecidas, não se questiona a qualidade, o papel e o valor delas, proporcionando, a propagação da indiferença, tornando natural essa condição e a desclassificação oriunda da negação da humanidade. As reações usualmente apresentadas pelas pessoas frente a esta comunidade são constrangimento, medo, receio, comoção, piedade, violência, agressividade, hostilidade. Tais reações estão diretamente ligadas às imagens e rótulos construídos em torno das especificações de vagabundagem, preguiça, vício, sujeira, perigo, comodismo. Esta rotulação de população em situação de rua é favorecida pela quebra de expressões assertivas que anteriormente o identificava como filho, pai de família, trabalhador, amigo, vizinho, entre outras possíveis caracterizações. Neste grupo, “massa amorfa”, os sujeitos perdem sua forma original identitária, humana, ao misturarem-se à cultura local, à paisagem, “fundo”, da sociedade, “figura”, que por ali passa.  

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