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A Saúde Mental na Favela

Por:   •  31/5/2023  •  Trabalho acadêmico  •  1.749 Palavras (7 Páginas)  •  26 Visualizações

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FACULDADE UNIMOGI

UNIÃO MOGIANA PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO

CURSO DE PSICOLOGIA

ANDRÉ LUÍS ZAVARIZE

JÉSSICA MARIANE CUNHA CUSTÓDIO

LUANA VILELA VIEIRA SOUZA

NÁIADE GÓES ANACLETO

SAÚDE MENTAL NA FAVELA

MOGI GUAÇU

2023

SAÚDE MENTAL NA FAVELA

"Como ter saúde mental se você mora num lugar onde não tem seus direitos respeitados?" (Irone Santiago, mobilizadora social).

  1. INTRODUÇÃO

O nosso objetivo com esse trabalho é promover uma reflexão sobre como as questões sociais – a desigualdade social, o racismo estrutural, a ausência de saneamento básico, os perigos ligados a catástrofes naturais, a falta de infraestrutura, o acesso à moradia, à educação e à saúde, a violência, a ausência de direitos – influenciam a saúde mental dos moradores de favela.

Destaca-se que muitas pessoas crescem nas favelas e periferias sem entender que são sujeitos de direitos, ou seja, não refletem criticamente o contexto sociocultural em que estão inseridos para dessa forma reconhecer e lutar pelos seus direitos.

Outro ponto importante, é que essa população é constantemente criminalizada pela sociedade, tornando-a culpada pela própria situação – o que na verdade, é uma questão sócio-histórica (que precisa de reparação) – o que prejudica ainda mais a saúde mental das pessoas que vivem em favelas e periferias.

É preciso compreender que estar em situação de vulnerabilidade social causa adoecimento psíquico, e que não é possível tratar os fenômenos psicológicos sem olhar para os fenômenos e mecanismos sociais que causam o adoecimento da mente e do corpo, ou seja, precisamos de uma psicologia comprometida com a realidade social.

Partindo da psicanálise de Sigmund Freud (1856-1939), e da psicologia da libertação de Martín-Baró (1942-1989), serão apresentadas formas de enfrentamento para promover saúde mental na favela.

  1. O COTIDIANO NA FAVELA

Os moradores de favelas vivenciam angústias e situações no dia a dia que estão relacionadas às diversas formas de violações de direitos. São cenários que fazem parte da favela e que não estão presentes em outros locais da cidade, o que torna a saúde mental um privilégio de poucos, principalmente da elite brasileira.

A seguir vamos apresentar alguns dados sobre a Maré, que, na verdade, é mais do que uma favela; é um bairro, composto por um complexo de 16 favelas, de fronteiras invisíveis, circundadas pelas principais vias de acesso ao centro do Rio de Janeiro. Lá moram ao menos 130 mil pessoas, que convivem com as principais facções de tráfico de drogas, além de escolas e alguns aparatos de saúde pública.

Segundo uma pesquisa realizada entre 2018 e 2020, um em cada três moradores da Maré tem a saúde mental abalada pelo cotidiano violento, sofrendo com medo, depressão e ansiedade. 44% das pessoas relataram ter estado em meio a um tiroteio no ano de 2021. Desse total, 73% passaram pela experiência mais de uma vez. O medo de ter alguém próximo atingido por uma arma de fogo afeta 71% dos moradores. A maioria da população (63%) sente medo de ser alvejada por uma arma de fogo. Um terço dos moradores da Maré tiveram a saúde mental afetada pela violência, mostrando que pessoas em situação de violência são mais vulneráveis ao sofrimento mental.

A violência armada não pode ser considerada o único fator de sofrimento e traumas dos moradores, uma vez que se convive com a violência na forma de diversas violações de direitos, como a criminalização da pobreza, a negligência do Estado em vários campos e tantas outras violações. Situações como estas não são por acaso, afinal a maioria das populações que habitam esses territórios é negra e parda. Esse é o resultado do racismo estrutural, que é quando uma sociedade se estrutura, historicamente, com base na discriminação que privilegia alguma raça em detrimento de outra – neste caso, o privilégio branco e burguês em detrimento dos pretos e favelados. A única forma de combater o racismo é tendo consciência e agindo de forma antirracista, ou seja, buscando intencionalmente desvendar e agir diretamente contra esse sistema.

Em áreas desfavorecidas, o estresse enfrentado pelos moradores diariamente pode ser extremamente alto, prejudicando a capacidade de autorregulação, de fazer planos, e da memória operacional. De acordo com um estudo, há uma forte correlação negativa entre viver anos na miséria e o funcionamento cognitivo do cérebro.

Faz-se necessário ressaltar que a presença de ONGs (Organizações Não Governamentais) nas periferias contribui para a promoção da qualidade de vida e da cidadania no que diz respeito à assistência social, à defesa de direitos e atuação política, o acesso à educação, à formação profissionalizante, à cultura, à arte, à saúde, ao esporte e ao lazer. Os trabalhos realizados pelas instituições do terceiro setor desempenham funções necessárias para minimizar ou extinguir dificuldades de muitas destas pessoas.

As favelas cada vez mais representam valores de criatividade e comunidade. Na verdade, a resiliência que seus moradores encontraram para lidar com a saúde mental é graças principalmente aos ativos próprios das favelas, como mutirãocriatividade e vida comunitária.

  1. FORMAS DE ENFRENTAMENTO

A psicanálise conta com alguns projetos desenvolvidos nos espaços públicos como a “Psicanálise na Rua”, a “Clínica Aberta” e o “Digaí-Maré” com o intuito de ampliar o atendimento terapêutico para populações em situação de vulnerabilidade social.

Do projeto “Digaí-Maré” surgiu o livro “Psicanálise na Favela” (2008) com detalhes sobre o trabalho realizado. Segundo um dos coordenadores do projeto, Rodrigo Carvalho, “a precariedade financeira é realmente violenta. Qualquer cidadão deveria querer que todos tivessem as mesmas condições sociais. Mas essa precariedade não pode ser confundida com uma precariedade simbólica, no sentido dos recursos que cada um tem para inventar um modo de vida".

Nesse sentido, iríamos trabalhar com a terapia em grupo, e, embora o setting terapêutico seja diferente dos modelos tradicionais, o método se daria a partir da associação livre, isto é, o analisando pode falar livremente sobre qualquer coisa que lhe venha à cabeça. Isto porque a palavra é a principal via de acesso ao inconsciente. Aqui se faz necessário pontuar que, para a terapia acontecer de forma efetiva, os participantes do grupo precisariam criar laços e confiar um no outro para que pudessem manifestar suas angústias e desejos sem se sentirem desconfortáveis.

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