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Análise Da Obra Homem Duplicado de José Saramago

Por:   •  27/5/2017  •  Monografia  •  741 Palavras (3 Páginas)  •  513 Visualizações

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“O caos é uma ordem por decifrar”

        É deste modo que Saramago introduz a sua obra “Homem Duplicado”. O autor desafia-nos a uma constante reflexão introspetiva, numa leitra dura e repleta de metáforas, enigmas e rodopios psicológicos. O principal confronto nesta “viagem” é a identidade – a comunicação entre o “eu” e o “outro” remetidos para a loucura.

        O livro introduz-nos um homem comum, professor de história e que leva uma vida monótona, fechada na sua rotina. O seu quotidiano é descrito como repetitivo, organizado, mecanizado e automático, que transparece um indivíduo só, desmotivado, triste e preso. De um momento para o outro, tudo muda. Num certo dia, ao ver um filme recomendado por um colega, descobre um ator incrivelmente parecido com ele – um autentico sósia. É nesta altura que tudo se quebra e que a sua vida se torna num caos. Os dias deste professor passam a girar em torno de descobrir quem é o seu “duplo”. Na descoberta deste enigma, por parte de ambos, dá-se um choque de identidades – as suas tornam-se agitadas e desesperantes. Apesar de idênticos fisicamente, têm personalidades vincadamente distintas e sua descoberta comum e entrada na vida um do outro suscitam ansiedade e fusão confusa de ambos os indivíduos. Formam-se aqui, então, uma mixórdia de sombras por decifrar, que nos levam por um caminho claramente psicológico repleto que questões.

        O “Homem Duplicado” obriga-nos a uma reflexão sobre a influência que a sociedade atual tem na vida de todos nós e na forma como isso se pode vir a refletir na personalidade. O conceito de personalidade consiste na reunião de características próprias que cada individuo, ou mesmo comunidade, possui e que o diferencia. Outro aspeto aqui relevante é o da autoconsciência, que se trata da imagem que temos de nós próprios, tanto a nível de capacidades como de reconhecimento de limites – o que nos abre portas para a compreensão do “outro”. Podemos dizer que a construção de uma identidade é algo contínuo, dependente de tudo o que nos rodeia e dos papéis que vamos assumindo ao longo das nossas vidas.

Face a isto, levantam-se, aqui, diversos problemas no que toca à descoberta doentia do “eu”: a primeira personagem apresentada, o professor, transparece o comodismo de uma vida sem grandes alterações, muito presa a rotinas e sem vontade nem procura de fuga à monotonia do seu quotidiano; pelo contrário, o ator (sósia) é apresentado como desportista, um homem ativo sempre com vontade de inovar e fugir à rotina, dando-nos esta ideia de felicidade e energia. A entrada comum nas suas vidas e consequente descoberta entre ambos os sósias, suscitou uma vontade de viverem a vida um do outro – numa ânsia pelo alívio da mudança. É nesta fase em que tudo se torna confuso e surgem inúmeras dúvidas em relação a todo o enredo de metáforas que foram surgindo ao longo da história. A luta pela descoberta e afirmação de identidade torna-se confusa e, a certa altura, ambas as personagens caminham numa sintonia doentia para combater a solidão, que resulta na fusão entre os dois, marcada pela morte do ator – sósia exaustivamente perseguido e espiado pelo professor. A meu ver, no fundo, tudo se foca na solidão da personagem inicial, que acaba por ser a única. O ator surge apenas como uma idealização, uma personificação do “senso comum” – como se fosse uma fragmentação do professor, que no final desaparece, por ser uma mera ilusão. Onde estão os limites do pensamento? Será que esta quebra vincou o reencontro com ele próprio ou o caminho para a loucura, para o caos?  É incrível a capacidade que a imaginação e o desejo nos podem conduzir a extremos de obsessão, loucura e mesmo ilusão impensáveis.

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