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Análise Textual: Aspectos Psicodinâmicos da Relação Homem-Trabalho

Por:   •  4/9/2019  •  Trabalho acadêmico  •  1.278 Palavras (6 Páginas)  •  238 Visualizações

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Disciplina: Saúde do Trabalhador
Prof°: Márcia Gisela
Acadêmico: Julio Cesar dos Santo Costa

Análise Textual: Aspectos Psicodinâmicos da Relação Homem-Trabalho: as contribuições de C. Dejours

Com o desenvolvimento industrial acontecendo a partir do século XX, a ampliação da aplicabilidade dos princípios tayloristas visando racionalizar o trabalho, identifica-se a necessidade do estudo aprofundado da relação do trabalho com os processos psíquicos.  

Dejours (1987) foi um dos principais críticos do modelo taylorista e em seus estudos evidencia que a organização do trabalho é responsável pelas consequências prejudiciais ou favoráveis ao funcionamento psíquico do trabalhador. Nesse sentido ele afirma que podem ocorrer vivências de prazer ou de sofrimento no trabalho, expressas através de sintomas específicos relacionados ao contexto sócio profissional e a própria estrutura da personalidade.

Wisner (1994) compartilhas das concepções de Dejours e considera a dimensão psíquica do trabalho ao relacionar com os níveis de conflito nas representações subjetivas de cada trabalhador. Ele afirma que as representações conscientes ou inconscientes que o sujeito tem da sua relação com a organização do trabalho interferem na percepção positiva ou negativa que ele tem do trabalho acerca do seu trabalho. Nesse contexto nascem as relações conflituosas, pois de um lado encontra-se o sujeito com a sua necessidade de prazer e do outro a organização com tendência para o automatismo e adaptação do trabalhador ao seu modelo.

Os conceitos que foram sistematizados nessa temática tiveram sua origem na psicanálise, foi discutido por Freud em sua obra O mal-estar da civilização de 1930, assim efetivou-se maior consistência proposta pela disciplina intitulado por Dejours em 1900 de psicodinâmica do trabalho. Na teoria psicanalítica a atividade do homem é direcionada na busca de ausência de sofrimento e desprazer, e experiência intensa de prazer. Na teoria de Freud o sofrimento não é originado na realidade exterior, mas sim das relações que o sujeito estabelece com essa realidade. Assim o trabalho como parte externa do mundo do sujeito, do seu próprio corpo e suas relações sociais, pode representar fonte de prazer ou sofrimento, desde que as condições externas oferecidas atendam ou não a satisfação dos desejos inconscientes.

Nesse sentido considera-se que a busca de prazer no trabalho e a fuga do desprazer é um desejo permanente para o trabalhador frente as exigências da organização, nas relações e na organização do trabalho. E assim muitas vezes o trabalho só fornece condições contrárias ao prazer, gerando desprazer e uma vivência de sofrimento com sintomas específicos, fazendo o trabalho uma necessidade de sobrevivência e não uma fonte sublimatória de prazer.

Guareschi e Grisci (1993) distinguem o sofrimento físico do psíquico, enquanto o primeiro é visível o segundo é invisível, sendo vivenciado de forma subjetiva por cada sujeito. Portanto, quando as condições externas evidenciam essa cadeia de significantes, haverá um reencontro das relações parentais infantis com a realidade atual. É neste sentido que Dejours (1990) afirma que a qualidade do sofrimento está intrinsicamente relacionada a cadeia biográfica e história de vida do sujeito. As condições de trabalho vão agir diretamente a saúde do trabalhador, enquanto a organização do trabalho se direciona ao nível do funcionamento psíquico.

Com o desenvolvimento de novos estudos Dejours e Abdoucheli (1990) chegaram a concluir que a organização do trabalho resulta das relações intersubjetivas e sociais dos trabalhadores com as organizações. Portanto, o trabalho é um lugar que ultrapassa a questão do prazer e sofrimento, ele provém de uma dinâmica, das relações subjetivas, condutas e ações dos trabalhadores permitida pela organização do trabalho. Assim sendo tanto o modelo de organização estipulado pela organização, como as relações subjetivas dos trabalhadores com o trabalho contribuem diretamente na determinação de vivências de prazer, gerando consequências para a produtividade.

A psicodinâmica do trabalho busca enfatizar a subjetividade da construção do sujeito no processo de sublimação e não da patologização, porque a energia que é sublimada se torna essencial para construção e manutenção da economia psicossomática de cada um. Dejours e Abdoucheli (1990) consideram que o trabalhador ao não suportar o sofrimento, pode transforma-lo em criatividade e assim consequentemente em prazer, ao invés de utilizar apenas recursos defensivos. Porém para que isso ocorra é necessário a presença de dois elementos: a ressonância simbólica e o espaço público de discussão coletiva.

A ressonância simbólica ocorre quando existe compatibilidade entre as representações simbólicas do sujeito, seus investimentos pulsionais e a realidade de trabalho. Esse processo só ocorre quando existe na tarefa um sentido para o sujeito, com base na sua história de vida. Assim Rodrigues (1992) corrobora com a ideia de Dejours ao considerar as dificuldades vivenciadas nas relações infantis são uma barreira para vivenciar o processo de ressonância simbólica. O trabalho pode ser considerado como fonte de satisfação sublimatória, quando o trabalhador transfere sua energia pulsional, que na infância era dirigida às figuras parentais com objetivo de satisfação imediata, para as relações sociais.

O espaço público caracteriza-se por ser o espaço da fala, da expressão coletiva do sofrimento e da busca de mecanismos de transformação da situação vigente. Assim esse espaço é construído pelos próprios trabalhadores e se constitui a partir do momento que são partilhadas cooperação, confiança e regras em comum.

Existe ainda um espaço delimitado pelas imposições da organização do trabalho, quanto ao investimento sublimatório e a ressonância simbólica, por isso trabalhador acaba utilizando outros recursos, como o uso da inteligência operária e o processo de reconhecimento simbólico para poder transformar o sofrimento em prazer. Dejours e Aboucheli (1990) conceituam a inteligência operária como sendo astuciosa, tendo suas origens no corpo, nas percepções e na intuição sensível do trabalhador e tem como característica principal ruptura com as normas e regras, sendo fundamentalmente transgressiva.

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