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CRIANÇAS DESLOCADAS: NARRATIVAS EM TERRITÓRIOS DAS PALAVRAS

Por:   •  21/3/2021  •  Pesquisas Acadêmicas  •  9.948 Palavras (40 Páginas)  •  89 Visualizações

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CRIANÇAS DESLOCADAS: NARRATIVAS EM TERRITÓRIOS DAS PALAVRAS

Displaced children: narratives and territories of words

Jader Janer Moreira LOPES

Universidade Federal de Juiz de Fora

Programa de Pós-Graduação em Educação

Juiz de Fora/MG, Brasil

jjanergeo@gmail.com

[pic 1]

https://orcid.org/0000-0003-3510-8647 [pic 2]

Flávia Miller Naethe MOTTA

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Programa de Pós-Graduação em Educação

Seropédica/RJ, Brasil

flaviamnmotta@gmail.com

[pic 3]

https://orcid.org/0000-0001-8538-8865 [pic 4]

 A lista completa com informações dos autores está no final do artigo [pic 5]

RESUMO

Este artigo aborda crianças em situação de deslocamento/refúgio, em busca da compreensão de suas experiências. Analisa, ainda, documentos disponíveis no site do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) - Agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para Refugiados, na proposta de construir os significados da palavra “criança(s)”, bebê(s)” e “infância(s)” presentes nos textos e que retratam a maneira como são concebidos esses sujeitos de pouca idade pelas sociedades que os acolhem.

PALAVRAS-CHAVE: Crianças deslocadas. Crianças refugiadas. ACNUR.

ABSTRACT

This paper addresses children in situations of displacement/refuge, in search of understanding their experiences. It also analyzes documents available on the website of UNHCR - UN Refugee Agency in the proposal to construct the meanings of the word "child(ren)", “baby(ies)”, “childhood(s)” present in the texts and which portrays the way in which these young people are conceived by the societies that welcome them.

KEYWORDS: Displaced children. Refugee children. UNHCR.

INTRODUÇÃO

Este texto, escrito inicialmente a algumas mãos, é fruto de um encontro, um encontro de pesquisas em momentos distintos de suas execuções, mas que se estruturam em torno de um objetivo comum: construir compreensões e propor ações sobre as crianças e seus deslocamentos espaciais[1].

Mas, como sempre nos ensinou Bakhtin (obras diversas), falar em diversas mãos é uma forma simplória, e até mesmo metafórica, de trazer as muitas vozes que forjam qualquer escritura, pois elas sempre têm lastros históricos e geográficos que se engendram ao longo de muitas fronteiras temporais e espaciais, quer estejam perto ou distantes.

Por isso, temos muitas vozes, muitas mãos que aqui estão, mas cabe a nós, em nosso ato ético e estético, tecer a composição que irá erguer a arquitetônica do que será entregue ao leitor. Como não temos álibi nas palavras, assumimos, como nos ensinou muito bem Adélia Prado (2015), que essas letras são nossas[2].

Reconhecemos que há muitas formas de olhar as crianças em suas diversas existências sociais e que essas impactam a sistematização de documentos, materiais, ações, atividades e pressupostos diversos que irão configurar as múltiplas infâncias que se forjam nas diferenciadas escalas da vida em sociedade. Entre essas variadas formas, uma dimensão tem sido privilegiada em nossos trabalhos e, neste artigo, é o lastro em torno da qual tecemos nossos argumentos: a espacialização da vida e todas as expressões geográficas que fazem parte desse processo.

Fazemos essa escolha porque reconhecemos que todo nascimento humano é também um nascimento geopolítico, pois o fato de nascer em determinados espaços geográficos, de viver em determinadas paisagens, em territórios diversificados, cria redes simbólicas e materiais que estão nas fronteiras das infâncias que chegam até as crianças.

Sabendo que:

[...] toda criança é criança de um local; de forma correspondente, para cada criança do local existe também um lugar de criança, um lugar social designado pelo mundo adulto e que configura os limites da sua vivência; ao mesmo tempo toda criança é criança em alguns locais dentro do local, pois esse mesmo mundo adulto destina diferentes parcelas do espaço físico para a materialização de suas infâncias (LOPES e VASCONCELLOS, 2005, p. 39).

Assumimos que não há infâncias sem cronotopias (BAKHTIN, 2014) as quais sempre se dão,

[...] num amplo espaço de negociação que implica a produção das culturas de criança, de lugares destinados às crianças pelo mundo adulto e suas instituições e das territorialidades de criança, resultando desse embate uma configuração a qual chamamos de territorialidades infantis (LOPES, 2008, p. 67-68).

Temas como esses têm nos acompanhado, pois remetem à polifonia (BAKHTIN, obras diversas) da vida, à possibilidade de compreender como as diferenciadas políticas sociais atendem às crianças que saem de seus territórios de origem e se veem forçadas a chegar em outros locais. São crianças migrantes e suas realidades transformadas pelo deslocamento de suas famílias, promovido por decisão dos adultos por elas responsáveis. São crianças refugiadas ou solicitantes de refúgio, forçadas, com os seus, a saírem de seus locais de origem. São muitas crianças! Há traços comuns que envolve os sujeitos de pouca idade e suas realidades de movimentos forçados, que apesar das suas diferenças, tem em suas vidas a negação do espaço de origem.

Este texto, portanto, se inscreve e se constrói nessas divisas: das crianças territorializadas por nascimento; das vidas (des)especializadas por forças políticas, econômicas, naturais e/ou sociais; das infâncias agenciadas em cronotopos e da linguagem como ato que alinhava argumentações, premissas, justificativas, alegações e as infinitas palavras que residem em limítrofes espaços geográficos e tempos históricos.

Sobre isso pretendemos conversar. Mas não com os aqueles que inventaram as fronteiras, os países, os ricos e os pobres. Queremos ouvir das crianças, saber como compreendem essas experiências. O que narram, o que reinterpretam e recriam. Esse é o objetivo de projeto de pesquisa em andamento no momento da escrita deste texto: ouvir o que dizem as crianças sobre viver no exílio, estudar e estar com crianças refugiadas em suas experiências da diáspora. Mas, sabemos, que a existência de qualquer pessoa não se dá fora das redes sociais que essa habita e que lhe coabita, temos os adultos, temos os territórios, temos as rotinas, os documentos, as legislações, os artefatos diversos que estão nas fronteiras desse existir. Por isso, como o dizer é sempre posto nos limites das escrituras, o que existirá em um texto é sempre uma escolha, fizemos a nossa: para nos aproximarmos das crianças refugiadas, antes da materialização do encontro com elas, escolhemos começar com aqueles que lidam com a questão há muitos anos.

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