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Considerações Sobre a Escuta Clínica de Crianças Hospitalizadas

Por:   •  4/11/2018  •  Artigo  •  5.760 Palavras (24 Páginas)  •  144 Visualizações

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Considerações sobre a escuta psicanalítica com crianças hospitalizadas

Erika Aviz¹

Elizabeth Samuel Levy¹

Resumo: Este trabalho pretende analisar a importância da escuta psicanalítica e dos recursos lúdicos no ambiente hospitalar com crianças hospitalizadas e como os sintomas e as fantasias são simbolizadas neste processo de adoecimento pela via transferencial. Leva-se em conta o conceito freudiano de desamparo para articularmos ao sofrimento psíquico revivido nas situações de intensa vulnerabilidade.

Palavras chave: psicanálise com crianças, hospitalização, transferência, desamparo.

Psicanálise e hospital

A psicanálise e o hospital tem aproximações desde sua criação por Sigmund Freud que era neurologista, mas seu interesse foi para além do corpo biológico. Ao atender as histéricas e escutar o que elas tinham a falar, Freud deu um passo fundamental que marca a invenção da psicanálise, pois atribuiu um valor científico à “queixa” da paciente. Freud deu voz aos sintomas das histéricas. (LEVY,2008, p.73)

Possibilitar a escuta no hospital nos conduz a um território que vem sendo explorado, na medida em que as formulações teóricas de Freud se sustentam e surpreendem na prática da psicanálise, nos leitos e ambulatórios de hospitais. A escuta analítica pressupõe o uso da associação livre, da interpretação e da análise da transferência, como eixo fundamental da psicanálise. Quando nos referimos à peculiaridade da escuta analítica no hospital, estamos também falando de algumas diferenças nas formas de atuação, o que nos leva a pensar na relação transferencial estabelecida neste setting, com pacientes hospitalizados. Porém, a psicanálise mantém uma posição, que mesmo diante de outros espaços, conduz a fazer um trabalho acessível ao social, às instituições, em que escutá-los, além de possibilitar o alívio dos sintomas, poderá levá-los ao encontro com sua subjetividade, em desejar saber sobre si. (LEVY, 2008, p.78).

Vamos presumir que, por meio de algum tipo de organização, consigamos aumentar os nossos números em medida suficiente para tratar uma considerável massa da população. Por outro lado, é possível prever que, mais cedo ou mais tarde, a consciência da sociedade despertará, e lembrar-se-á de que o pobre tem exatamente tanto direito a uma assistência à sua mente, quando o tem, agora, à ajuda oferecida pela cirurgia, e de que as neuroses ameaçam a saúde pública não menos do que a tuberculose, de que, como esta, também não podem ser deixadas aos cuidados impotentes de membros individuais da comunidade. Quando isto acontecer, haverá instituições ou clínicas de pacientes externos, para as quais serão designados médicos analiticamente preparados, de modo que homens que de outra forma cederiam à bebida, mulheres que praticamente sucumbiriam ao seu fardo de privações, crianças para as quais não existe escolha a não ser o embrutecimento ou a neurose, possam tornar-se capazes, pela análise, de resistência e de trabalho eficiente. Tais tratamentos serão gratuitos. Pode ser que passe um longo tempo antes que o Estado chegue a compreender como são urgentes esses deveres. As condições atuais podem retardar ainda mais esse evento. Provavelmente essas instituições iniciar-se-ão graças à caridade privada. Mais cedo ou mais tarde, contudo, chegaremos a isso.Defrontar-nos-emos, então, com a tarefa de adaptar a nossa técnica às novas condições. Não tenho dúvidas de que a validade das nossas hipóteses psicológicas causará boa impressão também sobre as pessoas pouco instruídas, mas precisaremos buscar as formas mais simples e mais facilmente inteligíveis de expressar as nossa doutrinas teóricas ( FREUD, 1919, p 56.?).

Como vimos, Freud profetizou que um dia a psicanálise chegaria às instituições. Nosso trabalho perpassa por este ambiente. Por si só o ambiente hospitalar é um setting terapêutico com diversas peculiaridades em que o analista deve se manter sua posição, mas com diferentes formas de atuação. Este enfrenta um desafio ainda maior ao atender crianças, seus pais e o manejo que envolve o lúdico e a fantasia infantil para intervir no tratamento das crianças e ao mesmo tempo lidar com demandas e expectativas parentais.

O psicanalista no ambiente hospitalar

Sabe-se que para o paciente estar hospitalizado é angustiante, havendo a perda do sentimento da identidade. Ao estar internado pode ocorrer à redução da autonomia em atividades diárias como cuidar de seu corpo e higiene pessoal, suas roupas e seus objetos necessitando de um auxílio do outro para tais atividades. Também precisa de ajuda em tarefas motoras, como andar, sentar, comer, levantar, dentre outras. A hospitalização também interfere na sexualidade que acaba sendo excluída, mas que faz parte da condição humana, também afeta os familiares do paciente e nas relações entre si, tanto na comunicação quanto na função que o sujeito desempenha na dinâmica familiar, necessitando que a família se reorganize para suprir demandas que são geradas a partir da ausência do paciente. Também há o sofrimento psíquico causado pela epidemia, ligada ao contexto da qualidade da atenção integral a saúde, em função do diagnóstico tardio, doenças oportunistas de caráter súbito e incerteza sobre o prognóstico em função da região e instituição que o paciente está hospitalizado.  (MOREIRA et al. 2013).

Com tantas dificuldades e sofrimento, o paciente necessita do analista para falar além de queixas orgânicas, devendo o analista utilizar a associação livre como forma de intervenção para a reabilitação do paciente dispondo de recursos do analisando para tais efeitos, devendo levar em conta condições do próprio ambiente hospitalar e seu setting peculiar.

Normalmente o setting da clínica analítica é um espaço que possibilita a estrutura simbólica de processos subjetivos do inconsciente, com certas premissas e técnicas básicas para a análise. Envolve elementos como: espaço físico, contrato entre paciente e analista, princípios da relação de transferência e contratransferência dos envolvidos (GLORIA, 2013).

 No ambiente hospitalar, o contexto difere do da clínica, incluindo o espaço físico com a ausência do divã, atendimento ambulatorial ou no próprio leito, podendo ocorrer diversas interrupções, o tempo de sessões é limitado, além de depender também da alta do paciente e da necessidade de trabalhar com outros profissionais das mais diversas áreas da saúde. Todas essas condições fazem com que a própria psicanálise tenha de se adequar a essa realidade, sobre isso Figueiredo (1997) pontua que o analista deve criar condições para que seu trabalho seja possível, levando em conta as angústias e conflitos do paciente devido à própria rotina hospitalar de procedimentos médicos e também a equipe médica e sua própria rotina, cuidando também de vários aspectos da saúde de diversos pacientes, além de ter que cumprir com rígido cronograma e demais responsabilidades.

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