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O DESAFIO DE ALFABETIZAR ALGUÉM QUE NÃO ESCUTA

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Por:   •  16/11/2013  •  8.063 Palavras (33 Páginas)  •  342 Visualizações

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O DESAFIO DE ALFABETIZAR ALGUÉM QUE NÃO ESCUTA

1 INTRODUÇÃO

Ao conviver como intérprete da Língua de Sinais junto aos surdos, torna-se evidente os inúmeros casos de alunos surdos que chegam ao Ensino Médio com dificuldade no uso da Língua Portuguesa. Por outro lado percebe-se o imenso desafio para os professores ouvintes em ensinar uma língua basicamente sonora a um aluno que nunca a ouviu ou às vezes nem a conhece.

No segundo capítulo pode-se observar que os surdos têm como língua natural a Língua de Sinais, mas vivem em ambientes cercados por uma língua baseada no oralismo. Mesmo submetidos a esta condição bi-cultural e vivendo nesse constante conflito, muitos conseguem se alfabetizar. Toda criança nasce com potencial de comunicação, mas seu bom desempenho depende de estímulos lingüísticos, maturação neurológica, órgãos fonoarticulatórios normais, nível intelectual, audição e predisposição emocional.

A criança sem audição não apresenta a aquisição natural da linguagem. Uma em cada mil crianças nasce surda. A surdez pode ser congênita ou adquirida. O diagnóstico deve ser mais precoce possível, desde a observação aos bebês que não reagem a sons e que podem apresentar uma deficiência auditiva, surdez profunda ou severa. Toda criança surda pode aprender a leitura labial, mas esta se torna falha diante da variedade de fonemas aparentemente iguais usadas na Língua Portuguesa.

Para que a linguagem flua de maneira espontânea, se faz necessário o contato com a Língua de Sinais o mais cedo possível, onde a criança perceba a possibilidade de expressar seus sentimentos, desejos e necessidades, tendo em vista que esta é uma língua completa.

Alguns professores de surdos ignoram o fato de que o surdo, ao contrário do ouvinte, inicia sua vida escolar sem nenhuma gramática implícita tendo que adquirir sua língua natural simultaneamente com uma outra que nunca usou ou se a usou foi em conturbadas tentativas de comunicação. No entanto o surdo tem o pleno direito às duas línguas.

O terceiro capítulo mostra que a Alfabetização dos surdos passou por diversas fases. Na década de oitenta começou a ser investigada a Língua de Sinais e a mesma começou a ser usada na década de noventa. Mesmo Vygotski percebe a morosidade e sacrifício no oralismo. Na intensão de se comunicar com o surdo para facilitar seu desenvolvimento, se junta a mímica à escrita, mantendo a esperança de que o surdo abandonasse, com o tempo, a mímica.

Continuando o fracasso escolar, se reconhece a língua de sinais, devido a grande diferença no desenvolvimento nos surdos filhos de pais surdos. Com isso a educação dos surdos tem um grande avanço e torna-se amparada pela Lei 10.436 da Constituição Federal e pelo decreto 5626 de 2005 que garante o acesso a educação por meio da língua de sinais e o ensino da língua portuguesa escrita como segunda língua.

Outra dificuldade enfrentada é com os professores que são em maioria ouvintes que acreditam estar trabalhando com uma alfabetização bilíngüe, mas na verdade estão causando sérias implicações para os surdos. Além disso, ainda é grande a falta de instrutores bem preparados facilitando o surgimento da Comunicação Total, misturando todos os recursos, porém dando preferência à língua majoritária.

Reconhecendo a descaracterização da Língua de Sinais, que as duas línguas são completamente distintas e que essa prática beneficia basicamente os professores, familiares e outros ouvintes envolvidos com surdos, se inicia o uso do Português Sinalizado, mantendo sempre a estrutura da língua majoritária.

O objetivo principal deste trabalho é tentar entender qual a maneira de alfabetizar alguém que não escuta sem que seja um processo doloroso e frustrante, tanto para o aluno quanto para os educadores. Até hoje a grande luta é para que se pense no desenvolvimento do surdo, usando em fim o Bilingüismo, principalmente nos anos iniciais, possibilitando que os surdos mergulhem no mundo da linguagem explorando todas as suas particularidades possíveis e apresentem quando adultos condições de ser um sujeito letrado, que além de saber ler e escrever desfruta com qualidade os prazeres da leitura e da escrita, abrindo o leque das oportunidades de conquistar seu lugar na sociedade e ao mesmo tempo conviver em harmonia entre as duas culturas.

2 EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO DOS SURDOS

2.1 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DO SURDO

Na Idade Média, os gregos e romanos acreditavam nos ensinamentos de Aristóteles, onde falava que a linguagem determinava o indivíduo como ser humano. Além de considerar o surdo como retardado, negavam-lhe os direitos legais e exigia-se um curador para tomar conta das heranças familiares. Em outros países eles eram lançados ao mar, sacrificados aos deuses, jogados em penhascos ou abandonados nas praças, nas ilhas ou nos campos.

Somente no século XIV que o advogado e escritor Bartolo Della Marca D’ancona admite a possibilidade de desenvolvimento intelectual do surdo. No século seguinte é que começam a surgir referencias a surdez. Com o nascimento do filho primogênito, o médico Italiano Girolamo Cardomo se preocupa em estudar o ouvido e afirma que os surdos podem e devem se desenvolver intelectualmente. Na Espanha, o monge beneditino Ponce de León torna-se o primeiro professor de surdos, para que os filhos dos nobres pudessem receber herança mesmo que fossem surdos.

Em 1760, Charles Michel de L’Epée inicia um trabalho ligado à religião com duas irmãs surdas, percebe a importância da Língua de Sinais devido ao longo tempo dispensado ao treinamento da fala e começa com sinais já utilizados pelos surdos e considera que este rendimento é muito maior mesmo com aqueles surdos que aprendiam a falar e funda o Instituto Nacional para Surdos-Mudos em Paris.

Em 1814, o médico cirurgião Jean-Marc Itard se torna médico residente do Instituto com a meta da erradicação ou diminuição da surdez. Para encontrar as causas da surdez, Itard fez várias experiências usando o corpo de surdos, como carga elétrica nos ouvidos, rompimento da membrana do tímpano, infecção de pontos atrás das orelhas, fratura no crânio e até a dissecação de cadáveres. Depois de mais de 15 anos de frustrações em suas praticas, Itard admite que o melhor meio de instrução do surdo é através da Língua de Sinais.

Nos Estados Unidos, Alice Cogswell encanta seu vizinho Thomas Gallaudet que desperta o interesse pela surdez o levando até a fazer um estágio na França para receber instruções

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