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Cultura: conceito antropológico - Roque Larraia

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Por:   •  17/3/2014  •  Tese  •  3.066 Palavras (13 Páginas)  •  2.023 Visualizações

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Cultura: Um Conceito Antropológico - Roque Laraia

Da natureza da cultura ou da natureza à cultura

Para iniciar as discussões, Laraia faz um breve histórico sobre o desenvolvimento do conceito de cultura. Para isso, cita Heródoto, que considerava os costumes dos lícios diferentes de "todas as outras nações do mundo", onde este estava tomando como referência a sua própria sociedade patrilinear, agindo de uma maneira etnocêntrica, embora ele tenha teoricamente renegado esta postura.

O padre José de Anchieta (1534-1597), ao contrário de Heródoto, se surpreendeu com os costumes patrilineares dos índios Tupinambá e escreveu aos seus superiores:

“Porque têm para si que o parentesco verdadeiro vem pela parte dos pais, que são agentes; e que as mães não são mais que uns sacos, em respeito dos pais, em que se criam as crianças, e por esta causa os filhos dos pais, posto que sejam havidos de escravas e contrárias cativas, são sempre livres e tão estimados como os outros (p12)”.

Laraia faz referência também a Montaigne (1533-1572), que procurou não se espantar em demasia com os costumes dos Tupinambás, afirmando não ver nada de bárbaro ou selvagem no que diziam a respeito deles, porque na verdade, cada qual considera bárbaro o que não se pratica em sua terra. E assim comentou a antropofagia dos Tupinambás: “Não me parece excessivo julgar bárbaros tais atos de crueldade, mas que o fato de condenar tais defeitos não nos leve à cegueira acerca dos nossos”.

Assim, desde a Antiguidade, foram comuns as tentativas de explicar as diferenças de comportamento entre os homens, a partir das variações dos ambientes físicos. Como o fez Marcus V. Pollio, arquiteto romano, quando afirmou enfaticamente que

“os povos do sul têm uma inteligência aguda, devido à raridade da atmosfera e ao calor; enquanto os das nações do Norte, tendo se desenvolvido numa atmosfera densa e esfriados pelos vapores dos ares carregados, têm uma inteligência preguiçosas”.).

Contudo, explicações deste gênero não foram suficientes para resolver o dilema proposto, tanto é que D'Holbach replicava em 1774: “Será que o sol que brilhou para os livres gregos e romanos emite hoje raios diferentes sobre os seus degenerados descendentes?”.

A isso Laraia responde dizendo que para constatar a existência dessas diferenças não é necessário retornar ao passado, nem mesmo empreender uma difícil viagem a um grupo indígena, localizado nos confins da floresta amazônica ou em uma distante ilha do Pacifico. Basta comparar os costumes de nossos contemporâneos que vivem no chamado mundo civilizado.

Enfim, conclui Laraia, as diferenças de comportamento entre os homens não podem ser explicadas através das diversidades somatológicas ou mesológicas. Tanto o determinismo geográfico como o determinismo biológico, foram incapazes de resolver o dilema proposto, a conciliação da unidade biológica e a grande diversidade cultural da espécie humana.

1. O Determinismo Biológico

Para Laraia, são velhas e persistentes as teorias que atribuem capacidades específicas inatas a "raças" ou a outros grupos humanos. Contudo, os antropólogos estão totalmente convencidos de que as diferenças genéticas não são determinantes das diferenças culturais. Segundo Felix Keesing,

"não existe correlação significativa entre a distribuição dos caracteres genéticos e a distribuição dos comportamentos culturais. Qualquer criança humana normal pode ser educada em qualquer cultura, se for colocada desde o início em situação conveniente de aprendizado".

Nesse sentido, enfatiza Laraia, o comportamento dos indivíduos depende de um aprendizado, de um processo que chamamos de endoculturação. Um menino e uma menina agem diferentemente não em função de seus hormônios, mas em decorrência de uma educação diferenciada.

2. O Determinismo Geográfico

O determinismo geográfico considera que as diferenças do ambiente físico condicionam a diversidade cultural. Estas teorias, que foram desenvolvidas principalmente por geógrafos no final do século XIX e no início do século XX, ganharam uma grande popularidade. Como Huntington, em seu livro Civilization and Climate (1915), no qual formula uma relação entre a latitude e os centros de civilização, considerando o clima como um fator importante na dinâmica do progresso.

A partir de 1920, antropólogos como Boas, Wissler, Kroeber, entre outros, refutaram este tipo de determinismo e demonstraram que existe uma limitação na influência geográfica sobre os fatores culturais. E mais: que é possível e comum existir uma grande diversidade cultural localizada em um mesmo tipo de ambiente físico.

Nesse sentido, Laraia diz que não é possível admitir a idéia do determinismo geográfico, ou seja, a admissão da "ação mecânica das forças naturais sobre uma humanidade puramente receptiva". A posição da moderna antropologia é que a "cultura age seletivamente", e não casualmente, sobre seu meio ambiente, "explorando determinadas possibilidades e limites ao desenvolvimento, para o qual as forças decisivas estão na própria cultura e na história da cultura".

Por conseguinte, continua Laraia, as diferenças existentes entre os homens não podem ser explicadas em termos das limitações que lhes são impostas pelo seu aparato biológico ou pelo seu meio ambiente. A grande qualidade da espécie humana foi a de romper com suas próprias limitações.

3. Antecedentes históricos do conceito de cultura

O conceito de Cultura - todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade - foi definido pela primeira vez por Edward Tylor (1832-1917).

Já em 1690, John Locke (1632-1704), ao escrever Ensaio acerca do entendimento humano, procurou demonstrar que a mente humana não é mais do que uma caixa vazia por ocasião do nascimento, dotada apenas da capacidade ilimitada de obter conhecimento, através de um processo que hoje chamamos de endoculturação.

Em referência a John Locke, Laraia cita o antropólogo americano Marvin Harris (1969) que expressa bem as implicações da obra de Locke para a época: “nenhuma ordem social é baseada em verdades inatas, uma mudança no ambiente resulta numa mudança no comportamento”.

Para Jacques Turgot (1727-1781), o homem é capaz de assegurar a retenção de suas idéias eruditas, comunicá-las para outros homens e transmiti-las para os seus descendentes

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