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Drogas ilegais

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Por:   •  2/10/2014  •  Pesquisas Acadêmicas  •  2.077 Palavras (9 Páginas)  •  243 Visualizações

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Do prazer à dor

As drogas ilegais não são as únicas substâncias a provocar dependência; existem também os loucos por sexo, chocolate, jogos e mesmo por compras

Quem nunca se divertiu ao consumir álcool ou tentou esquecer algum problema tomando um porre que atire a primeira pedra. Se não foi com álcool, pode ter sido com o cigarro, com drogas ilícitas e até mesmo com chocolate e café. Ou ainda, numa fúria consumista, no shopping ou em um sexo bem feito. O fato é: a busca pelo prazer nos move, tendemos a repetir ações agradáveis e às vezes é nesse prazer que encontramos uma forma de fugir das dificuldades. O problema é quando o "gostar muito" se transforma em dependência, e o prazer se transforma em dor.

Não são apenas os consumidores de drogas ilícitas (cocaína, heroína, maconha...) ou lícitas (cigarro e álcool) que estão sujeitos a isso. Sexo, jogo, compras e comida também podem ser alvo de compulsão e os seus dependentes apresentam os mesmos sintomas de quem se vicia em substâncias químicas. Os especialistas são categóricos ao dizer que não existe sociedade sem drogas - isso se estende, para todo tipo de substância psicoativa, ou seja, que afete o funcionamento do cérebro (o que inclui também a cafeína, presente no café, na Coca-Cola e no chocolate). Mas é possível ir além: talvez não exista sociedade sem vícios - sejam eles por drogas ou por comportamentos.

Faz parte da história da humanidade buscar substâncias psicotrópicas. Acredita-se que o consumo de ópio, álcool e Cannabis já ocorria de 3.000 a 4.000 anos antes de Cristo.

"O fenômeno de dependência de drogas é algo que se prende à condição humana com diversas finalidades, desde a de apaziguar as dores, as angústias, as tristezas, até o de elevar aos deuses", escrevem os psiquiatras Antônio Pacheco Palha e João Romildo Bueno no prefácio do livro "Dependência de Drogas", que compila textos de 54 especialistas no assunto. "Assim sendo", continuam eles, "é natural que, enquanto houver dor, angústia, frustração, abatimento e dúvidas o homem irá continuar o uso de drogas ".

Mas não é só a busca de um alívio que leva a esse consumo. "Existem dois tipos de vício: um que serve para alterar a percepção de uma realidade intolerável e outro que passa só pela questão do prazer", afirma o psiquiatra Dartiu Xavier, coordenador do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes), da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Tudo pela recompensa

É o prazer que explica por que é possível ficar dependente de coisas tão diferentes como drogas, chocolate, café, jogo, sexo ou compras. Análises de mapeamento mostram que há uma região no cérebro, conhecida como sistema de recompensa, que é ativada por substâncias presentes tanto nas drogas quanto no nosso próprio corpo (hormônios e neurotransmissores) e que são liberadas quando passamos por estresse, excitação, alegria etc.

"Tudo o que é bom a gente quer repetir. Isso porque o cérebro se lembra que gostou e pede mais", explica a neurocientista Suzana Herculano Houzel, autora do livro "Sexo, Drogas, Rock´n´roll e Chocolate - O cérebro e os prazeres da vida cotidiana". Esse comportamento do cérebro é que nos faz ter motivação para tocar a vida.

O que intriga é por qual razão uma boa parcela dos usuários se contenta com o consumo recreativo de drogas e a prática saudável de sexo, por exemplo, enquanto outros tantos caem na dependência. A explicação da neurociência é que, diante de certos comportamentos ou consumo excessivo de uma substância, o sistema de recompensa é ativado ao extremo e, por proteção, acaba se dessenbilizando. Fazendo uma comparação bem simples, é o mesmo que ocorre com o elástico esticado além do limite e que não volta mais ao normal.

"Na próxima vez, aquele mesmo comportamento vai resultar em uma ativação menor do sistema de recompensa, em um prazer menor, e, para conseguir o mesmo grau de prazer que se conseguia antes, vai ser preciso mais daquilo. Jogar mais, fazer mais sexo, usar mais droga, comer mais chocolate", diz Suzana.

O problema é que essa dessensibilização do sistema de recompensa gera uma espécie de déficit de satisfação. Imagine que, no estado natural, todos temos um nível médio de ativação do sistema de recompensa. Entre os dependentes, o nível fica abaixo do normal. "É por isso que a vida da pessoa passa a orbitar ao redor do vício, que vira idéia fixa. Tudo o que a pessoa faz está centrado em como conseguir mais daquela coisa", explica a neurocientista. "E não faz diferença se é uma dependência química ou não-química. Todas passam pelo excesso de ativação e dessenbilização do sistema de recompensa."

Mas o que leva algumas pessoas à perda do controle independe de critérios simples, como a quantidade de droga ingerida. Para Xavier, um dos motivos pode ser a existência de problemas psíquicos e emocionais na vida do usuário. Em sua tese de doutorado, ele avaliou dependentes de álcool e de cocaína e descobriu que 80% apresentavam algum distúrbio nessa linha, sendo que 44% tinham depressão - a maioria adquirida antes do consumo de drogas. "É como se a droga servisse de alívio para os sintomas depressivos. Está aí a entrada para a dependência química", afirma. Segundo o pesquisador, problemas na família são outro fator de risco para a dependência. "Teoricamente não é possível que uma pessoa sem problemas acabe se viciando", diz. Claro que é preciso levar em conta qual droga está sendo consumida.

Dependência Psicológica

No caso da maconha, menos de 10% dos usuários ficam dependentes, número que sobe para 60% com a cocaína e para 80% com o crack e a heroína, de acordo com Xavier.

Além disso, o maior problema é a dependência psicológica. "A medicina evoluiu tanto que é facílimo tirar alguém de uma dependência física, mas o indivíduo recai por causa da psicológica".

Ele cita um estudo feito na década de 80, na Universidade Harvard, nos EUA, que descreveu pessoas que usavam heroína, uma das drogas que mais causa dependência, sem se viciar. Isso mostra que nem tudo pode ser atribuído à droga. "Ela é um fator necessário para causar dependência, mas não suficiente. É preciso ter a droga e mais um monte de coisas", diz.

As dependências químicas e não-químicas estão tão arraigadas que o tratamento acaba sendo bastante parecido. É nisso que aposta o Proad, que criou, ao lado do ambulatório

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