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Fichamento Mecanismo psíquico do esquecimento

Por:   •  21/6/2016  •  Resenha  •  1.528 Palavras (7 Páginas)  •  1.192 Visualizações

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Em seu texto “O mecanismo psíquico do esquecimento”, Freud afirma que todos já se depararam com o fenômeno do esquecimento, seja em si mesmo ou em outras pessoas e que afeta, em particular, o uso dos nomes próprios. Freud, através de uma investigação psicanalítica, nos descreve como funcionaria esse mecanismo de esquecimento e a manifestação de atos falhos.

Durante suas férias de verão, Freud fez uma viagem de trem da cidade de Ragusa até uma cidade próxima na Herzegovina. Durante sua conversa com seu companheiro de viagem o tema girou em torno da situação dos dois países (Bósnia e Herzegovina) e das características de seus habitantes. Freud falava das várias peculiaridades dos Turcos que viviam por lá, assim como foi descrito por um amigo que havia vivido entre eles por muitos anos como médico. Pouco tempo depois a conversa voltou-se para o tema da Itália e das pinturas e acabou por recomendar que seu companheiro um dia visitasse a cidade de Orvieto, para que pudesse contemplar os afrescos do fim do mundo e do Juízo Final com que fora decorada uma de suas catedrais. Porém, o nome do artista havia escapado de sua mente e não era capaz de lembrá-lo. Seus esforços não obtiveram êxito a não ser pela evocação de dois nomes de outros artistas italianos, que Freud sabia que não eram os certos. Eram eles Botticelli e Boltraffio. Freud fala que a repetição da sílaba “Bo” em ambos os nomes poderia levar um novato a supor que essa sílaba também pertencesse ao nome esquecido, mas que tomou cuidado para que não cometesse esse erro.

Como não havia acesso a qualquer tipo de livro de consulta, teve de aguentar por vários dias este lapso de memória, até que esbarrou em um italiano culto que o liberou deste sofrimento dizendo-o o nome do artista esquecido: Signorelli.

Que influências teriam levado Freud a esquecer o nome do artista italiano e que caminhos teriam levado a sua substituição por Botticelli e Boltraffio? Uma breve excursão de volta às circunstâncias em que ocorreram o esquecimento bastou para que solucionasse ambas as questões.

Pouco antes de chegar ao assunto dos afrescos da catedral de Orvieto, Freud estivera contando para seu companheiro de viagem algo que ouvira de seu amigo médico, anos antes, sobre os turcos da Bósnia. Eles tratam os médicos com respeito especial e exibem uma atitude de conformação ante os desígnios do destino. Se um médico tem que informar a um pai de família que um de seus parentes está para morrer a resposta é: “Herr [Senhor], que se há de fazer? Se houvesse uma maneira de salvá-lo, sei que o senhor o ajudaria”. Uma outra lembrança próxima disso também estava em sua memória. Esse mesmo amigo o falara da suprema importância que os bosnianos atribuem aos prazeres sexuais. Certa vez um de seus pacientes disse: “Sabe, Herr, se isso acabar, a vida não vale mais nada.” Naquela ocasião, pareceu a Freud e seu amigo que se podia presumir que os dois traços do caráter do povo bosniano assim ilustrados estivessem estritamente ligados. Freud diz que, ao lembrar essas histórias em sua viagem para Herzegovina, suprimiu a segunda, em que abordava o tema da sexualidade. Foi logo após isso que o nome Signorelli lhe escapou e os nomes Botticelli e Boltraffio apareceram como substitutos.

A influência que tornara o nome Signorelli, inacessível à memória — aquilo que o “recalcara”—, diz Freud, só podia proceder da história que ele havia suprimido sobre o valor atribuído à morte e ao gozo sexual. Se assim fosse, poderíamos descobrir as ideias intermediárias que serviram para ligar estes dois temas. A afinidade entre seus conteúdos — de um lado o Juízo Final, e do outro, a morte e sexualidade — parecer ser muito superficial, diz Freud; e como se tratava do recalcamento de um nome, era provável pensar que a conexão estivesse em um outro nome. Vejamos pelo seguinte fato: “Signor” significa “Herr” |Senhor|, e “Herr” também está presente no nome “Herzegovina”. Freud também considera importante levar em consideração que ambos os comentários dos pacientes contivessem um “Herr” como forma de dirigir-se ao médico. A tradução de “Signor” por “Herr” fora, portanto, o meio pelo qual a história que Freud havia suprimido arrastara consigo para o recalcamento o nome que ele estava procurando. Todo o processo fora facilitado pelo fato de que, nos últimos dias passados em Ragusa, Freud falara italiano continuamente – Acostumara-se a traduzir mentalmente do alemão para o italiano.

Quando Freud tentou recuperar o nome do artista, resgatando-o do recalcamento, a influência do laço em que o nome se enredara no intervalo fez-se inevitavelmente sentir. De fato, Freud descobriu o nome do artista, mas não o correto. Era um nome deslocado, e a orientação do deslocamento fora dada pelos nomes contidos nos temas recalcados. “Botticelli”; contém as mesmas sílabas finais que “Signorelli”; portanto, as sílabas finais – que, diferentemente da primeira parte da palavra “Signor”, não podiam estabelecer uma ligação direta com o nome “Herzegovina” – tinham retornado; mas a influência do nome “Bósnia”, regularmente associado com o nome “Herzegovina”, foi evidenciado ao dirigir a substituição para dois nomes de artistas que começavam com a mesma sílaba, “Bo”: “Botticelli” e “Boltraffio”. Verifica-se que a descoberta do nome “Signorelli” sofrera a interferência do tema que estava por trás dele, no qual apareciam os nomes “Bósnia” e “Herzegovina”.

Freud diz que, para que esse tema pudesse produzir tais efeitos, não seria o suficiente que ele tivesse suprimido uma vez na conversa – coisa que se deu por motivos casuais. Deveria, antes, presumir que o próprio tema estivesse também intimamente ligado a fluxos de representações nele presentes em estado de recalque. Para Freud, a experiência ensinou-o a insistir que todo produto psíquico é elucidável e até mesmo sobredeterminado. Consequentemente pareceu a Freud que o segundo nome substituído, “Boltraffio”, exigia uma outra determinação, pois, até ali, apenas suas letras iniciais tinham sido explicadas, por sua assonância com “Bósnia”. Recordou-se então de que essas representações nunca o haviam absorvido mais do que algumas semanas antes, depois de ter recebido uma certa notícia. O lugar onde Freud recebeu a notícia chamava-se “Trafoi”, e esse nome é semelhante a segunda metade do nome “Boltraffio”.

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