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O CASO MARCELO PESSEGHINI: UMA ANÁLISE CRÍTICA DO WEBJORNALISMO

Por:   •  21/7/2015  •  Artigo  •  6.334 Palavras (26 Páginas)  •  401 Visualizações

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O CASO MARCELO PESSEGHINI: UMA ANÁLISE CRÍTICA DO WEBJORNALISMO

BB, Laila[1]

CLB, Pedro Luis[2]

AS, Cristina[3]

Resumo: Os atos violentos praticados por adolescentes, cotidianamente divulgados na mídia, como aqueles praticados contra familiares, costumam promover o tom polêmico das discussões. De um lado, estão os debates favoráveis à redução da idade penal, de outro, os posicionamentos contrários à atuação da polícia. Partindo deste contexto problemático e dos novos paradigmas teórico-conceituais sobre violência, esta pesquisa buscou desenvolver uma análise crítica sobre a contribuição do webjornalismo para a comoção pública diante do caso “Família Pesseghini”. A pesquisa qualitativa adotada utilizou o método de análise de categorias para a coleta e análise dos dados, a partir das seguintes diretrizes: a) concepções críticas a respeito de perspectivas individualizantes sobre a autoria dos atos infracionais; b) as disposições legais para proteção integral de crianças e adolescentes, independente de sua condição de vítima ou autor; c) os usos e abusos na atuação da polícia brasileira; d) o papel social dos meios de comunicação online. As fontes consultadas foram matérias divulgadas nos portais UOL e G1, bem como os comentários dos leitores. Os resultados deste estudo corroboraram com os objetivos propostos, indicando caminhos para a revisão do papel webjornalismo de cunho mais popular no campo de direitos humanos e cidadania.

Palavras-chave: webjornalismo, direitos humanos, comoção pública, violência.

INTRODUÇÃO

Este artigo destina-se apresentar os resultados de um Trabalho de Conclusão de Curso que buscou analisar a repercussão do caso “Família Pesseghini” em dois grandes portais do webjornalismo, o G1 e UOL. Na noite do dia 5 de agosto, segunda-feira, no distrito de Brasilândia, zona norte de São Paulo, cinco pessoas de uma mesma família foram encontradas mortas, dentro da casa onde residiam. Jaziam no local, dois policiais militares – o Sargento Luiz Marcelo Pesseghini, 40 anos, e a mulher dele, a Cabo Andreia Regina Bovo Pesseghini, 35 anos; o filho do casal, Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini, 13 anos; a mãe de Andreia, Benedita Oliveira Bovo, 65 anos; e a irmã de Benedita, Bernadete Oliveira da Silva, 55 anos (G1 SÃO PAULO, 2013). Um crime com ares de chacina, o adolescente é apontado como suspeito dos assassinatos e posterior suicídio. Dada à grandiosidade do fato e a exploração midiática, o caso teve ampla repercussão e sustentou o webjornalismo por mais de um mês ininterrupto e posteriormente em espaços mais dispersos.

A partir de concepções críticas sobre o papel da mídia[4] nos dias atuais, representada pelo webjornalismo, para os debates de direitos humanos e em relação aos novos paradigmas de violência, a pesquisa buscou analisar a contribuição das matérias online sobre o caso para a comoção pública, a partir de duas tendências: 1) em relação aos polêmicos posicionamentos da sociedade sobre atos violentos praticados por adolescentes contra familiares; 2) em relação à imagem negativa da sociedade quanto à atuação da polícia brasileira.

Ao propor um estudo crítico sobre o webjornalismo num caso que gerou opiniões controversas quanto à autoria do crime, é importante esclarecer, inicialmente, que não se buscará a “verdade dos fatos” sobre a autoria dos acontecimentos, como também não será realizado nenhum perfil criminológico. Não se trata dos objetivos desta pesquisa julgar inocentes ou culpados e sim, analisar a contribuição de algumas matérias veiculadas no webjornalismo para a comoção pública.

Tomar o campo dos direitos humanos como um norteador para as discussões é uma escolha teórica que evidencia o questionamento dos discursos moralizantes em questão. “Direitos humanos são construções históricas de condições para a realização da dignidade humana de cada um e de todas as pessoas” (CARBONARI, 2008, p. 13). Segundo Carbonari (2008), não dá pra falar em direitos humanos, sem falar em democracia: “democracia é um requisito dos direitos humanos e os direitos humanos requisito da democracia” (p. 16).

A efetivação dos direitos humanos como instrumentos normativos, é uma construção recente. Suas bases, no Brasil, estão na participação do processo de consolidação da Carta das Nações Unidas, em 1945. Contudo, a incorporação destes instrumentos na dinâmica do país se fortalece no movimento contra a ditadura e a partir da Constituinte de 88. A construção de legislações complementares, como o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA –, expressa o período de constitucionalização dos direitos humanos. Pode-se citar, na construção deste contexto, o Fórum Social Mundial, realizado em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, em 2001, os movimentos populares, a constituição das ONGs, mudanças na gestão pública, abertura de espaços para participação popular etc. (CARBONARI, 2008).

Apesar das conquistas legais, “poucos são os processos concretos de sua efetivação” (CARBONARI, 2008, p. 22). Oliveira (2008) salienta que, “a criminalidade violenta constitui, hoje em dia, um fenômeno incorporado ao cotidiano da população brasileira. Mais do que meramente um problema, trata-se de um fato social maior” (p. 267). Camacho (2001) adverte que é equivocado relacionar a violência “apenas e diretamente à pobreza, aos grandes centros urbanos, aos adultos e aos dias de hoje” (p. 125), pois ela está presente em toda a sociedade e se desponta de variadas formas, não se limitando a espaços, classes sociais, faixa etária ou épocas determinadas.

Arantes (2013) lembra que a situação de violência atual no Brasil “é fruto de um longo e complexo processo histórico que contínua e insistentemente tem privado parcelas significativas da população brasileira de mecanismos de proteção e promoção social” (p.13). As taxas brasileiras são duas vezes maiores que a média mundial e como o terceiro país mais violento do continente, faz crescer entre a população a sensação de insegurança e temor ao crime (AZEVEDO, 2003). Como os fenômenos referentes à violência têm se inserido no cotidiano das pessoas, mesmo que de forma indireta através das divulgações midiáticas, constrói-se a sensação de vulnerabilidade (TEIXEIRA, 2013).

Mesquita Neto (2004), em pesquisa realizada com coronéis da polícia militar no estado de São Paulo, verificou que na visão deles, os crimes que mais fornecem insegurança são os homicídios e roubos praticados com arma de fogo, por atingirem ou ameaçarem a vida e integridade física das pessoas. Justificam a causa destes crimes na fragilidade de políticas públicas voltadas para as áreas sociais, culturais, educacionais e de emprego e renda. Alguns dos coronéis apontam ainda, a impunidade decorrente das falhas no sistema de segurança pública e a desestrutura familiar como agente para a ocorrência da violência.

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