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O Desenvolvimento Humano

Por:   •  27/3/2023  •  Trabalho acadêmico  •  1.771 Palavras (8 Páginas)  •  44 Visualizações

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I- Parecer Psicológico

Nome: Joaquim José do Nascimento, 18 anos, solteiro, ensino médio completo; residente na Rua João Ricardo da Silva, Nº 35, Pancó, Igarassu-PE.  CEP: 53765-630.

Solicitante: Maria Jesus Moura;

Finalidade:  Analisar a sintomatologia apresentada por Joaquim José do nascimento e apontar se o  quadro clínico é característico ou não de anorexia nervosa.

Parecerista: Aline Priscila Pereira da Silva, Psicóloga Clínica, especialista em Avaliação Psicológica, CRP: 02.0000

II- Descrição da Demanda:

Paciente sem histórico diagnostico de restrições alimentares até o inicio do processo psicoterápico em julho de 2018. No período de julho a dezembro do referido ano o paciente perdeu cerca de 10kg, no inicio do processo psicoterápico o paciente pesava cerca de 60kg tendo altura de 1,75M. A constante perda de peso, somada a intensa insatisfação com sua imagem corporal, levou sua terapeuta a ficar alerta. Apesar de ter perdido uma quantidade significativa de peso, não mostrava-se satisfeito, passando a fazer uso de dietas cada vez mais restritivas e praticar exercícios físicos com mais frequência. O paciente passou a afastar-se do convívio social, passa bastante tempo sozinho em seu quarto, apresenta queda de preção frequente, seguido de desmaios. Passou a usar com frequência roupas de maga longa e folgada.

Durante este período o paciente relata estar vivenciando discussões frequentes com sua genitora, o que segundo ele, seria o motivo de estar “perdendo” a fome. Por outro lado a genitora afirma não saber lidar com a fase que o filho está vivenciando atribuindo a responsabilidade dos conflitos a fase caracterizada com adolescência[1].

III- Análise

O comportamento relativo à comida parece gerar uma conexão direta com os sentidos e sentimentos ligados ao próprio sujeito e a sua identidade social, transformando o ato de alimentar-se em um momento simbólico, com conteúdos que transcendem a ordem do real. Com isto, é possível a afirmação de que nenhum alimento é ingerido sem que haja alguma significação emocional. Cada indivíduo desenvolve de forma peculiar sua afetividade com o alimento e esta relação pode ser harmoniosa ou conflitante de acordo com a representatividade e significado que o alimento ocupará na vida do sujeito.

        Os sentidos mais comumente envolvidos no ato de alimentar-se são a visão, o olfato e o paladar, sendo estes últimos órgãos exclusivamente sentimentais. Segundo Mintz (2010)[2], esses sentidos são os únicos que se conectam ao hipocampo, órgão situado dentro do lóbulo temporal central do cérebro, responsável dentre outros pela memória. E é este conceito que nos liga ao pensamento de Mintz, a memória emocional, amplamente relacionada à alimentação.

Zarte (2016)[3], acredita que quando a alimentação não está vinculada ao afeto, não poderá cumprir sua função na integralidade, por tanto, permanecerá a “fome oculta”. (ZARTE, 2016, p. 23, grifo do autor). A fome a que a autora se refere é uma fome simbólica que denuncia uma falta, falta do que não foi simbolizado pelo sujeito, um furo simbólico que não o permite vivenciar suas experiências em sua totalidade porque lhe falta “alguma coisa”. Tendo essa compreensão do lugar ocupado pela comida para os sujeitos pode-se falar sobre os conceitos da anorexia nervosa e deste lugar de falta que o anoréxico nos convoca.

Atualmente o DSM-V (2014)[4], caracteriza a Anorexia Nervosa como sendo uma perturbação persistente na alimentação ou no comportamento relacionado à alimentação que resulta no consumo ou na absorção alterada de alimentos e que compromete significativamente a saúde física ou o funcionamento psicossocial. A anorexia nervosa é caracterizada pela magreza extrema decorrente da negação do ato de se alimentar e de medidas laxativas. Está relacionada também, com dificuldades emocionais e conflitos psíquicos dos indivíduos. Ainda segundo o DSM V (2014), a anorexia nervosa pode ser definida como sendo a restrição da ingestão calórica em relação às necessidades, levando a um peso corporal significativamente baixo no contexto de idade, gênero, trajetória do desenvolvimento e saúde física. A anorexia nervosa acomete especialmente jovens e adolescentes.

Segundo Assumpção e Cabral (2002)[5], a anorexia nervosa vai além de um distúrbio alimentar podendo ser caracterizado como distúrbio psiquiátrico/psíquico apresentando a maior taxa de mortalidade dentre todos os distúrbios psiquiátricos, cerca de 0,56% ao ano, sendo as principais causas de mortalidade neste público as complicações cardiovasculares, insuficiência renal e suicídio. Segundo Cardoso e Santos (2014)[6], em relação aos aspectos emocionais, a literatura evidencia que o funcionamento afetivo emocional dos sujeitos com transtorno alimentar encontra-se muito perturbado nos quadros psicopatológicos, caracterizados por grave perturbação do comportamento alimentar. Por razões ainda pouco exploradas, pacientes com transtorno alimentar costumam associar à alimentação sentimentos intensos, como medo, culpa e ansiedade (CABRERA, 2006)[7].

Apesar de a anorexia comumente está associada ao universo feminino, segundo matéria divulgada em um jornal de grande circulação, Folha de São Paulo (2017)[8], evidenciaram em sua matéria intitulada: Garotos Já ocupam 60% dos leitos para anorexia no HC, os altos índices de homens acometidos  com anorexia, chegando a ser superior ao atendimento do transtorno alimentar nas mulheres. A matéria ainda esclarece que em quinze anos de existência o ambulatório só havia recebido cinco casos de anorexia masculina. O aumento desses casos tem sido fonte de pesquisas e estudos não apenas no Brasil, mas em outros países que lidam com essa problemática.

        O corpo é o ponto de referência que o sujeito possui para reconhecer e interagir com o mundo. O corpo que permite a realizações de desejos é o mesmo corpo que limita sua realização, mesmo as mudanças estéticas que são ofertadas pela modernidade impõe um limite, muda-se o corpo e com isto pretende-se mudar toda uma relação subjetiva construída com ele. Pensar anorexia no masculino leva-nos a uma observação social do lugar ocupado por esse homem na pós modernidade e sua necessidade de se encaixar em um grupo social, de ser aceito por ele, essas imposições pressionam o sujeito e põem em questionamento seu próprio self.

Os fatores desencadeadores da anorexia são múltiplos, sedo uma doença que afeta a ordem biopsicosocial. Segundo pensamento de Gaspar (2010)[9], a anorexia seria desencadeada  devido uma fixação do sujeito no olhar do Outro materno, não conseguindo se desvincular deste. Na compressão de Soares e Morais (2004)[10], a anorexia seria desencadeada devido as intrusões maternas no período de dependência absoluta, sendo essas intrusões intensas e frequentes, poderiam ocasionar um déficit na constituição do self do bebê, isto ocorreria em um momento em que a linguagem estaria ausente neste sujeito em constituição. O self do bebê neste sentido seria incapaz de defender-se, a mãe violaria este ego, que fragilizado fica aprisionado nesta relação intrusiva, incapacitando-o de diferenciar-se dela. O desdobramento desta con-fusão -denominada pelos autores – vivenciada nos primórdios da estruturação do self do bebê, prejudica o processo de simbolização, deste forma o bebê é tomado por angústias primitivas, que poderão acarretar em processos psicossomáticos, podendo eleger a anorexia como representante desta com-fusão.

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