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O PRETO VELHO COMO PSICÓLOGO POPULAR: OS DISPOSITIVOS CULTURAIS COMO ELEMENTOS DE PRODUÇÃO DE SAÚDE MENTAL

Por:   •  31/12/2020  •  Trabalho acadêmico  •  5.763 Palavras (24 Páginas)  •  128 Visualizações

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O PRETO VELHO COMO PSICÓLOGO POPULAR: OS DISPOSITIVOS CULTURAIS COMO ELEMENTOS DE PRODUÇÃO DE SAÚDE MENTAL.

Suzane Monica Wolfart[1]

Edelu Kawahala[2]

Resumo: Este trabalho tem como objetivo evidenciar o contexto histórico das religiões de matriz africana e a riqueza da construção simbólica em torno da figura do preto velho, destacar o conjunto das representações sociais que tomam parte ou estão subjacentes na sua elaboração, considerando a particularidade étnica e racial do personagem. Esse estudo da cultura e identidade revela a importância dos valores étnicos, culturais e sociais, envolvidos no contexto das famílias de obediência e hierarquia, e sua riqueza está na construção de personagem, esse, que faz refletir em si as várias contradições da nossa sociedade. Tem por objetivo também, estabelecer relação entre o racismo, intolerância e negação de direitos destas comunidades e resgatando as práticas sociais e políticas desses atores na proteção e afirmação de seu universo religioso.

Palavras Chaves: Umbanda, Preto Velho, Psicologia Comunitária Social.

A análise histórica do preconceito leva a percepção de como a descriminação de raça, sexo, idade, classe social e orientação sexual são sintomas característicos de nossa cultura, e entender essa dinâmica de descriminação, significa entender a dinâmica da sociedade e do sujeito que nela vive.

O indivíduo como pertencente a uma sociedade é constituído de subjetividade e como tal se produz na relação das forças que atravessam o sujeito, no movimento, no ponto de encontro das práticas de objetivação pelo saber/poder com os modos de subjetivação: formas de reconhecimento de si mesmo como sujeito da norma, de um preceito, de uma estética de si. (FILHO. P. K; MARTINS, Simone, 2007).  

Por conta de uma percepção de relação estreita entre religião e identidade, os movimentos sociais negros têm incluído sistematicamente em sua agenda a reivindicação por políticas públicas de proteção e promoção das chamadas “religiões negras”. Também pelo mesmo motivo as têm inserido em todos os debates relativos às lutas por melhoria das condições de vida da população negra e promoção da igualdade racial. (Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras e Ciências Humanas, 2011).

As várias formas de dominação cultural e econômicas existentes na era moderna são

representações da construção do contexto histórico, essas formas com o tempo só aprimoram suas técnicas de conquista. No contexto religioso, presenciamos esse poder, uma posição de inferioridade das religiões de matriz africana, suas entidades e santidades, são diariamente vistas como representações do “Diabo”, não há respeito com a cultura, suas origens e contexto histórico.

 Nesse linear, o racismo é apresentado a partir de uma construção histórico-social, que procura compreender como se consolidou o dispositivo de racialidade/biopoder, detectando os dois obstáculos ao reconhecimento jurídico destas religiões, o racismo institucional e o fascismo sócio-racial, refletidos na intolerância e violação de direitos relacionados à livre manifestação da religiosidade africana no país, retratar emergência do movimento negro contemporâneo e sua articulação com a luta por reconhecimento das religiões de matriz africana, e a representatividade da figura do Preto-velho, promovendo uma reconstrução teórica e social da tolerância e do direito à liberdade religiosa, inspirado na proposta investigativa do direito achado na rua, suscitando caminhos para um multiculturalismo emancipatório como projeto político e teórico de reconhecimento da alteridade religiosa de matriz africana. (ARANJO, A de A., 2007).

1. CONSTRUÇÃO SOCIAL E HISTÓRICA DAS RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA

Como sabemos o sistema de escravidão significou para os negros trazidos da África ao Brasil uma perda dos aspectos da vida, organizações sociais nas famílias, clãs, noção totalmente destruída, a economia passou a ser regido de uma forma totalmente diferente de seus costumes, adaptando-se assim a este novo sistema, ser escravo era agora quem dava a medida para toda a organização na vida de cada um. Sua condição era a único ponto de orientação nesse lugar. Com a abolição da escravidão, os escravos perderam seu ponto referencial, quando sob o comando de um senhor que causava terror, agora sob liberdade, não foram acolhidos pela sociedade. Se o fim da escravidão significou liberdade, para muitos representou uma vida caótica. (BERKENBROCK, p. 161, 2007).

 A religião foi um dos únicos pontos que significou uma certa continuidade entre as situações antes e depois da escravidão, mesmo que tenhamos que admitir que se tratava apenas de fragmentos de religião, tanto fragmentos católicos, como fragmentos de tradições religiosa africanas. Esta situação reflete bem a condição dos negros no Brasil, por um lado não eram mais africanos, e por outro, não tinham sido aceitos plenamente na sociedade brasileira.  A construção das religiões transcorreu de forma diversa em toda a região brasileira. (BERKENBROCK, p. 161, 2007).

Nos primeiros tempos da chegada dos escravos africanos, os sacerdotes destes estudaram o ambiente, compreenderem a mentalidade dos fazendeiros e a possibilidade da manutenção de suas crenças, mediante um artificio engenhoso, darem a entender que estavam dispostos a se converterem á religião. Assim faziam, armavam um altar todo enfeitado e florido, puseram em lugar de honra a imagem de um santo católico, mas, sob o atoalhado, assentaram o “santo”, africano que veneravam, ou seja, saudavam, em primeiro lugar o santo católico para os espiões dos senhores assistirem, e em seguida batiam cabeças para otá, a representação dos deuses africanos. (FREITAS, T. B de; FREITAS C. W de, s/a)

Graças a esse sincretismo, as religiões africanas puderam conservar a sua doutrina, o seu ritual atenuado, a sua hierarquia sacerdotal. A evolução das religiões afro-brasileiros extremou dois grandes grupos: ao norte, o nagô (sudanês), ao sul, o omoloco, de origem angoleses (bantu).(FREITAS, T. B de; FREITAS C. W de, p. 17-18, s/a).

Martins (1975), demostra como forma de produção e a organização social que dela deriva é fundamental para a constituição de determinadas subjetividade, culturas, ou seja, da mesma fora que a música caipira expressa e auxilia relação de sociabilidade na mesma e a música sertaneja retrata o isolamento e a inadequação do caipira ao centro urbano, o samba representa a integração e socialização das várias classes, o regionalismo representa e defende suas culturas, desta forma devemos entender que nas religiões de matriz africana merecem ser cultivadas e respeitadas como todas as outras.

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