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O Suicídio em Presos

Por:   •  18/6/2016  •  Trabalho acadêmico  •  3.904 Palavras (16 Páginas)  •  187 Visualizações

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Resumo

O presente estudo tem como objectivo complementar o estudo de Moreira e Gonçalves, em 2010, estudando a influência do sexo do indivíduo e o impacto dos diferentes níveis de segurança, de diferentes estabelecimentos prisionais, na ideação suicida e na sintomatologia psicopatológica de reclusos, em dois momentos, durante a primeira semana de reclusão e após seis meses de cumprimento da pena.

A ideação suicida será avaliada através do Questionário de Ideação Suicida enquanto o Inventário de Sintomas Psicopatológicos permitirá avaliar a perturbação emocional e sintomatologia psicopatológica associada. Esperamos que os resultados do futuro estudo permitam concluir que os reclusos do sexo feminino sejam mais afectados pela entrada na prisão do que os reclusos do sexo masculino. Esperamos também que os indivíduos em estabelecimentos prisionais de máxima segurança demonstrem resultados mais preocupantes do que reclusos em estabelecimentos com normas de segurança menos rígidas. Devido ao facto de não existir nenhum estabelecimento prisional de máxima segurança para reclusos do sexo feminino em Portugal, não será possível estudar a influência do nível de segurança na ideação suicida e sintomatologia psicopatológica das reclusas.


Introdução

Os comportamentos autolesivos podem ser definidos como todo o acto através do qual o indivíduo causa uma lesão em si mesmo (Moreira, 2008, cit. in Moreira & Gonçalves, 2010). A tentativa de suicídio é um tipo de autolesão. Os indivíduos são, no geral, desesperançados e padecem de perturbações depressivas. Experienciam elevada intenção suicida, encontram-se cognitivamente constritos e não perspectivam outra saída que não a morte para um estado extremo de sofrimento mental (Moreira, 2008; Rudd, 2000, cit. in Moreira & Gonçalves, 2010).

O suicídio prevalece mais nos estabelecimentos prisionais do que na população geral e é a principal causa de morte dos reclusos (John Howard Society of Alberta [JHSA], 1999). Em 2008, Moreira concluiu em 2008, que entre 1999 e 2004, por cada suicídio na população geral ocorreram 14 suicídios nas prisões portuguesas (cit. in Moreira & Gonçalves, 2010).

Os estabelecimentos prisionais, são fonte de sofrimento, visto que afastam o indivíduo dos seus amigos e familiares, obrigam-no a viver num meio violento, sobrelotado e cheio de novas normas, a enfrentar um processo legal desgastante e a lidar com microstressores diários que potenciam o risco de comportamentos autolesivos (Moreira & Gonçalves, 2010). A entrada na prisão representa a fase da execução da pena em que o risco é mais exacerbado. Durante os três primeiros dias de encarceramento, verificam-se maiores números de tentativa de suicídio (Goss, Peterson, Smith, Kalb & Brodey, 2002). Vários estudos verificaram que a sobrecarga emocional própria da fase inicial da execução da pena se vê esbatida à medida que o recluso se adapta à instituição prisional e que geralmente os reclusos retomam o seu normal funcionamento depois de reagirem adaptativamente ao impacto da detenção e à fase inicial de reclusão (Cooper, 1974; Elger, 2004; Reitzel & Harju, 2000; Ribeiro & Barros 1995; Zamble & Porporino, 1988).

A presença de perturbação psiquiátrica é apontada como um dos factores de risco que mais agravam os comportamentos autolesivos. Num estudo de Goss e os seus colaboradores, em 2002, referente a tentativas de suicídio em meio prisional, 77% dos reclusos que tentaram o suicídio pela primeira vez enquanto reclusos, padeciam de perturbação psiquiátrica (cit. in Moreira & Gonçalves, 2010).

Em termos da presença de sintomas psicopatológicos e o número de suicídios, o sexo do indivíduo tem-se revelado importante. Num estudo de Meltzer, Jenkins, Singleton, Charlton e Yar (2003), verificaram que os reclusos que tentam o suicídio têm quatro vezes mais probabilidade de terem recebido tratamento psiquiátrico no ano anterior à sua detenção, comparativamente a reclusos que não tenham tentado o suicídio. Em reclusas, essa probabilidade é três vezes maior.

Entre reclusos com comportamentos suicidários é provável encontrarmos grande percentagem de indivíduos com perturbação borderline da personalidade (Chapman, 2003; Franklin; 1988, cit in. Moreira & Gonçalves, 2010). De acordo com Chapman (2003), as reclusas com perturbação borderline da personalidade reportam 3 vezes mais episódios de para-suicídio e suicídio comparativamente a reclusas sem perturbação borderline da personalidade.

No estudo Singleton, Meltzer, Gatward, Coid e Deasy (1997) com 3.138 reclusos (homens e mulheres) que responderam a questões relacionadas com comportamentos e pensamentos suicidários verificou-se que a proporção de reclusos preventivos que admitiram terem pensado cometer suicídio durante o decurso da sua vida demonstrou ser extremamente elevada, 46% nos reclusos e 59% nas reclusas e que durante a actual execução da pena 5% dos reclusos e 9% das reclusas preventivas enveredaram pelo para-suicídio (cit in. Moreira & Gonçalves, 2010).

Em 2002, Fazel e Danesh, numa revisão de 62 estudos sobre saúde mental em estabelecimentos prisionais de 12 países ocidentais, com uma amostra de 22.790 reclusos, 18.530 (81%) homens e 4.260 (19%) mulheres, verificaram que 3% a 7% dos reclusos homens padeciam de perturbações psicóticas, 10% de perturbação depressiva major e 65% de perturbações da personalidade, dos quais 47% com perturbação anti-social. No que se refere às reclusas, 4% padeciam de perturbações psicóticas, 12% de perturbação depressiva major e 42% de perturbações da personalidade, dos quais 21% com perturbação anti-social.

Os variados tipos de estabelecimentos prisionais afectam o recluso de forma diferente. Em estabelecimentos prisionais de máxima e média segurança, verificam-se mais suicídios do que em estabelecimentos de segurança mínima (JHSA, 1999). No estudo de Goss e os seus colaboradores, em 2002, verificou-se uma maior percentagem de tentativas de suicídio em reclusos que estavam em unidades isoladas do que em reclusos que estavam alojados em grupos.

No estudo de Moreira e Gonçalves, em 2010, exploraram a incidência de ideação suicida e de perturbação emocional em presos preventivos em dois momentos distintos da execução da pena, durante a primeira semana de reclusão e após seis meses de cumprimento de pena.

No presente estudo, pretendemos complementar o estudo de Moreira e Gonçalves estudando a influência do sexo do indivíduo e o impacto dos diferentes níveis de segurança, de diferentes estabelecimentos prisionais, na ideação suicida e na sintomatologia psicopatológica dos reclusos.

Métodos

Participantes

A amostra será constituída por um grupo de reclusos, subdividido em três grupos: reclusos do estabelecimento prisional de Vale de Judeus e reclusos do estabelecimento prisional de Caxias, ambos do sexo masculino e ainda um grupo de reclusos do sexo feminino do estabelecimento prisional de Tires.  

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