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O conceito de presença em Heidegger e como tal processo se relaciona com a psicoterapia

Por:   •  31/1/2020  •  Trabalho acadêmico  •  2.543 Palavras (11 Páginas)  •  610 Visualizações

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A obra do filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976) faz uma reflexão sobre a existência humana por meio de uma interrogação sobre o sentido do ser. Parte de uma crítica à orientação metafísica do pensamento ocidental e a filosofia clássica, tratando no em como foi deixado para trás o questionamento do próprio modo de ser e de habitar o mundo, enfim, de conduzir a própria vida, com intuito primordial de compreender o sentido da existência humana (Heidegger, 2005).

A primeira especulação de Heidegger, puramente ontológica (parte da filosofia que trata da natureza do ser), é toda orientada para a solução desta questão. De acordo com Heidegger, a questão do ser, embora sempre estudada ao longo da história da filosofia, jamais foi resolvida, ficando em pior local, sendo “esquecida” pela filosofia clássica. Em Ser e Tempo, sua obra mais reconhecida, ele faz então uma elaboração concreta à cerca do sentido do ser; não de forma conceitual, mas sim de maneira interpretativa, já que ele não trabalha com conceitos. Ele elabora uma análise existencial a partir do método fenomenológico, o qual considera o único possível ao esclarecimento e interpretação dos fenômenos da existência e da sua grande questão: qual o sentido do ser. (Heidegger, 2005).

Segundo Heidegger (2005, p. 12), “o ser não somente não pode ser definido, como também nunca se deixa determinar em seu sentido por outra coisa nem como outra coisa. O ser só pode ser determinado a partir do seu sentido como ele mesmo”. Ou seja, o ser é autônomo, independente, e indefinível. Logo, o ser é algo derradeiro e último que subsiste por seu sentido, é algo autônomo e independente que se dá em seu sentido.

Heidegger coloca que a experiência de que o ser sempre se esquiva e desvia em todos os desempenhos de apreendê-lo e em qualquer esforço por representá-lo ou defini-lo, levando a uma resposta ambivalente e paradoxal acerca do sentido do ser. Heidegger (2005) traz que é logo por esta vertigem de ser e tempo que o pensar é o modo de ser do homem, pois é pensando que o homem é ele mesmo, sendo outro. Como assim? Heidegger (2005) coloca que no pensamento, a fala nunca é primeiro, ele não fala de modo próprio. Ele sempre vai responder por já ter escutado.

O ser nunca se manifesta direta ou imediatamente, mas sim como ser de um ente – entidades/mundo das coisas. Aquilo que faz presente o ente e que o ilumina, mas que também se faz presente e manifesta-se no ente. A compreensão do ser está sempre incluída em tudo que se apropria do ente; porém, o ser NÃO é um ente. O ente é um modo de ser e é determinado por este. “O ente é tudo aquilo de que falamos / nos referimos; diz respeito a muitas coisas e em sentidos diferentes, é o que somos e como somos” (Heidegger, 2005, p. 35).

Porém, o homem é o único ente – Heidegger (2005) coloca como o ente privilegiado - cujo qual se tem acesso ao ser, o qual pode extrair o sentido do ser; ele é um ente que tem relação singular com seu ser, justamente porque ele é percebido e questionado por si mesmo. Portanto, quando Heidegger (2005) aprofunda esta questão do ser e da existência ele parte deste ente singular e consciente que é o ser humano. A filosofia do ser parte da análise da existência desta presença.

Heidegger (2005) propõe, em sua obra, uma análise existencial por meio de sua ontologia fundamental. O obscurecimento sobre a questão do ser se constituiu com o modo como a questão foi colocada pela ontologia tradicional: ao se perguntar o que é o ser, lançamos mão de uma compreensão prévia de ser no próprio interrogar, onde esse ente privilegiado não é um ente que É, é um ente que EXISTE.

Ao refletir sobre esse modo de questionar, as interpretações prévias sobre o ser vão se impregnando na questão e propõe outro modo interrogar: questionar o ser em seu sentido, que é primordial à compreensão das coisas em nosso cotidiano. O indivíduo tem a capacidade de conhecer o ser, que não é uma coisa fechada, padrão. Ele não compreende somente ele, passa dele. A questão do ser põe em jogo duas dimensões: a ôntica, referente ao horizonte de manifestação do ente, e a ontológica, referente ao horizonte das possibilidades de ser de um ente (Heidegger, 2005).

A partir disto, Heidegger (2005, p. 38) traz que “como atitude do homem, a ciência possui o modo de ser deste ente (homem), designado como pre-sença”. Essa pre-sença não é apenas um ente que ocorre entre os outros entes, justamente o contrário, a partir do ponto de vista ôntico, ela se distingue pelo privilégio de em seu ser, logo sendo, estar em jogo seu próprio ser. Isto é, a compreensão do ser é em si mesma uma determinação do ser da pre-sença.

E a pre-sença sempre se compreende a si mesma a partir de sua existência, de uma possibilidade de ser ou não ser ela mesma. Heidegger (2005) busca compreender o sentido do ser. Ele denomina o modo de ser do homem como Dasein, que significa ser-aí. Tal termo busca colocar em evidência o modo como a questão do ser se apresenta para esse ente que nós mesmos somos: diferentemente de outros entes, cujo ser reside na dimensão ontológica, em nossa experiência o ser está "onticamente assinalado, pois para esse ente está em jogo em seu ser esse ser ele mesmo" (p. 39). Assim, nosso modo próprio de ser consiste em tornar-se, vir a ser o que se é, em uma relação íntima com o ser mesmo.

Simultaneamente, temos uma relação-de-ser com aquilo que viemos sendo, nos entendemos em nosso ser nós mesmos e somos abertura para aquilo que estamos sendo. E desse ser-ai, que essa compreensão do ser se dá pela a abertura, pela revelação das coisas, que Heidegger (2005) traz como o ser-no-mundo.

A pre-sença, logo indicada como Dasein ou ser-aí, é privilegiada por possuir "em seu ser a possibilidade de questionar" (Heidegger, 2005, p. 44) sobre o sentido do ser, de modo que "Elaborar a questão do ser é tornar transparente um ente - o que questiona - em seu ser" (Heidegger, (2005, p. 45) e, assim, é por meio da explicitação desse ente que nós mesmos somos que Heidegger procura iluminar a questão do ser.

Questionar corresponde ao plano ontológico, também chamado existencial, que considera o indivíduo como ser-no-mundo, relacionando-se com as pessoas do seu universo social, entes que Heidegger denomina Dasein, e também com as coisas, denominadas entes simplesmente dados. De acordo com Heidegger (citado por Sapienza, 2015, p.39), existe outro plano, o plano ôntico, também denominado existenciário, que compreende o que se manifesta entre as possibilidades ontológicas do ser e se refere ao próprio ente do modo como se mostra.

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