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Problemas de proteção de saúde mental e trabalho na subzona de saúde ocupacional

Relatório de pesquisa: Problemas de proteção de saúde mental e trabalho na subzona de saúde ocupacional. Pesquise 859.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  11/3/2014  •  Relatório de pesquisa  •  6.697 Palavras (27 Páginas)  •  382 Visualizações

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Ciência& Saúde Coletiva

Print ISSN 1413-8123

Ciênc. saúde coletiva vol.10 no.4 Rio de Janeiro Oct./Dec. 2005

Saúde mental e trabalho: os problemas que persistem

Leny SatoI; Márcia Hespanhol BernardoII

IInstituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Departamento de Psicologia Social e do Trabalho. Av. Professor Mello Moraes 1.721, 05508-900, São Paulo SP. lenysato@usp.br

IICentro de Referência de Saúde do Trabalhador de Campinas

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RESUMO

Este artigo toma por objeto a Saúde Mental e Trabalho como uma subárea do campo da Saúde do Trabalhador. Parte da constatação de que os problemas de saúde mental e trabalho, já identificados em meados da década de 1980, persistem. Após retomar a taxonomia de tais problemas, busca evidenciar algumas de suas expressões atuais a partir da assistência e da vigilância em saúde do trabalhador, bem como pela perspectiva de alguns sindicatos mais atentos à questão. Para tal, toma como ponto de partida o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CRST) de Campinas. Por fim, pontua algumas características do trabalho no con-texto atual para compreender as motivações dessa persistência.

Palavras-chave: Saúde do trabalhador, Saúde mental e trabalho, Políticas de saúde do traba-lhador, Psicologia social da saúde

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Introdução

Como o título do artigo anuncia, reconhece-se que a temática da Saúde Mental e Trabalho, no Brasil já tem um bom caminho percorrido, e muitos dos problemas que impulsionaram o desen-volvimento dessa área persistem. Sob a designação Saúde Mental e Trabalho, temos, desde o início da década de 1980, no Brasil, diversos estudos, pesquisas e atividades de intervenção a partir dos serviços públicos de saúde e das entidades sindicais, conformando o que se poderia denominar de uma subárea do campo da Saúde do Trabalhador. O fato de estabelecermos esse corte temporal não significa que antes desse período não se desenvolvessem atividades focali-zando a saúde mental de pessoas que trabalhassem. É bom notar que, desde a década de 1920, nos Estados Unidos da América, documentam-se atividades englobadas sob o título de Saúde Mental Ocupacional (Shartle, 1950) que, como prática, privilegiava a oferta de assistência psicoterápica aos trabalhadores sendo o trabalho, suas condições e sua organização, tomados apenas como pano de fundo dos problemas que demandavam essa assistência. Cálculos de custo-benefício eram fortes argumentos para a oferta de psicoterapia.

No Brasil, por seu turno, as denominadas "ciências do comportamento", na década de 1940 também se ocupavam da saúde mental das pessoas que trabalhavam. Bertolli-Filho (1992-1993) mostra como a medicina, ocupando-se da esfera psicológica atuava em dois domínios: o primeiro que congregava a construção e a aplicação de técnicas visando à seleção e à adaptação profissional dos trabalhadores (a psicotécnica), e a segunda, que se dava através da análise de operários que apresentavam possíveis "transtornos mentais", causadores ou resultantes de acidentes que comprometiam a existência do indivíduo e dos companheiros de labuta. Neste segundo domínio, os profissionais de saúde mental eram recrutados para atuarem como peritos para a Justiça do Trabalho, com vistas a subsidiar sua decisão nos casos de pedidos de indeni-zação encaminhados pelos trabalhadores acidentados. Aqui, tanto a psicanálise como o para-digma organicista foram adotados como apoios para a emissão desses laudos. Observa-se que, apesar de tomarem leituras teóricas bastante distintas, as conclusões convergiam para o mesmo diagnóstico: ... existência de traumatismos físicos [provocados pelo acidente] favorecedores do desenvolvimento de "neuroses de responsabilização" dos patrões pelo acidente de trabalho, sentimento rotulado pela medicina como "sinistrose", "neurose de renda", "neurose de desejo" e "indenizofilia" (Bertolli-Filho, 1992-1993). Esses diagnósticos sustentavam, então, a conclusão de que os trabalhadores acidentados eram "simuladores" e, assim, buscavam extorquir as companhias seguradoras.

Tanto a denominada saúde mental ocupacional como as ciências do comportamento buscam a gênese dos problemas de saúde mental dos trabalhadores no universo intra-individual, sendo o trabalho, suas condições e sua organização mero pano de fundo. Assim, ao abstrair as condi-ções concretas de trabalho e, principalmente, as relações de trabalho, contribuíram para cons-truir a explicação que "culpabiliza a vítima".

De modo distinto, ao estar abrigada no campo da Saúde do Trabalhador, a Saúde Mental e Trabalho toma as relações de trabalho e sua historicidade como matriz de leitura, conforme a formulação da Saúde Coletiva descrita por Lacaz (1996; 1997) e Minayo-Gomez & Thedim-Costa (1997).

Como já extensamente apresentado por Seligmann-Silva (1986; 1994), a Saúde Mental no Trabalho, como campo de investigação e de práticas, tem acolhido diferentes correntes teórico-metodológicas, construindo diversos objetos de investigação. Tem-se desde as abordagens sustentadas na teoria do estresse até as que orientam suas leituras pela psicanálise em seus vários matizes. Como não deixaria de ocorrer aqui também, as ciências que focalizam o mundo psicológico a partir de distintos objetos (comportamento, sofrimento, subjetividade, imaginá-rio/simbólico, doença mental) têm suas vinculações tanto com a Biologia como com as Ciências Sociais (Antropologia, Sociologia, Lingüística), fazendo com que múltiplos "nomes" sejam utili-zados para se referir à Saúde Mental e Trabalho.

Inevitável, então que, no mais das vezes, nem sempre se consiga entabular diálogo entre as diversas abordagens, como constatam Figueiredo & Santi (2000) e Figueiredo (2002) a respeito da psicologia, o que se mostra pertinente também para o caso que aqui se discute. Qualquer levantamento das pesquisas desenvolvidas no Brasil, de teses, dissertações e artigos, evidenci-ará que essa multiplicidade de orientações encontra abrigo em grupos

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