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Psicologia Aplicada A Fisioterapia

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Por:   •  2/12/2013  •  9.693 Palavras (39 Páginas)  •  1.622 Visualizações

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Relação fisioterapeuta-paciente e a integração corpo e mente:Um estudo de caso

Relação fisioterapeuta-paciente

Desde muito tempo, estuda-se a relação entre corpo e alma. Inicialmente, o corpo foi considerado exclusivamente instrumento da alma, mas, com o dualismo cartesiano, corpo e alma passam a ser considerados duas substâncias diferentes e independentes. Essa forma de pensar influenciou e influencia até hoje o pensamento médico-científico ocidental, que passa a conceber o corpo fragmentado em duas partes : fisiológico e psicológico, destinando a diferentes especialistas o cuidado de cada uma de suas partes . Nasce, aqui, a dificuldade da fisioterapia em considerar a dialogia corpo mente, com implicação direta na relação fisioterapeuta-paciente.

Para o fisioterapeuta, tratar o paciente representa, muitas vezes, uma rotina: ele já está familiarizado com as doenças, seus sintomas, as reações dos pacientes e as restrições do tratamento, o que o leva a preocupar-se somente com a solução da queixa física do paciente. Expectativas e emoções diante da limitação física e do próprio tratamento não são, comumente, consideradas relevantes pelo profissional para o sucesso do tratamento. É preciso considerar que a experiência de estar próximo ao sofrimento de outros (in)sensibiliza os profissionais que, por vezes, se recusam a conhecer as circunstâncias de vida do paciente, evitando o confronto com seus sentimentos, isso talvez pela crença de que sua formação profissional não abarque esses possíveis aspectos da vida humana (Boesch, 1977), o que é legitimado, em parte, pela estrutura curricular dos cursos de formação profissional. Existe também a idéia – compartilhada por pacientes, familiares e profissionais – de que o afastamento emocional é facilitador da objetividade que acompanha a competência para a cura. Assim, conforme Boesch, o profissional desenvolve mecanismos de defesa que, dentre outras consequências, tenderão a substituir o indivíduo pelo caso clínico, convertendo a relação fisioterapeuta paciente em mais uma experiência técnica, reforçando o pensamento dicotômico corpo mente e favorecendo o caráter rotineiro da atividade do profissional, ao evitar que ele se veja, a cada contexto socio emocional dos diversos pacientes, diante do desconhecido, do imprevisível, para o qual ele não se sente preparado.

Já para o paciente, as modificações decorrentes do processo de doença se iniciam antes de ele procurar o profissional. O paciente passa por um período – de duração variada – entre os primeiros sinais da doença e a rendição em aceitar o papel de doente, papel esse que tem seu significado variável de acordo com a cultura na qual o indivíduo se insere, podendo ser visto como fraqueza e equiparado ao fracasso, o que causa transtornos sociais, econômicos e emocionais e envolve o paciente e também sua família (Boesch, 1977). Portanto, nesse período, ele busca preservar sua autonomia funcional, tentando superar e minimizar a importância dos sintomas. Assim, para o paciente, a doença não é um fato corriqueiro, com manifestações conhecidas e soluções previsíveis, mas uma ameaça à sua integridade, não apenas física mas também psicossocial, o que lhe impõe um olhar intuitivamente mais integrado quanto à relação corpo-mente.

Nessa perspectiva, os papéis do fisioterapeuta e do paciente são construídos com base nas elaborações cognitivo-afetivas pessoais das sugestões culturais. Essa construção é um processo interativo que evidencia a assimetria inerente às relações sociais em geral. Da parte do profissional, inclui a elaboração de mensagens culturais com relação ao que é esperado da pessoa que ocupa aquele lugar: estabelecimento de regras, regulação de experiências e direção de comportamentos. São expectativas exigentes, mas prazerosas, porque propiciam algum sentimento de poder. Já o papel de paciente exige colocar-se no lugar de doente, o que é pouco prazeroso e bastante ameaçador.

A relação fisioterapeuta-paciente denota, então, a existência de perspectivas diferentes e irredutíveis com respeito à relação eu mundo da fisioterapia: uma vivida pelo paciente – que envolve expectativas e medos baseados em aspectos sociais, culturais e emocionais de seu momento de vida – e outra pelo profissional da saúde – que tem suas preocupações voltadas para o caso clínico –, o que gera tensão, característica das relações interpessoais baseadas no diálogo, conforme Marková (1997). E é no bojo desse desequilíbrio cognitivo e afetivo, conforme a perspectiva de Simão (2000), que pode se dar a emergência de novos conhecimentos tanto sobre possibilidades e prognósticos para o quadro clínico como sobre maneiras de maximizar possibilidades interativas que os efetivem no tratamento. Assim, a vivência de uma contradição experimentada internamente poderá levar à tomada de consciência de que uma determinada idéia ou expectativa com que fisioterapeuta ou paciente operavam não lhes serve mais, o que acarreta sua transformação e, mais amplamente, seu desenvolvimento.

A dialogia fisioterapeuta paciente

A reflexão advinda da idéia de que a vida de um indivíduo após algum evento – benéfico ou maléfico – nunca tem sua forma original restaurada nos remete ao potencial de mudança do ser humano: o vir a ser , conforme Boesch (1991); essa idéia é freqüentemente vivenciada nas relações entre fisioterapeuta-paciente diante de um episódio de doença, em que o desejo de continuar igual ao que se era se potencializa, pois há a ameaça de mudar para pior , que se torna assustadora para o paciente, para o fisioterapeuta e até mesmo para os grupos culturais aos quais pertencem. Dessa forma, é comum o paciente dizer: Gostaria que minha vida voltasse a ser exatamente como era e o terapeuta reforçar: Procuraremos deixar sua vida como se nada tivesse acontecido .

Esse tipo de discurso traz a presença do futuro, como antecipação e imaginação, orientando a ação presente, isto é, o indivíduo está constantemente movendo-se do que é no minúsculo presente em direção ao ainda não determinado momento futuro (Abbey & Valsiner, 2003). Esse movimento determina o novo presente, sendo a base para a próxima incerteza do futuro, que é então superada, infinita e irreversivelmente, o que ocorre por mediação semiótica, isto é, por um mecanismo funcional que transforma o futuro esperado (incerto, com possibilidades múltiplas) na possibilidade realizada e certamente acontecida (Simão, 2002), denotando um desenvolvimento baseado na incerteza. Quando em um tratamento fisioterapêutico, avançamos em exercícios com maior dificuldade, e é usual que a primeira atitude

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