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Qual A Diferença Entre O Pensamento De Wilhelm Wundt E William James Para A Psicologia

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Por:   •  5/9/2013  •  5.692 Palavras (23 Páginas)  •  4.713 Visualizações

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Qual a diferença entre o pensamento de Wilhelm Wundt e William James para a PsicologiaUma visão panorâmica da psicologia científica de Wilhelm Wundt

Embora seja geralmente louvado nos manuais de história da psicologia como fundador da psicologia científica, grande parte da obra de Wilhelm Wundt permanece desconhecida por parte dos psicólogos contemporâneos, sobretudo no que diz respeito à relação entre filosofia e seu pensamento psicológico. O presente artigo pretende apresentar uma visão geral dos pressupostos filosóficos envolvidos na fundamentação do projeto wundtiano de uma psicologia científica. Após uma breve contextualização geral de sua obra e a exposição de alguns problemas de interpretação na literatura contemporânea, são enfatizadas as concepções de objeto e método da psicologia. Além disso, são apresentados dois princípios fundamentais de seu projeto psicológico, a saber, o princípio do paralelismo psicofísico e o princípio da síntese criadora. Ao final, alguns mal-entendidos são desfeitos, sugerindo a atualidade do pensamento de Wundt para os debates contemporâneos na psicologia.

Palavras-chave: Filosofia da psicologia. Wundt. Conceito de experiência. Paralelismo psicofísico. História da psicologia.

Introdução

As dificuldades que o leitor moderno encontra para se familiarizar com o pensamento psicológico de Wilhelm Wundt (1832-1920) podem ser classificadas em dois tipos. Em primeiro lugar, podemos facilmente reconhecer os obstáculos externos que impedem tal aproximação: a extensão de sua obra, a falta de uma edição crítica de referência, a ausência de novas edições, traduções parciais e nem sempre confiáveis, além de outros menores. Entretanto, com uma dose de interesse e persistência por parte do leitor, é possível superá-los em um espaço relativamente curto de tempo. Há, contudo, um outro tipo de obstáculo, que aponta para uma dificuldade inerente à própria obra e parece exigir algo mais do que a paciência do leitor para sua superação. Em outras palavras, trata-se da dimensão propriamente intelectual da mesma. Wundt é um típico professor alemão do século XIX, cuja vasta erudição é uma de suas características essenciais. Assim, não só escreve de forma bastante rebuscada - com longos períodos intercalados por várias orações subordinadas - como constrói seu pensamento a partir de conceitos e expressões da própria tradição filosófica alemã que lhe precedeu (Leibniz, Wolff, Kant, Hegel, Herbart, Schopenhauer etc.), que estão bem distantes do vocabulário psicológico da tradição norte-americana predominante no cenário contemporâneo.

Se levarmos em consideração todos esses fatores, não causa nenhuma surpresa o fato de não termos até hoje um claro entendimento da obra de Wundt, especialmente de sua psicologia como um todo. Embora seu nome seja bastante citado nos manuais introdutórios de psicologia, o alcance e a importância de seu projeto permanecem ainda desconhecidos por grande parte dos psicólogos atuais. E mesmo na literatura especializada, há uma carência de estudos mais detalhados, que possam corrigir os inúmeros equívocos surgidos ao longo do século XX na historiografia da psicologia. Em várias ocasiões, Wundt tem recebido um tratamento caricatural - sendo retratado, por exemplo, como representante do associacionismo britânico, fundador do estruturalismo (ao lado de Titchener) e também defensor da introspecção tradicional - que demonstra a ausência de um contato mais cuidadoso com seus textos originais por parte dos autores em questão (cf. Boring, 1950; Marx e Hillix, 1995).

As correções que merecem ser feitas nas interpretações tradicionais acerca do pensamento de Wundt e de seu lugar na história da psicologia são muitas. Em um trabalho anterior (Araujo, 2007a), discutimos brevemente os três aspectos que nos parecem mais urgentes: sua biografia, seu projeto de uma Völkerpsychologie e seu sistema filosófico. Neste trabalho, contudo, vamos nos ater apenas ao último, especialmente no que diz respeito à íntima relação entre a filosofia e a psicologia wundtiana.

Embora os contemporâneos de Wundt tivessem dedicado vários trabalhos ao seu sistema filosófico (cf. Eisler, 1902; Heussner, 1920; König, 1909; Nef, 1923), nenhum deles logrou fazer uma análise suficientemente profunda da sua relação com o desenvolvimento de seu projeto de psicologia. Da segunda metade do século XX até hoje, só há um único livro dedicado à filosofia de Wundt, que é Arnold (1980). O autor, contudo, devido ao seu comprometimento ideológico, só consegue ver relações com o "idealismo" por toda parte. Por outro lado, os trabalhos que pretendem analisar teoricamente seu projeto psicológico fazem pouca ou nenhuma conexão com o seu sistema de filosofia, limitando-se na maior parte das vezes a certas afirmações de caráter mais genérico (cf. Bringmann e Tweney, 1980; Juttemann, 2006).

O que parece ter fugido à atenção de boa parte dos intérpretes atuais de Wundt, antes de mais nada, é o fato de não ter sido a psicologia, mas sim a filosofia que ocupou o lugar central no seu projeto intelectual. Wundt foi acima de tudo um filósofo, cujo objetivo último era elaborar um sistema metafísico universal - uma visão de mundo - baseado nos resultados empíricos de todas as ciências particulares. Nesse sentido, sua psicologia é parte integrante desse projeto maior e só pode ser adequadamente compreendida dentro dele. Quem não compreender isto, tratando-a isoladamente, jamais compreenderá o verdadeiro significado de seu trabalho psicológico. Nesse sentido, é preciso resgatar a íntima relação que existe entre psicologia e filosofia na obra de Wundt.

A questão fundamental, que permanece sem solução definitiva na interpretação do pensamento psicológico de Wundt, diz respeito à continuidade ou ruptura de seu projeto de uma psicologia científica. Teria Wundt formulado várias psicologias diferentes, introduzindo modificações essenciais em cada uma delas? Ou haveria um sistema unitário e coerente de psicologia, cujas alterações posteriormente introduzidas não modificariam a unidade essencial do projeto como um todo? Isso nos conduz a uma outra questão, que se refere justamente aos interesses e pressupostos filosóficos de Wundt, que estão na base de sua psicologia. Em trabalho anterior (Araujo, 2007b), procuramos mostrar como sua evolução filosófica determinou as mudanças que ele introduziu na sua concepção de psicologia, de forma que a fundamentação de seu projeto psicológico deve ser vista dentro desta perspectiva. Mas há muitos outros aspectos desta relação que merecem ser futuramente investigados, a fim de que

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