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Resenha Do Livro O Conceito Do Sujeito

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Por:   •  20/3/2014  •  2.240 Palavras (9 Páginas)  •  2.545 Visualizações

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1. INTRODUÇÃO

O saber do inconsciente não é erudito. Não se confunde com o chamado senso comum.

Não é por acaso que Freud escreveu a psicanálise inteira sem recorrer a uma língua erudita, que só poderia ser ouvida, lida e compreendida por iniciados, “alfabetizados” nessa língua. O que Freud produziu, o discurso psicanalítico, traz um senso (bastante) incomum — não é, definitivamente, o senso comum —, mas é escrito com o verbo comum. Os “conceitos” de Freud são forjados com a língua corrente.

O que seria um saber que recusa as atribuições antinômicas de erudito e de senso comum ao mesmo tempo. Como se vê, o inconsciente introduz no campo do saber novidades irredutíveis, e às quais podemos dar o nome de subversões, acom-panhando o gesto de Lacan. O acesso a esse saber exige um trabalho (o trabalho analítico), que se realiza através de um determinado método (o método da psicanáli-se), que estabelece um dispositivo (o analítico) e requer uma função operante (o psicanalista).

Com a exclusão da experiência psicanalítica, não há qualquer possibilidade de que se saiba o que quer que seja a respeito do inconsciente.

Ir passo a passo é algo, portanto, que convém ao nosso campo, ao nosso su-jeito, ao nosso tema. Não há como ir correndo, por uma via simplificadora, nem su-por que a longa via que nos espera só exigirá de nós o esforço intelectivo de enten-dimento, que progride por incontáveis passos e/ou saltos da razão reflexiva de nos-sa inteligência. A via exige mais de nós, a começar por uma perda, que ocasiona um a menos: a perda da dupla ilusão de que, por qualquer uma dessas duas vias, que na verdade são duas facetas da mesma, poderemos avançar a respeito do inconsciente, do saber em psicanálise, e do sujeito. Este livro não se inscreve, portanto, sob a rubrica de um “o sujeito ao alcance de todos”, ou “tudo o que você sempre quis saber sobre o sujeito…”. O saber sobre o sujeito não está ao alcance de todos, e não estará ao alcance de ninguém que não queira se dar ao trabalho psicanalítico.

2. RESUMO DO LIVRO

ELIA, Luciano da Fonseca. O Conceito de sujeito. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Edi-tora, 2004. p. 50. Psicanálise passo-a-passo.

Luciano da Fonseca Elia é pós-doutor pela PUC-Rio e professor titular do Instituto de Psicologia da UERJ, defendendo em sua dissertação de mestre O inconsciente filosófico da psicanálise. Elia tem outras obras escritas como “Corpo e sexualidade em Freud e Lacan” (Rio de Janeiro, Uapê, 1995). É também coorganizador do livro Psicanálise, clínica e pesquisa, do Programa de Pós-Graduação em Psicanálise do IP/UERJ, além de autor de inúmeros artigos na área de psicanálise. Esse livro foi escrito por solicitação da publicação Psicanálise Passo-a-Passo de Jorge Zahar Editor, com a proposta de permitir ao leitor trilhar diferentes campos do saber de maneira gradual numa linguagem acessível, onde Elia se destaca como um especialista capaz de oferecer uma visão atualizada e abrangente do conceito de sujeito na psicanálise.

A questão central para Elia é: O sujeito é um conceito?

Será que podemos dizer que o sujeito em psicanálise é um conceito, no sen-tido científico ou filosófico do termo?

Descartes inaugura o Cogito pela proposição que se tornou famosa: Cogito, ergo sum, a ser traduzida em português como Penso, logo sou, e não como se tra-duz costumeiramente: Penso, logo existo. Em primeiro lugar há uma razão de exati-dão de língua e de tradução, dado que a forma latina é sum — o verbo é ser — e a forma em francês, língua de Descartes, é “Je pense donc je suis”, e não “Je pense donc j’existe”. E também pela boa razão filosófica de que a questão da existência, do ser que continuaria sendo em exterioridade ao pensamento que o pensa, do ex-sistir (subsistir fora — ex — como uma entidade), não era garantida pelo Cogito. Es-te só garantia o ser do pensar, uma res cogitans (substância pensante) distinta da res extensa (substância material), que se estende em corpos no espaço. Para ga-rantir a existência das coisas, e também de um sujeito pensante que pudesse seguir existindo para além de seu próprio pensamento, Descartes veio a recorrer a Deus, sua terceira res, a res infinita.

Retomando a pergunta “é o sujeito um conceito? nos sentidos filosófico e ci-entífico do termo conceito, podemos agora respondê-la. Não, o sujeito não é um conceito nessas acepções clássicas de conceito.

A experiência psicanalítica, uma vez colocada em operação através da insta-lação do dispositivo freudiano da associação livre, produz as condições de emer-gência do sujeito do inconsciente, justamente através da repetição e da transferên-cia, e cria as condições de produção das chamadas formações do inconsciente — atos falhos, lapsos, sonhos, sintomas e chistes —, outra modalidade de emergência do sujeito, esta de caráter metafórico e pontual.

Poder-se-ia perguntar: por que a fala? Por que a regra fundamental de Freud se formula em termos de um certo modo de usar a palavra, e não outro modo qual-quer de expressão do sujeito? Que relação o inconsciente e o sujeito têm com a pa-lavra falada? Estas perguntas são efetivamente feitas, sobretudo por aqueles que começam a estudar a psicanálise e se encontram no privilegiado momento de entrar em contato com esse saber e essa práxis.

Se todas as produções simbólicas (orais ou não) são verbais, por que, enfim, privilegiar a fala? Podemos responder que, de todas as formas pelas quais a estrutura simbólica, significante, da linguagem pode se atualizar em um ser falante, a fala é a única que permite, por seu modo encadeado, diacrônico, como discurso desdobrado no tempo em uma seqüência de palavras, que o plano do significante seja destacável da significação.

Significante e significado não vieram ao mundo casados, e que sequer se ca-saram, mas que é no interjogo de significantes, nas relações que as materialidades simbólicas em que eles consistem estabelecem entre si, que os significados se pro-duzem. O significado é secundário em relação ao significante, que portanto lhe é primário, e é esse o sentido da expressão “primazia do significante”.

Mas, imediatamente, Freud se depara com duas coisas absolutamente es-senciais à experiência psicanalítica: a resistência e a transferência.

Com a resistência Freud contava, porém, com a transferência não, sua pri-meira

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