TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

Resumo. A Transferência na Pesquisa em Psicanálise: - Lugar ou Excesso

Resenha: Resumo. A Transferência na Pesquisa em Psicanálise: - Lugar ou Excesso. Pesquise 860.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  19/9/2014  •  Resenha  •  1.936 Palavras (8 Páginas)  •  389 Visualizações

Página 1 de 8

A Transferência na Pesquisa em Psicanálise:

- Lugar ou Excesso?

Luciano Elia 1, 2 , 3

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

________________________________________

Resumo

Nesta seção se abre um debate sobre o artigo de W. BeividasO excesso de transferência na Pesquisa em Psicologia Clínica(neste volume). L. Elia argumenta que para falar de transferência na pesquisa em psicanálise é necessário, de início, situar a pesquisa no campo da experiência analítica. A metodologia de pesquisa deve então incluir a transferência como condição estrutural e, seguindo Freud, afirma que na execução da psicanálise investigação e tratamento coincidem. W. Beividas, por sua vez, critica a premissa de que a experiência analítica seja a condição prévia da pesquisa em psicanálise e desenvolve a argumentação mostrando que uma certa modalidade de quantificação ou tensividade da transferência abre um precioso registro heurístico na pesquisa psicanalítica.

Palavras-chave:Transferência; experiência psicanalítica; pesquisa; excesso de transferência.

Abstract

In this section a debate about W. Beividas’ paper on The Excess of Transference in Psychoanalytic Research (in this volume) is started. L. Elia argues that in order to consider transference in psychoanalytic research it is necessary, in the beginning, to situate research in the psychoanalytic experience field. Research methodology, then should include the transference as a structural condition Following Freud the paper affirms that in psychoanalysis execution investigation and treatment coincide. W. Beividas, in his turn, criticizes the premiss of the analytic experience as a previous condition of research in psychoanalysis and develops his argumentation demonstrating that a certain modality ofquantification and tensivity in transference opens up a precious heuristic dimension in psychoanalytic research.

Keywords: Transference; psychoanalitic experience; research; excess of transference.

________________________________________

Falar de transferência na pesquisa em psicanálise exige, como condição prévia, situar a transferência no próprio campo da experiência analítica. Como evidentemente um tal empreendimento não apenas já foi feito, como aliás não cessa de sê-lo, a cada vez que se trata da teoria e da clínica – tarefa absolutamente ininterrupta na produção da vasta e prolixa literatura psicanalítica – privilegiaremos evidentemente, no âmbito do presente artigo, um recorte bastante específico e delimitado, nomeadamente um viés metodológico.

Sustentamos que a psicanálise não constitui simplesmente um "saber" a mais, entre outros, a integrar o rol daquilo que, a partir de uma velha discussão de ares epistemológicos, seriam as ciências (da "natureza" ou da "cultura") ou o campo dos saberes ditos não-científicos, pré-científicos, ou simplesmente indiferentes à cientificidade. Para nós, e seguindo Lacan, que foi quem o demonstrou, a psicanálise constitui um saber inteiramente derivado porém não integrante do campo científico, porquanto resulta de uma operação de "subversão" deste campo pelo viés do sujeito: Lacan afirma a existência de um sujeito da ciência, constituído no e pelo mesmo ato fundador da ciência moderna, com Galileu Galilei, e formulado por Descartes. Podemos dizer que, àquilo que se produziu como fundação da ciência no sentido moderno do termo, a Física moderna, empírica e matematizada (Galileu), corresponde uma elaboração filosófica que consiste em tirar as conseqüências deste ato por relação à subjetividade (Descartes). Esta "dobradinha" tem uma causa maior: se a ciência moderna abole, com seu gesto de violência conceitual desferida contra as evidências imediatas e perceptuais, a certeza que até então o homem podia ter quanto à consistência dessas evidências, o sujeito, assim abalado, sai de sua toca, desprende-se do fundo indiferenciado em que, crédulo, se mantinha, para desenhar seu contorno angustiado de dúvidas, perguntando-se: de que então posso estar certo? Exaurindo ao máximo todos os planos duvidosos, e radicalizando assim a função mesma da dúvida nascida deste abalo e elevada à condição metódica, Descartes responde: só posso estar certo de que penso, pois mesmo que disso duvide, ainda assim continuarei pensando.

Retomo aqui tais banalidades (e que o são porque demasiado conhecidas por todo aquele que conhece minimamente o mundo do pensamento humano) para recompor, com elas, a invenção do Cogito, e assim poder situar a psicanálise em relação à ciência.

O passo cartesiano inventa o sujeito da ciência, segundo Lacan comentado por Milner (1995), como um sujeito sem qualidades, sejam sensoriais, perceptuais, anímicas, morais, enfim, numa palavra, empíricas. Nas palavras de Milner, formulando a hipótese do sujeito: "há algum sujeito, distinto de toda e qualquer forma de individualidade empírica" (p.33). As qualidades fariam do sujeito assim constituído um indivíduo, efeito de revestimentos identificatórios e imaginarizantes do sujeito. Tais revestimentos são via de regra aquilo que as ciências ditas "humanas" tomam como objeto de estudo e investigação.

A ciência, por sua vez, por operar pela via do significante, tratando o real pelo simbólico, obriga à suposição de um sujeito (um sujeito é sempre o que é suposto pelo significante) sem qualidade alguma. Ora, dizer com Lacan que a psicanálise deriva do campo da ciência (não habitando, contudo, este campo) é dizer, como aliás ele também diz, que o sujeito com que opera a psicanálise – o sujeito do inconsciente - é precisamente um sujeito sem qualidades: "O sujeito com que operamos em psicanálise não pode ser senão o sujeito da ciência", dirá ele emA Ciência e a Verdade (Lacan, 1966b, p.858). É portanto insustentável que a psicanálise seja uma "ciência humana", não se tratando, nela, de forma alguma, do "homem" – sendo a própria noção de "ciências humanas" o efeito da "humanização" do sujeito constituído pela ciência moderna. Mas nem por isso a psicanálise seria uma ciência "física", ou "natural", umaNaturwissenchaft, como queria Freud, ao sustentar o que Milner (1995) denomina o ideal de ciência,

...

Baixar como (para membros premium)  txt (12.7 Kb)  
Continuar por mais 7 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com