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Um artigo de Oscar Motomura sobre liderança

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Por:   •  28/11/2014  •  Artigo  •  6.021 Palavras (25 Páginas)  •  421 Visualizações

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Um Artigo de Oscar Motomura

Queremos protagonistas em nossas organizações. Pessoas engajadas, comprometidas, automotivadas, com elevado senso de responsabilidade. Com espírito de quem é “dono do negócio”. Na realidade, queremos líderes em todos os lugares. Em todos os cargos. Em todas as funções.

Mas queremos ver todos esses líderes atuando em quê? Não seria natural vê-los atuando em tudo o que é preciso melhorar no nosso país? Atuando no que é efetivamente necessário...?

Todo cidadão bem informado tem uma noção clara dos problemas crônicos que temos em nosso país (na educação, na saúde, na segurança), que, por sua vez, estão presentes na raiz de muitas outras disfunções encontradas nos mais diferentes setores de nossa economia e de nossa vida em sociedade.

Se sabemos quais são esses problemas críticos, por que não temos conseguido resolvê-los? Onde estão os líderes capazes de fazer diferença na sua erradicação? Se eles existem, por que não estariam atuando no que é efetivamente necessário?

Neste artigo, vamos pensar juntos sobre essas e muitas outras indagações, em busca de insights que nos conduzam a efetivas soluções para as equações que nós, como sociedade, temos a responsabilidade de resolver – até pelo legado que queremos deixar para as futuras gerações.

Vamos iniciar esta reflexão tendo como pano de fundo um grande paradoxo que existe em nosso país: temos um dos maiores PIB do mundo e, ao mesmo tempo, um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em torno da centésima posição dentre duzentos países.

O que está gerando essa situação paradoxal? Excesso de líderes preocupados apenas com a maximização do PIB? Escassez de líderes preparados para atuar nas áreas ligadas ao bem-estar da população, nas quais há problemas crônicos? Falta de sensibilidade dos nossos líderes para perceber as necessidades mais profundas do nosso país? Ou o problema estaria no jeito pouco criativo, superficial e até negligente de lidarem com as necessidades da sociedade?

Afinal, qual seria a liderança necessária em nosso país para eliminar as causas-raiz desse e de outros paradoxos com os quais temos convivido há tanto tempo? E a que liderança estamos nos referindo? E que necessidades precisaríamos atender com excelência para conseguir uma evolução mais equilibrada do país?

Comecemos identificando as nossas necessidades mais evidentes (percebidas, grosso modo, pela maioria da população) e os aspectos mais sutis em torno delas; as nossas necessidades menos evidentes, das quais nem mesmo as pessoas nos principais postos de liderança e poder em nosso país parecem ter consciência; e as nossas pseudonecessidades que, pela sua alta demanda (mesmo que artificialmente gerada), acabam absorvendo muitos recursos e muita energia de nossos protagonistas e líderes.

“Vimos trabalhando tão somente o aparente, as necessidades mais óbvias. Temos dificuldades em perceber as necessidades mais sutis, em função de barreiras culturais”

1) SOBRE AS NECESSIDADES MAIS EVIDENTES

São as necessidades que estão na consciência de todos. Falamos muito sobre elas. Formalmente, em reuniões. Informalmente, entre colegas, amigos, familiares. Mas sempre superficialmente, sem nos aprofundar. Raramente chegamos aos seus aspectos mais sutis, menos óbvios. Nesta parte do artigo, a proposta é refletir sobre elas, levando em conta esses aspectos, que podem estar passando despercebidos pela maioria, inclusive, dos nossos líderes.

Necessidade de ética e confiança

“Sem ética não é possível otimizar a economia.” Essa frase sintetiza muito bem a entrevista que fiz com Jeffrey Sachs, na época professor de economia na escola de governo de Harvard e hoje diretor do The Earth Institute da Columbia University, à frente do Projeto Hunger, em prol da erradicação da fome no mundo.

acionalmente, sabemos que a frase de Sachs faz sentido. Mas, no Brasil e em outros países, vemos economias operando muito abaixo do possível, exatamente porque estão longe de atuar, no setor público ou privado, com base na ética e na confiança. Na realidade, acontece o contrário: atua-se com base na desconfiança. Basta ver o “custo controle” no nosso país ou o custo que os controles representam em nossa própria organização.

Compreendemos a ideia implícita na frase de Sachs porque ela ressoa em nós. Imaginamos como seria o nosso país se não houvesse corrupção e todos fossem éticos, todos confiassem em todos (inclusive em nossas instituições), ninguém tirasse vantagem de ninguém e buscássemos acordos em que as partes ganham e a sociedade também. Ou seja, buscássemos atuar em nosso dia a dia visando melhorar o todo, o bem-estar de todos, da forma mais inclusiva possível.

Gosto da definição de ética que vem da filosofia: “a escolha pelo bem comum”. A definição é simples, mas não deixa dúvida. Se a decisão, negociação, solução não for em prol do bem comum, não é ética.

No debate sobre ética, a própria definição de bem comum é controversa. “Bem comum” na opinião de quem? Até que ponto essa definição é, hoje em dia, algo cultural e não universal? Durante a Eco 92, no Rio de Janeiro, iniciou-se um primeiro diálogo em torno desse tema: na opinião dos povos da Terra, qual seria a visão de bem comum? Com base nessa consulta, surgiu a Carta da Terra (Earth Charter), que trata do tema da forma mais inclusiva possível, levando em conta não só os seres humanos, mas todos os seres vivos e a vida em seu sentido mais amplo. Por isso, a Carta da Terra parece hoje o melhor referencial para uma evolução equilibrada do planeta e para a tomada de decisões de forma ética – no governo, nas empresas, nas instituições da sociedade civil, no cotidiano de cada cidadão. Trata-se de uma definição de bem comum que transcende a visão parcial, cultural, doutrinária. Nasceu para ser universal, com a participação dos cidadãos, dos povos da Terra – e não dos governos. Daí a sua legitimidade e universalidade.

Pontos para reflexão: Se a ética é a escolha pelo bem comum, o que seria não ético em nosso dia a dia? Seria éticonão agir em prol do bem comum, por causa das dificuldades e incertezas? Omitir propostas, ideias e ações pelo bem comum para não contrariar a maioria? Permanecer no conforto do viável em vez de tentar viabilizar o aparentemente impossível? Conformar-se com a letra da lei em vez de lutar pelo espírito da lei? Não colocar uma ideia em prática pelo risco de não ser reconhecido como autor? “Entrar no jogo”, fingindo não perceber as manipulações em processo? Deixar tudo como está porque o caminho para o bem comum é

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