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A Racionalidade do Trabalho

Por:   •  16/9/2025  •  Resenha  •  1.987 Palavras (8 Páginas)  •  61 Visualizações

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Estágio Supervisionado em Serviço Social II

Profa. Dra. Alice Ponce de Leão

Semestre 2025/2

À luz do Texto: “A racionalidade do Planejamento”

Quais causas envolvem a problemática escolhida para o planejamento?

O planejamento de uma intervenção em saúde mental de puérperas com recém-nascidos internados na UTI e UCI neonatal não se limita a um exercício técnico ou metodológico, mas se fundamenta em razões que tornam imprescindível a sistematização crítica da prática profissional. Como Baptista (2001) aponta, o planejamento responde a causas que dizem respeito à complexidade do objeto de intervenção, à necessidade de romper com a naturalização da realidade e à construção de alternativas possíveis diante das contradições sociais.

A primeira causa é a complexidade do sofrimento materno. Não se trata de uma experiência meramente individual, mas da confluência de fatores físicos, emocionais, sociais e econômicos que atravessam a vivência das mulheres no puerpério. Esse caráter multifacetado exige que a intervenção não seja improvisada, mas fruto de um processo metódico e racional, capaz de ordenar os meios e os fins de forma crítica.

A segunda causa diz respeito à invisibilidade institucional da dor materna. Nas unidades de saúde, a dimensão psicossocial muitas vezes é secundarizada em favor das demandas biológicas e técnicas. Esse silêncio sobre a saúde mental das mulheres dialoga com o que Cavalcante e Bellini (2023) problematizam a respeito do “silenciamento” do sofrimento nos espaços institucionais. Planejar, neste caso, é também desvelar o não-dito, recusando-se a tomar o dado imediato como limite da reflexão, como adverte Baptista.

A terceira causa está relacionada ao caráter político do planejamento, já que a intervenção ocorre em um espaço institucional permeado por disputas, hierarquias e interesses distintos. O Serviço Social, ao propor ações voltadas para a saúde mental das puérperas, precisa reconhecer que não atua em um terreno neutro, mas em um campo marcado por diferentes projetos em disputa.

Como afirma Faleiros (1997, p. 45), “o planejamento é um processo político, porque nele se expressa a correlação de forças sociais, os interesses contraditórios e as possibilidades de hegemonia de determinados projetos sobre outros”. Essa perspectiva evidencia que o planejamento não é apenas um instrumento técnico, mas um espaço de luta, onde o assistente social precisa construir estratégias que ampliem a voz das mulheres e insiram a questão da saúde mental como prioridade na pauta institucional.

Existe a necessidade de protagonismo das puérperas. O projeto de intervenção prevê rodas de conversa e espaços coletivos de escuta, compreendendo que as mulheres não podem ser reduzidas à condição de usuárias passivas, mas devem ser reconhecidas como sujeitos históricos de direitos. Isso reforça a dimensão dialética do planejamento, que não apenas organiza ações, mas promove a participação social e fortalece a consciência crítica.

Como esse problema vem sendo tratado na instituição?

Com base em minha vivência como discente  no curso de Serviço Social, busco expressar a mesma análise com um olhar mais próximo da nossa prática e dos desafios que encontramos no dia a dia.

Ao pisar em um campo como a Maternidade Moura Tapajós e me deparar com a realidade da saúde mental das mães que têm seus bebês na UTI e UCI neonatal, percebo que nosso trabalho vai muito além de aplicar técnicas. É um espaço complexo, onde a forma como lidamos com essa questão mostra uma verdadeira interação entre a racionalidade técnica que aprendemos e as dimensões políticas e ideológicas que nos atravessam. A falta de protocolos claros e a sensação de que esse é um assunto pouco falado, somada a posturas conservadoras que simplesmente empurram a saúde mental para a psicologia, mostram que estamos em um campo de disputa. E é para entender essa disputa que a teoria sobre o planejamento se torna uma ferramenta fundamental.

Na teoria, aprendemos que o planejamento é um "processo permanente e metódico de abordagem racional e científica de questões que se colocam no mundo social". Parece algo direto, uma sequência de decisões baseadas em conhecimento para otimizar recursos. Mas a prática, especialmente na saúde, nos mostra que a dimensão técnica não dá conta de tudo. A situação que observei, de Assistentes Sociais que se retiram da responsabilidade pela saúde mental, deixa clara a força da dimensão política do nosso fazer. Como a autora que li aponta, essa dimensão "decorre do fato de que ele é um processo contínuo de tomadas de decisões, inscritas nas relações de poder".

Então, a escolha de tratar a saúde mental destas puerperas albergadas com seus recém-nascidos em UTI e UCI  neonatal e depressão pós-parto como um problema puramente psicológico, e não como uma expressão da questão social que exige nossa atuação articulada, não é uma escolha neutra. É uma decisão política. Ela nasce de uma visão de mundo que impacta diretamente nossa intervenção. Se o nosso olhar como assistentes sociais é conservador, a tendência é enxergar aquela realidade como um "fato social objetivo, tomando o dado como o limite da reflexão". Nessa lógica, o sofrimento daquela mãe é completamente separado dos determinantes sociais que a atravessam , como as desigualdades de gênero ou a falta de uma rede de apoio, e vira um problema individual que outra profissão tem que "consertar". É uma abordagem que, como diz a teoria, aceita "o real que se coloca imediatamente aos sentidos como dado de fato, não discutindo a realidade posta por essa objetividade".

Isso me faz pensar na história da nossa profissão no Brasil. O Serviço Social carrega uma herança conservadora que, muitas vezes, nos levou a práticas que individualizam as demandas das pessoas e nos colocam em uma posição fragmentada dentro da saúde, sempre disputando nosso espaço com outros saberes, como a psicologia. A atitude de "demonizar a saúde mental", tratando-a como algo que não nos pertence, parece ser um eco dessa tradição. É uma postura que foge de uma análise da totalidade e que se afasta do nosso projeto ético-político  e sua críticidade. Agir assim é ignorar que um planejamento que realmente funciona precisa levar em conta e saber lidar com as "condições subjetivas do ambiente em que ela ocorre: o jogo de vontades políticas dos diferentes grupos envolvidos, a correlação de forças, a articulação desses grupos".

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