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Aves E Mamíferos

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Por:   •  8/10/2013  •  2.644 Palavras (11 Páginas)  •  762 Visualizações

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Mamíferos e aves como instrumentos de educação e conservação ambiental em corredores de biodiversidade do Cerrado, Brasil

Maristela Benites1 e Simone B. Mamede2

Parque Nacional das Emas, Brasil, Rodovia GO 206, Km 27, CEP 75828-000, Chapadão do Céu- GO, Brasil. Telefone: (55) 67 9647 4167.

1 <mari.benites@physis.org.br>

2 <mamede@physis.org.br>

RESUMO: Este trabalho pretende atender a uma das propostas sugeridas no Planejamento Participativo de Educação Ambiental dos municípios do Corredor de Biodiversidade Emas-Taquari, um projeto integrado ao Corredor Cerrado-Pantanal. O Corredor de Biodiversidade Emas-Taquari, localizado na região de Cerrado, abrange 8 municipios, e suas áreas núcleo são o Parque Nacional das Emas e o Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari. A comunidade representada nas oficinas de planejamento solicitou cursos, treinamentos e orientação sobre os mamíferos e aves existentes na região. Foi assim que se criaram os Grupos de Observação de Biodiversidade (GOB) com os seguintes objetivos: ajudar a comunidade a conhecer, reconhecer e valorizar as espécies nativas de aves e mamíferos, transformando-os em ferramentas de conservação para a Educação Ambiental; associar pesquisas, informações de geoprocessamento e Educação Ambiental; incentivar o ecoturismo na região; e proporcionar à comunidade o sentimento de se sentir parte da biodiversidade local. Nos municípios de Serranópolis e Mineiros, localizados em região de Cerrado, 31 pessoas foram treinadas. Este grupo encontrou 32 espécies de mamíferos e diversas espécies de aves. Alguns mamíferos observados são espécies ameaçadas de extinção constantes em listas oficiais (e.g., Myrmecophaga tridactyla, Panthera onca, Puma concolor, Chrysocyon brachyurus, e outros). Os animais silvestres que foram observados representam a biodiversidade local, o que contribui para a Educação Ambiental e conservação, além de aumentar o potencial ecoturistico da região.

ABSTRACT: Mammals and birds as tools for environmental education and conservation in biodiversity corridors of the Cerrado, Brazil. This work intends to respond to one of the proposals suggested in the sustainable participative planning of environmental education of the Municípios do Corredor de Biodiversidade Emas-Taquari, project that is integrated to the Biodiversity Corridor Cerrado-Pantanal. This biodiversity Corridor Emas-Taquari, located in the Cerrado region, comprises 8 townships and its nuclei areas are both the Parque Nacional das Emas and the Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari. The community represented in the planning requested a training course and orientation about mammals and birds present in the region. That was how the biodiversity watcher groups (Grupos de Observação de Biodiversidade, GOB) were created with the following objectives: to help the community to know, to recognize and to valorize the mammal and bird species that are present in their region, turning them into conservation tools for environmental education; to associate researches, geoprocessment informations and environmental education; to encourage the regional ecotourism; and to permit the community to feel part of the local biodiversity. Thirty-one people were trained in Serranópolis and Mineiros townships, located in the Cerrado region. They found 32 mammal species and many birds. Some mammals observed are endangered species present in official lists (e.g., Myrmecophaga tridactyla, Panthera onca, Puma concolor, Chrysocyon brachyurus, and others). The wild animals that were watched represent the local biodiversity, which contributes to environmental education and to conservation, and enhances the potential for the regional ecotourism.

Palavras-chave: Biodiversidade; Conservação; Corredor de Emas-Taquari; Educação.

Key words. Biodiversity; Conservation; Education; Emas-Taquari Corridor.

INTRODUÇÃO

O Brasil é considerado o país que apresenta mais alta diversidade biológica do mundo (Mittermeier et al., 1997), com estimativas apontando para 1.8 milhão de espécies, cerca 13% de toda a biota mundial (Lewinsohn e Prado, 2005). Somente mamíferos e aves catalogados somam mais de 2230 espécies, compreendendo mais de 530 espécies de mamíferos e mais de 1700 de aves (Fonseca et al., 1996; CBRO, 2005; Marini e Garcia, 2005), além de grande variedade de outras formas de vida. De forma abrangente, os fatores que contribuem para tal efeito são a localização geográfica, a alta heterogeneidade e complexidade ambiental e o maior sistema fluvial do mundo (Brandon et al., 2005). A diversidade de macro-ecossistemas está representada pelos seis principais biomas encontrados em território brasileiro: Floresta Amazônica, Floresta Atlântica, Caatinga, Cerrado, Pantanal e Campos Sulinos, dos quais a Floresta Atlântica e o Cerrado correspondem, atualmente, aos hotspots de biodiversidade (Myers et al., 2000). O significado deste termo se traduz em áreas com alta concentração de endemismos e de diversidade biológica, porém seriamente ameaçadas em conseqüência do avanço da degradação ambiental.

O Cerrado brasileiro conhecido internacionalmente como a maior Savana da região neotropical, constitui-se de um mosaico de formações vegetais que vão desde as formações abertas do Brasil Central (campo limpo, campo sujo, cerrado sentido restrito e campo rupestre) a formações florestais (vereda, floresta de galeria, cerradão e mata mesofítica) (Rizzini, 1997; Ribeiro e Walter, 1998). É o segundo maior bioma da América do Sul e do Brasil, com área original correspondente a 21% do território brasileiro (1.8 milhão de km2), estendendo-se diagonalmente pelo país no sentido nordeste-sudoeste (Aguiar et al., 2004) (Fig. 1). Abriga também as nascentes de importantes bacias hidrográficas da América do Sul (Platina, Amazônica e São Francisco) (Dias, 1992; WWF-Brasil, 2000). A despeito de toda essa extensão, restam cerca de 20% apenas de sua cobertura vegetal nativa, visto que os demais foram substituídos, em grande parte, por lavouras de monocultura, pastagens para a criação de gado bovino, dentre outras formas de uso antrópico (Myers et al., 2000; Le Bourlegat, 2003).

A riqueza de espécies existentes no Cerrado pode chegar a 33% da diversidade biológica do Brasil, sendo estimada em mais de 395800 espécies (Aguiar et al., 2004). O grau de endemismos embora seja considerado baixo para os grupos animais, pode chegar a 44% para as plantas vasculares do Cerrado (Myers et al., 2000). Somente para masto e ornitofauna são conhecidas mais de 190 espécies de mamíferos e mais de 837 de aves (Silva, 1995; Bagno e Marinho-Filho, 2001; Alho, 2003; Aguiar et al., 2004). Apesar dessa riqueza, os números apontados para as espécies ameaçadas de extinção, segundo a lista oficial brasileira, compreendem 21 espécies de mamíferos e 23 de aves para o bioma Cerrado (IBAMA, 2003). A perda e fragmentação de hábitats decorrentes das atividades antrópicas, constituem as principais ameaças não somente para mamíferos e aves, mas para toda a biota existente (Costa et al., 2005).

Fig. 1. Distribuição geográfica dos biomas brasileiros e localização da área de estudo. Fonte: Ministério do Meio Ambiente, 2005.

Corredores de biodiversidade

O planejamento de corredores de biodiversidade tem sido uma proposta para reverter os processos negativos gerados pela fragmentação, com vistas ao restabelecimento da ligação entre as ilhas de vegetação constituídas pelos fragmentos remanescentes (Le Bourlegat, 2003). Enquanto área física, um corredor de biodiversidade compreende um conjunto de manchas contínuas de vegetação que visa permitir o trânsito e o fluxo gênico entre as populações, garantindo a manutenção da diversidade biológica em longo prazo. Para alguns programas de conservação, corredor de biodiversidade é formado por uma rede de parques, reservas e áreas privadas de uso menos intensivo, na qual um planejamento integrado das ações de conservação pode garantir a sobrevivência do maior número de espécies e o equilíbrio dos ecossistemas (CI, Conservação Internacional - Brasil, 2005).

O projeto "Municípios do Corredor de Biodiversidade Emas - Taquari (MCB Emas - Taquari)" está associado à implementação do Corredor de Biodiversidade Cerrado - Pantanal, idealizado pela CI - Brasil, o qual tem como objetivo principal conectar áreas naturais visando à conservação da diversidade biológica desses dois biomas. O MCB Emas- Taquari contempla 8 municípios do bioma Cerrado, abrange os territórios dos estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, tendo como áreas-núcleo o Parque Nacional das Emas (Goiás e Mato Grosso do Sul) e o Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari (Mato Grosso do Sul).

Manter a integridade das áreas naturais que compõem um corredor de biodiversidade é um desafio para pesquisadores, educadores, ambientalistas e para a comunidade de forma geral. No entanto, todos os atores desse processo devem estar conscientes da função e importância dos corredores para a manutenção da diversidade biológica e, principalmente, conhecer e reconhecer seu papel enquanto cidadão e enquanto elemento biológico influente na dinâmica ecológica e socioambiental. Nesse contexto, o processo contínuo da educação ambiental vem proporcionar e fortalecer elos fundamentais para que se concretize a proteção de áreas ainda conservadas e o uso sustentável de seus recursos naturais (Mamede et al. - no prelo).

Educação ambiental no contexto da biodiversidade do Cerrado

A educação ambiental representa o elo de interação entre as ciências e destas com as comunidades, interpondo-se como uma ferramenta útil à biologia da conservação e forte aliada para o alcance de sociedades sustentáveis. Além de gerar preocupação e sensibilização, pode principalmente direcionar para tomada de medidas e estratégias de conservação viáveis e efetivas.

Padua et al. (2003) sugerem que a adoção de abordagens participativas pode incentivar populações que habitam regiões próximas a áreas naturais a se envolverem com conservação, ajudando a protegê-las. Feisinger (2004) enfatiza que a prática da conservação da biodiversidade e do ambiente como um todo depende do esforço não somente dos profissionais especializados para este fim, mas também e, principalmente, da colaboração das comunidades locais.

Enquanto estratégia, a educação ambiental é um dos caminhos para se romper a dicotomia sociedade e natureza, fruto exclusivamente da mentalidade humana. Para Le Bourlegat (2003), reconhecer a sociedade como parte integrante da natureza é a base fundamental para a visão de totalidade contida na teia da complexidade ambiental, uma vez que o estabelecimento de simples lógicas causais entre essas duas realidades dificulta a elaboração de raciocínios lógicos capazes de revelar as interações entre os elementos do ambiente, necessárias à manutenção da vida como um todo, assim como os possíveis resultados causados pelo rompimento dessas interações e das suas interdependências.

Observação de mamíferos e aves e formação de Grupos de Observadores da Biodiversidade (GOB)

Os mamíferos são elementos essenciais para a manutenção do equilíbrio dinâmico dos ecossistemas, presentes em vários momentos e níveis das cadeias tróficas, além de contribuírem significativamente para a manutenção e reposição de formações vegetais. São ainda organismos de grande interesse para contemplação da natureza, constituindo-se em alternativa para o uso sustentável da fauna, instrumento para o ecoturismo e para a educação ambiental formal e não-formal (Mamede e Alho, 2004; Silva e Mamede, 2005). Além disso, suas características anatômicas e fisiológicas refletem muito bem o que são os próprios seres humanos.

Semelhantemente, as aves são alguns dos componentes da biodiversidade que desempenham importantes funções nos processos ecológicos naturais. Para o desenvolvimento da educação ambiental são também de grande valor, pelo fato de despertarem carisma nas pessoas por diversos aspectos: colorido e arranjos da plumagem, tamanho e anatomia do corpo, capacidade de vôo, vocalização, aparência dócil e demais características (Silva e Mamede, 2005). Além disso, Argel-de-Oliveira (1997) sugere que as aves não provocam aversão às pessoas, causada geralmente por outros vertebrados, tais como morcegos, ratos, anfíbios e répteis, sendo possível reduzir ou eliminar o sentimento de rejeição, ou a noção de que a presença e proximidade aos animais silvestres é perigoso, prejudicial e indesejável.

Por essas razões esses grupos de animais se prestam ao papel de propulsores de ações para conservação, podendo servir de agentes de sensibilização humana em ações práticas de conservação da biodiversidade junto às comunidades.

Com as previsões científicas preocupantes sobre o desaparecimento de biomas brasileiros, o desafio que se apresenta é o de encontrar estratégias e estabelecer várias frentes, em ação sinergética, na tentativa de combate e reversão dessa realidade. O objetivo é assegurar a maximização de resultados, a otimização de esforços e a participação de todos.

Nessa perspectiva foram criados os Grupos de Observadores e Protetores de Biodiversidade (GOB) em dois municípios do estado de Goiás (Mineiros e Serranópolis), contemplando num primeiro momento os vertebrados: mamíferos e aves. Os principais objetivos incluem: i) levar a comunidade a conhecer, reconhecer e valorizar as espécies de mamíferos e aves que ocorrem nos municípios, como estratégia de conservação, instrumento de educação e interpretação ambiental; ii) aliar pesquisa científica, geoprocessamento e educação ambiental buscando a integração entre os mesmos, facilitando o acesso e a compreensão dos dados de pesquisa; iii) incentivar o ecoturismo regional; e iv) permitir aos membros dos grupos sentirem-se integrantes da biodiversidade.

MATERIAIS E MÉTODOS

Oficinas de Planejamento Participativo Sustentável (OPPS) de Educação Ambiental

Discutir e planejar a educação ambiental tem como objetivo inserir as comunidades e engajá-las em ações que visem à conservação do ambiente. Pensando nisso, foram realizadas junto aos diversos segmentos da sociedade, OPPS de educação ambiental, com a participação de membros da comunidade, educadores, parceiros e facilitadores dos Municípios do Corredor de Biodiversidade (MCB).

No ano de 2004, quando da aplicação dessas Oficinas, os educadores e a comunidade participante solicitaram apoio e orientação para o reconhecimento da biodiversidade encontrada localmente. A formação dos GOB foi iniciada entre os meses de abril e maio de 2005, nos municípios de Serranópolis e Mineiros, ambos localizados na região sudoeste do estado de Goiás e partícipes no projeto MCB Emas-Taquari.

Foram formados dois grupos, um em cada município, constituídos por 13 e 18 pessoas, respectivamente. A faixa etária variou entre crianças, jovens e adultos. Antes de saírem a campo, os participantes receberam capacitação técnica sobre as atividades propostas relacionadas à observação de mamíferos e aves, à educação ambiental e à conservação da biodiversidade.

Capacitação

As capacitações técnicas compreenderam duas fases: uma direcionada a abordagens teóricas com duração de um dia, e outra para as expedições em campo com dedicação de dois dias. A fase teórica serviu de base para as atividades de campo e de orientação para adoção de conduta responsável no dia-a-dia, a respeito das questões ambientais. Nesta etapa o conteúdo ministrado abordou técnicas de observação e identificação de aves e mamíferos, educação e interpretação ambiental, biodiversidade brasileira e do bioma cerrado, além de metodologias de estudo e práticas de conservação desses grupos e da diversidade biológica de forma geral.

Para ministrar os conteúdos teóricos foram reunidos todos os participantes, ao passo que para as saídas a campo, foram formados pequenos grupos que visitaram diferentes locais entre áreas urbanas e naturais, resultando desta forma, em várias pequenas excursões. As saídas a campo e as discussões teóricas não se restringiram a um encontro apenas, mas vêm se estendendo até a atualidade.

Atividades de campo

Com base em mapa e imagem de satélite da região foram estabelecidas as áreas para as atividades de campo, de forma que fosse contemplado o máximo de fitofisionomias presentes no Cerrado durante os percursos do GOB. Tais áreas foram definidas de forma participativa correspondendo, em Mineiros, sua área urbana (áreas verdes como Matinha do Monjolo e Matinha do Santos) e áreas naturais, as quais consistiram basicamente de propriedades rurais. Em Serranópolis foram realizadas atividades de campo através de expedições terrestres e fluviais envolvendo áreas naturais localizadas na Região da Campeira, Pousada dos Guardiões e Rio Verdinho.

Os materiais utilizados para a observação e registro de mamíferos e aves foram binóculos, cadernetas e guias de campo, máquina fotográfica, trena, régua, gesso em pó para confecção de contramoldes de rastros de mamíferos, receptores GPS (Global Positioning System) para a anotação das coordenadas geográficas das áreas e dos animais encontrados.

Confecção de contramoldes

Para a obtenção de réplicas dos rastros dos mamíferos foram feitos registros fotográficos e em seguida confeccionados contramoldes em gesso. Este método consiste no preparo de uma massa de gesso colocada sobre o rastro escolhido e previamente delimitado com uma fita plástica em PVC. Posterior à secagem da massa, a fita é retirada e o contramolde é removido do substrato. Esses contramoldes quando pressionados sobre terreno argiloso, massa de modelar ou outros substrato adequado, reproduzem com exatidão os rastros correspondentes (Becker e Dalponte, 1991).

Ao final das expedições os grupos se reuniam, como fazem atualmente, para apresentação das espécies observadas, para troca de informações e reflexões sobre a conservação da biodiversidade do Cerr

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