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Renovação e Conservadorismo no Serviço Social

Por:   •  17/8/2022  •  Resenha  •  6.396 Palavras (26 Páginas)  •  170 Visualizações

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Universidade Federal do Triângulo Mineiro

Suyanne Héria Vieira de Souza

Resenha

Renovação e Conservadorismo no Serviço Social

Uberaba 2021

Em uma obra completa desde a renovação do Serviço Social e a sua herança conservadora Marilda Villela Iamamoto nos apresenta em quatro capítulos um panorama geral desse processo, incluindo a apresentação que é feita por José Paulo Netto outro grande nome onde o mesmo nos diz como o regime de abril já não conseguia mais reproduzir-se graças ao adensamento da resistência democrática dinamizada na segunda metade dos anos 1970 pela reinserção da classe operária na cena política, é somente então que a renovação do Serviço Social entre nós gira. O giro mais notável e mais perceptível é a interlocução com a tradição marxista, é a interlocução com o pensamento marxista que confere ao Serviço Social no Brasil a sua carta de cidadania intelectual.

Sabe-se que o começo da profissão é bastante conturbado e de forte influência da igreja católica, o conservadorismo tem estado presente na profissão desde os primórdios permanecendo até os dias atuais. As grandes mobilizações da classe operária nas duas primeiras décadas do século levaram o debate da “questão social”, atravessando toda a sociedade e obrigando o estado, as frações dominantes a igreja se posicionarem diante dela. Como dito pela autora e como já se sabe a igreja a encara segundo os preceitos estabelecidos nas encíclicas papais, fonte inspiradora das posições de programas assumidos diante dos “problemas sociais”. Para a igreja “questão social”, antes de ser econômico-política, é uma questão moral e religiosa. A sociedade é tida como um todo unificado, através de conexão orgânicas existentes entre seus elementos, que se sedimentam pelas tradições, dogmas e princípios morais de que a igreja é depositária. Para a igreja Deus é a fonte de toda a justiça, e apenas uma sociedade baseada nos princípios cristãos pode realizar a justiça social.

Incorporando esses princípios, o Serviço Social surge da iniciativa de grupos e frações de classes dominantes que se expressam através da igreja como um dos desdobramentos do movimento do apostolado leigo. Essas ações eram geralmente realizadas por mulheres da alta sociedade como uma forma de caridade, baseada na fé. Um ponto importante que vale mencionar é que as associações assistenciais do militantismo católico constituem as bases organizacionais e humanas mais importantes para a emergência da profissão no Brasil. Entre elas pode-se citar a associação das senhoras brasileiras fundada em 1922 no Rio de Janeiro a liga das senhoras católicas criada em 1923 em São Paulo. Dessa forma em 1932 é fundado o centro de estudos de ação social entidade feminina, que toma a iniciativa de criar a primeira escola de Serviço Social do Brasil, em São Paulo, 1936.

O Serviço Social é uma profissão inscrita na divisão socio técnica do trabalho, Iamamoto diz então que a profissão não se caracterizava apenas como uma nova forma de exercer a caridade, mas como forma de intervenção ideológica na vida da classe trabalhadora com base na atividade assistencial seus efeitos são essencialmente políticos, o enquadramento dos trabalhadores nas relações sociais vigentes reforçando a mútua colaboração entre capital e trabalho, o que a diferencia da caridade tradicional onde é vista apenas como mera reprodutora da pobreza, o Serviço Social como profissão na época propõe uma ação educativa entre a família trabalhadora numa linha não apenas curativa mais preventiva dos problemas sociais, o Serviço Social se propõe ainda uma ação organizativa entre a população trabalhadora dentro do programa de militância católica contrapondo-se às iniciativas provenientes de lideranças operárias que não aderem ao associativismo católico, portanto tais elementos sinteticamente expostos permitem subsidiar a afirmativa de que o Serviço Social emerge como uma atividade com bases mais doutrinárias que científicas no bojo de um movimento de cunho reformista-conservador.

Assim sendo a autora continua, dizendo que o Serviço Social mantém seu caráter técnico-instrumental voltado para uma ação educativa e organizativa entre o proletariado urbano, articulando o discurso humanista, calcado na filosofia aristotélico-tomista, aos princípios da teoria da modernização presente nas ciências sociais. Assim sendo esse arranjo teórico-doutrinário oferece ao profissional um suporte técnico-científico, ao mesmo tempo em que preserva o caráter de uma profissão especial, voltada para os elevados ideais de “serviço ao Homem”.

Para fundamentar essas afirmativas Iamamoto nos retoma algumas características do pensamento conservador, portanto, o conservadorismo moderno que supõem uma forma peculiar de pensamento experiência prática, é fruto de uma situação histórico social específica: a sociedade de classes em que a burguesia emerge com o protagonista do mundo capitalista. Este é o ambiente sociológico do conservadorismo moderno. Ainda segundo ela a fonte de inspiração do pensamento conservador provém de um modo de vida do passado, que é resgatado em proposto como uma maneira de interpretar o presente e como conteúdo de um programa viável para a sociedade capitalista. Os conservadores são assim “profetas do passado”.

O conservadorismo não é assim apenas a continuidade persistente no tempo do conjunto de ideias construtivas da herança intelectual européia do século XIX, mas de idéias que, reinterpretadas transmutam-se em uma ótica de explicação e em projetos de ações favoráveis à manutenção da ordem capitalista. Isso aproxima os pensamentos conservador e racional, apesar de suas diferenças, como portadores de um mesmo projeto de classe para a sociedade, tal análise segundo a autora não deve-se esquecer das peculiaridades do pensamento conservador e de sua presença nas ciências sociais contemporâneas para a compreensão do Serviço Social esse que nasce e se desenvolve embebido em idéias conservadoras, incorporando as ambiguidades do reformismo conservador.

Explorando um pouco mais das características do pensamento conservador bem como coloca a autora, podemos dizer o que se destaca a sua vocação para o passado, terreno, germinativo da inspiração para a interpretação do presente. O passado é experimentado como virtualmente presente, o conservador pensa a base do “nós”; o indivíduo não é uma partícula isolada é atomizada na sociedade, mas é parte de unidades mais amplas, dos grupos sociais básicos. Reage a toda a igualdade externa, que desconheça as particularidades individuais; dessa forma como diz a autora radicaliza-se a individualidade: os homens são serem essencialmente desiguais, portanto particulares. O conservador elabora o seu pensamento como reação às circunstâncias históricas idéias que se afiguram ameaçadoras a sua influência na sociedade. O conservadorismo torna-se consciente, no plano da reflexão, como defesa, decorrente da necessidade de armar-se ideologicamente para enfrentar o embate das forças oponentes.

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